Scarpa conta trunfo de Abel: "Sabemos literalmente tudo que fazer em campo"
Antes com poucas oportunidades no Palmeiras e quase negociado nas últimas duas janelas de transferências para o Almería (ESP) e Al-Nassr (SAU), Gustavo Scarpa admite que chegou a "desencanar" de 2020. Bastou a chegada de Abel Ferreira, porém, para que o jogador considere viver o seu melhor momento desde que chegou ao clube, em 2018.
Jogando com frequência e com boas atuações, o camisa 14 recuperou a confiança e deu muitos méritos ao técnico português. Scarpa disse ao UOL Esporte que "pela primeira vez" a equipe sabe o que precisa fazer em todas as etapas de uma partida. O estilo de jogo tendo mais a bola, também, joga a favor.
"Ano passado, eu estava bem na Libertadores, fui artilheiro [do time, com seis gols], jogando bem, mas este ano está sendo diferente. Porque, talvez, seja a primeira vez que eu e a grande maioria entra em campo e sabe literalmente tudo que tem de fazer. Como atacar, como defender, bola parada. E por mais que a estratégia não dê certo, que a parte tática acabe dando errado, a gente tem um estilo de jogo consistente, estamos vencendo bem as partidas. E colocar a bola no chão, tentar jogar, com a qualidade dos jogadores que têm aqui é primordial", contou.
Na entrevista, o palmeirense contou como foi mudar de posição e atuar até como lateral esquerdo, deu detalhes sobre o trabalho no dia a dia com Abel e sua comissão e o momento que antes imaginava que só iria viver "em sonhos" na Academia de Futebol.
UOL Esporte: Vendo a festa e a reação no vestiário depois do jogo contra o Libertad, como define o atual momento do Palmeiras?
Gustavo Scarpa: Muito legal, mesmo. A equipe teve dificuldades neste ano, mas estamos crescendo na hora certa, muito felizes com a classificação, as atuações da equipe e individuais, também. O crescimento da equipe é nítido para todo mundo. O Abel tem total mérito. Temos de entender que não ganhamos nada, temos jogos extremamente difíceis pelos próximos dois meses. É continuar focado e fazer nosso melhor.
A gente vê pelos vídeos de bastidores e por aquilo que vocês postam nas redes sociais, o ambiente parece muito leve internamente. Ainda que ouçam muito no vestiário a música Rita (do cantor Tierry), que você não gosta (risos)...
Não dá para ser perfeito, né? (risos) Mas o ambiente está muito mais leve, não só pela questão das vitórias, mas pela personalidade da comissão, eles deixam o ambiente leve. Ele (Abel) deixou de jogar recentemente, sabe como funciona o dia a dia, o que ajuda e o que não ajuda. Isto tem sido primordial para o nosso bom momento. E fazer o quê? As músicas no vestiário são "mal demais", não tenho nenhuma oportunidade, mas "de boa", fico com meu fone. Os moleques deixam o som muito alto, tem que ser fone grande (risos).
Que tipo de música você gosta de ouvir antes dos jogos?
Eu curto rock, curto louvor, às vezes um rap. Mas, o que toca naquela caixa, eu não curto, isto é certeza (risos).
Todos falam da importância do Abel neste momento, e a impressão é de que a parte mental e a confiança têm influência, é um diferencial agora. Você é um caso específico disso, concorda? É um dos grandes motivos para a sua boa fase?
Eu acho que o mais importante para ter confiança é a sequência de jogos. Com a sequência de jogos, as vitórias vêm junto, une uma coisa a outra. Você acaba crescendo. Eu percebo no meu jogo individual e no coletivo da equipe. Sem dúvida, a parte mental é importante, mas é influenciada pelas vitórias. Não sei se é só nossa cultura, se em outros lugares é assim, mas vejo que as pessoas estão se fortalecendo mentalmente, porque a equipe está jogando bem. Temos um jogo estratégico bem definido, vencemos e o mental acaba fortalecido.
Desde que você chegou, o Palmeiras teve sucesso atuando de forma mais direta e depois passou por dificuldades para tentar a mudança. Agora, com mais posse e uma estratégia mais agressiva, ajuda no seu crescimento, também?
Nossa, demais. Eu sonhava em chegar nesta época de a gente conseguir colocar a bola no chão ao máximo, tentar explorar as melhores características de cada um. Vem dando muito certo. Não tem como sair jogando toda hora, jogar sempre com a bola no chão, são jogos extremamente difíceis, contra equipes qualificadas. Mas estamos tentando ao máximo, todos estão percebendo, colocar a bola no chão e jogar, ter uma troca de passes efetiva. Isto tem ajudado muito, não só eu como a equipe.
A dobradinha com o Viña tem funcionado bem, às vezes ele joga mais por dentro e você fica praticamente em cima da linha lateral. E
não era costume vê-lo pela esquerda no Palmeiras...
A gente está tentando unir as minhas melhores características com o Viña. A minha parte ofensiva com a parte defensiva dele, que é sensacional. Tem dado muito certo. No Fluminense mesmo, eu jogava pouco pelo lado esquerdo, era estratégia mais quando a gente queria colocar a bola na área. Para mim fica bom para cruzar (por ser canhoto), mas sempre joguei pelo lado direito, meia pela direita, mas estou gostando da posição. As vitórias ajudam, as boas atuações, mas adaptar rapidamente a uma nova exigência tática é muito legal. Estou gostando "para caramba", até de lateral me senti à vontade. Estava me sentindo bem, foi melhor do que a expectativa que criaram. Estou feliz demais pelo momento, mas com pés no chão, porque o momento, se não conquistarmos o título, não terá valido nada. Cabeça boa para buscar os títulos.
O Abel falou que fez um exercício durante o treino, e você aceitou se sacrificar para jogar na lateral esquerda em meio aos desfalques. Como foi isso?
Na verdade, ele fez um exercício, para o pessoal falar a posição que mais gosta de jogar. Na lateral só tinha o Viña e ele perguntou se alguém se colocava à disposição. E aí o Renan foi, eu também. E no fim do dia, ele me chamou e disse: "já se colocou à disposição, então se prepara". Eu falei: "demorou". E deu certo (risos). Fui bem, fiz gol, "mó" feliz. Momento bom de novo, consistente, não apenas aleatório. Está sendo legal, meu momento mais legal no Palmeiras no jogo coletivo, e espero que a gente possa crescer mais.
O Abel, depois do jogo contra o Libertad, se culpou por Zé Rafael não estar jogando bem. E no seu caso, chegou a falar que você poderia atuar na seleção como lateral. O quão importante é o jogador fazer um sacrifício pela equipe e receber os méritos publicamente?
A gente acaba ganhando mais confiança. Boas atuações acabam fortalecendo a mente do jogador e eu fico feliz pelo reconhecimento. Feliz pelo Zé, que, assim como eu, é muito questionado e vive um excelente momento. Extremamente trabalhador, 100% do bem, que merece o melhor e fico feliz por ele. Quando a gente tem o feedback do treinador, da comissão, alegra muito e dá confiança. É legal ele colocar em outra posição, sabendo que ali não é a tua e que se der errado, não vou dizer que é culpa total dele, mas saber que não é sua função e que dificilmente vai conseguir desempenhar algo muito bem ali. Diferente de ser colocado em outra posição e ser cobrando como se fosse ponta e quisessem que eu fosse tão rápido quanto o Veron ou o Rony. Como ponta, as características são diferentes, o jogo vai mudar. Isto de saber que se ele mudar de posição talvez não jogue tão bem, mas só de se colocar à disposição é de se dar os parabéns, isto é muito legal.
Como é a relação da comissão técnica no dia a dia com os jogadores?
É muito legal. Ele e os auxiliares são gente boa e inteligentes. O mais legal na comissão dele é que vai para a bola parada, algumas estratégias e ele às vezes não participa, mas os auxiliares vêm e falam a mesma coisa. Chega o João (Martins), dá uma dica, e cinco ou 10 minutos depois, o outro vem falar literalmente a mesma coisa. Então dá para ver que são muito entrosados e isso facilita demais nosso dia a dia, para todos os jogadores entenderem o que eles querem que a gente faça.
Você esteve perto para sair no começo do ano e também na janela de meio de ano. Talvez você nem imaginava mais viver este momento no Palmeiras, não?
Já tinha desencanado (risos). Já tinha entendido que este não seria o ano, mas agradeço demais a Deus. Às vezes, a gente reclama de um momento ou outro, mas as coisas acontecem no momento certo. Temos de nos reinventar na dificuldade e foi muito bom ter a cabeça boa em um momento delicado, de desconfiança, um momento ruim, mas passou, graças a Deus.
Neste momento a parte mental influencia muito, negativamente, não?
Muito. Mente vazia, você faz vários filmes na cabeça, pensando que tudo vai dar errado, é daqui para pior. Chega uma hora que precisa tomar conta da mente e vamos para cima. Foi o que pensei para passar o momento difícil. Não tem o que reclamar, se não é para ser, não vai ser, mas vou fazer o meu e uma hora vai acontecer. Graças a Deus foi mais rápido do que eu imaginava e melhor do que eu imaginava.
O Palmeiras tem um elenco que antes estava sendo muito criticado e agora recebe elogios, podendo conquistar os três títulos que restam na temporada. Até onde vocês podem chegar?
Eu acredito que a gente tem condição, sim, de brigar pelas três competições. Acho muito difícil, mas com a confiança que a comissão passa para a gente e nossa confiança, acho que é possível. Mas precisamos saber que será muito difícil, as boas atuações anteriores dão mais confiança, mas na prática se não mostrar, se não fizer por merecer, não adianta nada. Temos de continuar focados e em busca de títulos, que tanto sonhamos.
Há dois anos, eu perguntei se você era meia ou ponta direita. Agora pergunto: você é meia, ponta direita, ponta esquerda ou lateral esquerdo?
Se naquela época eu já tinha dúvida, imagina agora (risos).
E por que a selfie no gol com o Raphael Veiga e o Rony?
Coisa do Veiga... viagem, né, mano? O Rudy (Pracidelli, preparador físico) fez uma selfie no banco com o Rony em algum jogo e saiu na televisão. O Veiga falou: "se sair um gol, vamos tirar uma selfie em homenagem ao Rudy". Foi isso. Bobeira, né, mano? Nada a ver (risos). Mas pelo menos isso (ficou boa a foto). Aquela "boleirada" (risos).
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