Roupas divididas e rolê de XR3 conversível: Mancini lembra amizade com Neto
Todo grande jogador, treinador ou comentarista teve que começar em algum lugar. No caso de Neto e Vagner Mancini, o começo foi nas categorias de base do Guarani, nos anos 1980. O UOL Esporte ouviu histórias da amizade do hoje apresentador da Band com o técnico do Corinthians, que há mais de 30 anos chegaram a dividir peças de roupa antes de terem o privilégio de passear por Campinas com o carro da moda.
Mancini e Neto se conheceram no sub-17 do Guarani, em 1983. Eles moravam juntos no alojamento do clube, no Estádio Brinco de Ouro da Princesa, e ali conviveram por vários anos e fortaleceram a amizade.
"Algumas vezes, quando eu voltava do colégio, percebia que algumas roupas não estavam no meu armário", conta Mancini. "Na primeira vez assustei, achei que alguém tinha roubado; quando, de repente, chega o Neto no alojamento com minha jaqueta, a calça... Isso se repetiu por diversas vezes. Era uma fase difícil para todos nós, morávamos no alojamento e formávamos uma verdadeira família", lembra o hoje treinador do Alvinegro.
Os dois têm idade bem próxima — apenas um mês e 15 dias de diferença —, mas a trajetória de José Ferreira Neto, o mais velho, foi mais precoce do que a do amigo. O camisa 10 chamou a atenção no Guarani ainda aos 17 anos, estreando cedo como profissional e despertando interesse de diversos clubes. Ele acabou emprestado ao Bangu no segundo semestre de 1986, então aos 20 anos, e quando voltava para casa fazia a festa com os amigos.
"Nessa época, ele comprou um carro novo, um [Ford Escort] XR3 conversível. Sabe o que ele fez na primeira folga que foi para Campinas? Foi lá no Brinco de Ouro e chamou os amigos. Fomos todos passear pelas ruas da cidade", conta Mancini, divertindo-se. "O Neto sempre teve um coração enorme e ajuda os amigos até hoje. Muita gente daquela época, que morava no alojamento, deve muito a ele", diz o treinador.
Mancini não era o único a sofrer "empréstimos forçados" de roupas a Neto. Paulo César Tosin, volante do Guarani na época, conta que passou pelo mesmo. "Eu brinco com o Neto até hoje, pergunto quantas camisetas ele está me devendo, se lembra de pegar as minhas roupas no armário", ri o ex-jogador.
"Nossos armários tinham só um cadeadinho. Eu saía para o jantar e, quando via, o Neto estava lá com a minha camiseta nova. Eu dizia: 'ô, Neto, você está de brincadeira, cara. Eu nem usei a camiseta'. E ele: 'não, depois eu devolvo'. Mas pegava e não devolvia mais", brinca Tosin, lembrando que o hoje comentarista "era meio loucão, bagunceiro e chegava já zoando todo o mundo, mas sempre gente boa".
Neto ainda passou pelo São Paulo em 1987 antes de voltar ao Guarani, mais ou menos quando Mancini vivia a sua transição para o profissional. Os dois jogaram juntos no time de cima nos primeiros meses de 1988 e foram vice-campeões paulistas antes de Neto ser contratado pelo Palmeiras naquele mesmo ano. A partir de então, os dois nunca mais foram companheiros de time.
João Paulo também viu de perto o surgimento de Neto e Vagner Mancini no Guarani. Hoje aos 56 anos, o ex-ponta esquerda do Guarani trabalha em escolinhas do clube e relembra a amizade entre os companheiros.
"O Neto sempre foi um jogador extrovertido, falava o que pensava, como é até hoje. Na realidade, éramos nós [os mais velhos] que tínhamos que cuidar deles também. O Mancini já tinha uma cabeça muito boa, muito inteligente; o Neto já era bem mais extrovertido, falava o que queria, não pensava muito para falar as coisas", compara João Paulo.
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