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Brasileirão - 2020

Retas finais do Brasileirão desde 2006 acumulam surpresas e viradas

Adriano e Petkovic segura troféu personalizado para o título brasileiro de 2009 - Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Adriano e Petkovic segura troféu personalizado para o título brasileiro de 2009 Imagem: Ricardo Nogueira/Folha Imagem

Rafael Serra

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/01/2021 12h00

Faltam apenas 10 rodadas para o fim do Brasileirão 2020. A competição, que teve seu início adiado em mais de três meses em virtude da pandemia da covid-19, entra em sua reta final tendo como líder o São Paulo, que tropeçou ontem (6) diante do Red Bull Bragantino e pode ver sua vantagem na liderança encurtada para quatro pontos ao final da rodada (28ª).

Embora a matemática garanta ao Tricolor do Morumbi um justificado favoritismo ao título, a história do atual formato do Campeonato Brasileiro, que não se altera desde 2006, demonstra que viradas e demais surpresas são plenamente possíveis.

As duas mais conhecidas, e únicas que culminaram em títulos, aconteceram nas edições de 2008 e 2009.

Arrancada recorde jamais repetida

Em 2008, a 10 rodadas do fim, o Palmeiras ocupava a liderança com 53 pontos, mesma cifra do segundo colocado Grêmio. O São Paulo, então bicampeão vigente, estava em quarto, a quatro pontos da primeira posição. No entanto, após somar o maior número de pontos de um postulante ao título em todas as edições da Série A desde 2006 — 26 em 30 possíveis —, o Tricolor paulista garantiu o tri na última rodada ao vencer o Goiás, em Gama, por 1 a 0.

O Grêmio, que somou 19 pontos nas dez rodadas finais, foi o vice, três pontos atrás do São Paulo. Já o Palmeiras, líder ao final da 28ª daquele ano, conquistou apenas 12 pontos dos 30 em disputa e terminou na quarta posição.

Decepção alviverde e campeão mais improvável da era dos pontos corridos

No Brasileirão de 2009, o Palmeiras era novamente o líder na 28ª rodada, mas parecia muito mais credenciado ao título que no ano anterior. Comandado pelo então vigente tricampeão nacional com o São Paulo, Muricy Ramalho, e cheio de jogadores renomados, o Verdão somava 54 pontos, cinco a mais que o rival Tricolor, segundo colocado. O jejum de 15 anos sem títulos brasileiros parecia próximo do fim.

Entretanto, o que se viu a partir dali foi o pior retrospecto de um postulante ao título na história do Brasileirão de pontos corridos, um cenário praticamente oposto ao vivido pelo São Paulo na temporada anterior. Com apenas oito pontos conquistados em 30 possíveis nas últimas rodadas, o Palmeiras terminou a competição em quinto, atrás de Cruzeiro, São Paulo, Internacional e... Flamengo.

Se hoje considerar o Rubro-Negro carioca como favorito ao Brasileirão soa como chover no molhado, essa não era bem a realidade há pouco mais de 11 anos. Com uma equipe talentosa, mas oscilante, o Flamengo era apenas o sexto colocado, com 10 pontos a menos que o líder Palmeiras, a 10 rodadas do fim da Série A. A partir desse momento, a parceria entre Petkovic e Adriano Imperador, que havia voltado da Europa há pouco meses e começava a se aproximar de sua melhor forma física, começou a falar mais alto.

Com 23 pontos conquistados em 30 possíveis, o Mengão voltou a comemorar um título brasileiro após 17 anos e, de quebra, registrou a maior virada para um título da história do atual formato da competição, já que transformou uma desvantagem de 10 pontos em uma "gordura" de dois para o segundo colocado. Usada como referência, essa marca ajuda a manter vivas as pretensões de Atlético-MG, Flamengo, Grêmio, Internacional e Palmeiras, todos eles com 12 pontos ou menos de distância para o Tricolor paulista e com um ou dois jogos disputados a menos.

Matemática a favor

O São Paulo, porém, tem mais exemplos para se manter otimista que o contrário. Em 2015, por exemplo, o rival Corinthians liderava o Brasileirão na 28ª rodada com os mesmos sete pontos de vantagem que o time de Diniz tem hoje sobre o Galo. Por coincidência, a disputa também foi travada contra o Atlético-MG. No fim das contas, a distância corintiana acabou aumentando para 12 pontos, com o título sendo confirmado ainda na 35ª rodada.

Além disso, outro fato impressiona ainda mais e ajuda a dimensionar o tamanho do atual favoritismo são-paulino: todos os times que lideravam na 28ª rodada venceram o título de 2009 para cá.

Ainda assim, não há melhor forma de se precaver que voltar a vencer.

Confira abaixo algumas curiosidades sobre as retas finais do Brasileirão:

Média de pontos dos campeões

A média de pontos somada pelos campeões nas últimas 10 rodadas do Brasileirões desde 2006 é de 20,3 pontos. A melhor marca, já citada no texto, é a do São Paulo de 2008, que conquistou 26 pontos em 30. Já as piores são do próprio Tricolor, que em 2007 foi campeão mesmo após somar somente 14 pontos na reta final, e do Corinthians de 2017, que também somou os mesmos 14 pontos, sendo que muitos deles foram conquistados após o folclórico desabafo/cobrança feito pelo ídolo Neto em seu programa Donos da Bola.

Tendência de aumento de vantagem na liderança

Em dez das 14 edições do Brasileirão disputadas em pontos corridos com 20 clubes, a vantagem do líder na 28ª rodada acabou ampliada ao final da competição. Isso só não aconteceu nas duas viradas, de 2008 e 2009, e em outras duas oportunidades. Na primeiras delas, em 2012, o Fluminense tinha seis pontos de vantagem para o Galo a 10 rodadas do fim e terminou o campeonato com cinco. Já em 2017, o Corinthians tinha nove pontos de vantagem para o segundo colocado Grêmio e terminou a 38ª rodada com os mesmos nove pontos de vantagem sobre o Palmeiras, vice-campeão.

Régua alta puxada pelo Flamengo de Jorge Jesus

A edição do Brasileirão que registrou a melhor campanha da história da competição no atual formato, também viu batidos recordes pelos demais postulantes ao título. Apesar da distância de 16 pontos para o campeão Flamengo, a maior da história, Santos e Palmeiras somaram 74 pontos, cifra que jamais havia sido registrada por clubes que não venceram o título. Tal marca seria suficiente para os rivais paulistas levantarem a taça em 2017, 2011, 2010 e 2009.