Fla vê mau desempenho para além do campo e política interfere em mudanças
A derrota por 2 a 0 para o Ceará acendeu o barril de pólvora e gerou um "day after" de profunda reflexão no Flamengo. Os tropeços em sequência acenderam um alerta e ampliaram o debate para além do que ocorre nas quatro linhas.
As reuniões durante a segunda-feira (11) entre dirigentes rubro-negros tiveram como objetivo avaliar a gestão do futebol e a performance do time. Isso colocava na berlinda tanto o técnico Rogério Ceni quanto o vice-presidente de futebol Marcos Braz. Há críticas duras da cúpula do clube ao trabalho desenvolvido no futebol, e o presidente Rodolfo Landim e seus pares mais próximos investigam as causas para o fiasco.
Como pano de fundo, há também a disputa entre o vice-presidente de relações externas, Luiz Eduardo Baptista,o Bap, e Braz. Atuando como mediador, o presidente Rodolfo Landim está bastante irritado com a performance do time, mas é menos radical do que Bap na avaliação do departamento de futebol. Tanto que, em um dos jogos em que o Flamengo sofria no Maracanã, o presidente pediu para Bap reduzir o tom das reclamações.
Ao mesmo tempo, Landim sabe que, se retirar Braz, ganha um adversário político para eleição no final do caso de fato decida concorrer à reeleição. Fiel ao atual mandatário, o vice de futebol ainda tem uma voz importante de comando no Ninho do Urubu, e uma mudança poderia ser fatal para a sequência do ano no campo e nas urnas.
No final, como saldo, as reuniões abordaram vários dos problemas enfrentados pelo time e elenco, mas não houve corte de cabeças. Ficou claro a todos que será necessário uma correção geral de rumos dentro do departamento de futebol. Há uma crença de que o técnico Rogério Ceni não tem o controle total sobre o elenco rubro-negro, mas um novo voto de confiança foi dado.
Os principais caciques rubro-negros concluíram também que as questões não estão emperradas apenas por conta do comando técnico, visto que Ceni é o terceiro ocupante do posto desde julho de 2020. A análise é que Domènec Torrent, antecessor do ex-goleiro, enfrentou problemas enormes para conduzir seu trabalho. Em seu período no clube, o espanhol, além de conviver com a sombra de Jorge Jesus, lidou com um surto em massa de Covid-19, convocações para a seleção brasileira e a disputa de três competições simultâneas. Sem estas pedras no caminho, a crença é que Ceni encontre o caminho das vitórias.
O treinador tem a seu favor o trabalho do dia a dia, embora os resultados não se traduzam em campo. Em sua maioria, os jogadores aprovam o nível dos treinos, mas há algo de diferente no clima no Ninho. A sensação é de que o time perdeu a capacidade de mobilização e ainda não reencontrou o apetite por taças que resultou em um Flamengo avassalador em 2019.
"A queda do moral do time é a parte mais difícil. Temos de tentar competir cada vez mais. O talento existe, mas temos de colocar isso em prática junto com o poder de competição. Se competirmos mais, como competimos nos treinamentos, acho que teríamos mais chance de chegar às vitórias. Temos de produzir mais. Eu, como treinador, tenho de encontrar soluções. E os atletas têm de competir mais", disse Ceni.
Embora os rubro-negros tenham optado pela trilha da continuidade, o clima é de muita cobrança. Nas redes sociais, Ceni já foi "condenado" por grande parte da torcida. Na Gávea, ele viu muitos de seus créditos irem embora com a campanha decepcionante no Brasileiro e as quedas na Copa do Brasil e na Libertadores.
"No futebol não existe garantia. É a única garantia que eu te dou: que no futebol não existe garantia. Você tem de conquistar isso com os resultados dentro de campo. E até agora os resultados são poucos, são frágeis, são ruins perto do que esse time pode produzir", completou o ex-goleiro.
Com o time em queda livre, a aposta pelo prosseguimento é de que elenco e comissão técnica juntem os cacos para uma reação imediata. Se o título já parece um objetivo mais improvável, uma vaga direta na Libertadores deste ano é tratada como obrigação para os antes favoritos ao caneco.
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