Atacante ex-Palmeiras conviveu com ratos antes de se firmar na Bundesliga
A noite ainda era absoluta quando Victor Sá se virou de lado na cama do alojamento do União São João de Araras, antiga equipe do interior de São Paulo. Nos cantos do local um som característico podia ser ouvido pelo atacante e seus colegas: ratos infestavam o local. O jovem Victor ainda dormiria várias noites ali, seguindo um sonho que o levou à primeira divisão da Alemanha, uma das ligas mais poderosas do mundo.
Victor Sá foi revelado pela base do Palmeiras, mas não teve espaço no Verdão — que estava longe de viver a época de ouro de hoje, com chances aos meninos. Emprestado, Sá rodou pelo interior do Estado atuando na última divisão paulista e também na série A-3.
"Comecei na base em São José dos Campos, no futsal, no time da cidade. Migrei pro futebol de campo no projeto Primeira Camisa, do Roque Jr. A partir daí, fui evoluindo e joguei duas Copinhas, fiz testes em alguns times, mas não passei: no Figueirense e no Fluminense. Na Copinha de 2012, eu fui bem, e o Palmeiras me contratou. Evoluí muito em questão de saber as coisas, em um time grande e morando longe de casa. Tive alguns erros, não estava muito focado no futebol, mas cresci a partir disso. Sou muito grato ao Palmeiras. Não deu certo lá por questões de que às vezes não dá certo mesmo em base de time grande, não era como hoje que dá chance aos meninos. Começaram a me emprestar", contou Victor Sá, em entrevista ao UOL Esporte.
Joguei uma 'Bezinha' pelo União São João de Araras e foi quando bateu o desespero. Dificuldade, alojamento muito ruim, comida muito ruim, passava algumas dificuldades muito doidas, pode se falar. Em Araras, eu pensei em parar. Jantava cinco horas da tarde com comida fria, ruim, tinha rato nos alojamentos, banheiro sem água, bem complicado."
Atuando pelo São José dos Campos na Série A-3, Victor Sá viu uma oportunidade surgir no improvável futebol da Áustria. Ele começou na segunda divisão, mas em pouco tempo se destacou aos olhos dos poderosos vizinhos da Bundesliga, primeira divisão da Alemanha.
"Com força de vontade as coisas deram certo, joguei uma A-3 e surgiu oportunidade de ir para a Áustria. Fiz um teste de 15 dias para a segunda divisão austríaca e passei. Idioma complicava muito, mas tentei aprender o inglês o mais rápido possível e, depois, o alemão. Hoje, falo os dois."
Sá ainda viveu dificuldades, mesmo depois de chegar na Europa. Vivendo na Áustria, o atleta economizava ao máximo para ajudar a família no Brasil.
"Todo dinheiro que eu tinha, mandava pra minha mãe. Cheguei na Áustria pra ganhar muito pouco, mas, mesmo assim, mandava o máximo pro Brasil. Passava o mês com 200 euros. Depois de um ano e meio fui para a primeira divisão e tive uma atuação muito boa. Fui artilheiro e surgiu interesse de três clubes da Alemanha. Escolhi o Wolfsburg pelo projeto", contou.
Na Bundesliga, o atacante atuou em 41 partidas na primeira temporada e fez cinco gols. O Wolfsburg terminou em sétimo e se classificou para a Liga Europa. Neste ano, o atacante já balançou as redes três vezes em 14 jogos. Ele aprendeu na Europa a atuar como ponta esquerda, mas aparecer bastante dentro da área para balançar as redes.
"Sempre fui atacante em si, mas cheguei a jogar de meia e hoje atuou como ponta aberto pela esquerda. Quando vim para a Europa aprendi a chegar mais na área como ponta esquerda, a gente evolui bastante taticamente na Europa. Procuro chegar bastante na área e fazer gols, foi o que eu me destaquei mais. É o que me diferencia. Não existem muitos pontas que entrem na área para finalizar hoje", opinou.
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