Novo presidente quer Inter com 200 mil sócios e "mais digital do Brasil"
Alessandro Barcellos assumiu, no início deste ano, o cargo máximo do Inter. Presidente para o próximo triênio, ele vive uma situação atípica, de tomar posse com a temporada em andamento. Aos poucos dando início aos seus projetos, o mandatário é fiel às propostas de campanha, mira 200 mil sócios até o fim do ano que vem e quer o Colorado como "clube mais digital do Brasil".
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Barcellos falou também sobre o futebol, Abel Braga, Taison, e o objetivo de utilizar, cada vez mais, ciência e dados na hora de buscar reforços. O presidente mira quebrar paradigmas, fugir dos jogadores "oferecidos", descobrir talentos, minimizar falhas e adaptar qualquer movimento à realidade financeira vermelha.
"Temos um objetivo dividido em dois propósitos: títulos e equilíbrio econômico-financeiro. Tendo isso ao final dos três anos da nossa gestão, nossa missão estará cumprida", disse.
Início da gestão, promessas de campanha
"Vamos trabalhar sempre tendo como guia aquilo que construímos com os movimentos políticos e o que apresentamos para o associado e o torcedor, esse é nosso guia, Sempre falamos que, quando tivéssemos dúvida sobre o encaminhamento a ser tomado, nos socorreríamos disso, por isso escrevemos diretrizes, para não ter dúvida, definir prioridades. Desde como vamos fazer futebol, como é a função e o comportamento do dirigente no clube, as funções profissionais executivas e políticas, para que não tenha confusão de papéis, para que todos que forem convidados tenham objetivos, metas, e uma forma de comportamento condizente", comentou o mandatário.
E é exatamente isso que está acontecendo. As chegadas de Paulo Bracks (executivo de futebol) e Julinho Camargo (gerente de transição) mostram o apreço pela base e a ideia de melhorar os processos de reforços.
"Quando pensamos em fazer utilização da base, de ciência de dados, buscamos profissionais que estejam plenamente capacitados e envolvidos com este modelo. Não poderia trazer um profissional com perfil diferente, mesmo que existam excelentes, mas que tenham o perfil de ter uma agenda com agentes, com oferta de jogadores e oportunidades. Isso até existe, mas não é prioritário para nós, é secundário. Queremos descobrir jogadores, não sermos demandados", explicou.
Método de contratação: utilização de tecnologia
Para reforçar o time, o Inter quer quebrar paradigmas. O método de "tentativa e erro" está fora dos planos. O objetivo é utilizar dados, dividir escolhas e, dentro de um cenário conjunto e embasado em informação, minimizar falhas. "Este método de tentativas e erro, acho que isso vai acabar porque gera um grande desperdício de recursos", afirmou.
"Precisamos chegar (aos jogadores) antes dos principais adversários do país, e de fora. Por isso, precisamos descobrir e lapidar talentos. Podemos buscar um atleta jovem que não esteja 100% preparado, mas investindo na preparação dele, em qualquer aspecto, tático, técnico, ali na frente possa se tornar um jogador diferenciado. Este olhar precisa estar presente, na base ou no mercado. Neste ponto o Julinho Camargo é um profissional que construiu sua carreira lapidando talentos reconhecidos pelo mundo", acrescentou.
Além disso, o clube mira a utilização de dados estatísticos para aferir características e capacidades de um eventual alvo.
"Olhamos jogadores surgindo, até em regionais de menor expressão, divisão inferiores, e com ferramentas de monitoramento podemos fazer comparativos, desenhos de performance deste atleta o comparando a um 'jogador modelo'. Por exemplo, queremos um atacante de área que jogue semelhante a um determinado jogador, utilizamos uma busca específica em dados de passes, chutes, posicionamento, que nos aproxima do atleta que pretendemos. Aí se faz uma análise técnica, se contextualiza, obviamente, quais jogos ele está disputando. Se observa as condições. Mas as informações auxiliam no que você pretende. Isso traz segurança para uma tomada de decisão", explicou.
É possível contratar um 'medalhão'?
Mas o apreço pelas categorias inferiores não tira o Inter do caminho dos grandes negócios. Segundo o presidente, esta porta não pode estar fechada, ainda que precise se adaptar à realidade financeira do clube.
"Temos que ser muito transparentes com o torcedor. Vamos detalhar a situação financeira depois de uma imersão a ela. Mas não só a condição, e sim a solução que queremos. Não somos adeptos da 'tese da depressão'. Nossa tese é a da transparência. Estamos sendo conservadores para não gerar uma ilusão de que teremos grandes contratações. Partimos de uma base consistente, tanto que lutamos pelo título do Brasileiro. Mas estamos atentos ao mercado. Se tiver uma situação de negócio que possibilite um movimento mais ousado sem que comprometa o futuro do clube, principalmente com chance de saídas de jogadores, a gente vai fazer. Não fechamos nenhuma porta. Mas não vamos gerar expectativas que não possamos cumprir", disse.
200 mil sócios e "o clube mais digital do país"
Para contornar a complicada situação financeira e fugir de vez da 'tese da depressão', Barcellos tem em mente um plano arrojado para fazer o Inter chegar a 200 mil sócios. Atualmente o clube tem pouco mais de 100 mil. O prazo para isso é o fim do ano que vem, mas a meta é atingir o objetivo antes do previsto.
"Precisamos chegar ao final do ano que vem, no máximo, com 200 mil sócios. Tentaremos acelerar ao máximo nossas condições para 'colocar o bloco na rua'. Queremos, como objetivo final da gestão, colocar o Inter como clube mais digital do Brasil", contou.
"Temos que levar experiências aos associados que não estão aqui, que não tem condições de estar nos jogos. Temos um estudo que mostra que este torcedor tem total condição de estar no plano de sócio que contribui com R$ 25 por mês. E por que não faz isso hoje? Porque nosso único produto é a ida ao estádio. Queremos dar outras experiências, relacionamento com o clube, com conteúdos, contato com atletas, experiências visuais, vídeos, oportunidades, aproximação, um vestiário mais aberto para o sócio", contou.
"Hoje há um desequilíbrio entre receita e despesa. A despesa que bate na nossa porta todo mês precisa estar ao menos igual à receita, e hoje é maior. Porque assim, a receita extraordinária que tivermos com a venda de atletas, não será levada para despesas recorrentes e sim para o reinvestimento no futebol, que significa um time mais forte e competitivo", disse. "Precisamos encharcar o Rio Grande do Sul de Inter, estar em tudo que é canto. Com um plano de sócios ousado, diferente do que sempre se fez", completou.
Abel Braga, Taison, Miguel Ángel Ramírez
Abel Braga é o treinador do Inter, e até quando? Bom, essa pergunta Alessandro não irá responder agora, a relação com o técnico é positiva, há elogios repetidos ao comando dele e negativa para qualquer acerto com Ramírez. E Taison vem ou não? Outro tema que ele trata sem pressa.
"Eu nunca tinha trabalhado com Abel. Encontrei um cidadão, um treinador e uma pessoa maravilhosa. Ele tem uma capacidade de agregar muito grande, é o forte dele, junto com capacidade técnica e conhecimento de futebol. É um treinador que se sente à vontade no Beira-Rio, no Inter, e isso facilita demais o trabalho dele. A gente nota como ele está entusiasmado, e isso contagia o grupo. A química está dando certo. Quando assumimos, mesmo com compromissos de rupturas e mudanças, percebemos isso e o Inter é nosso maior objetivo. Vimos que o clima é muito bom", contou.
"Nosso treinador, hoje, é o Abel Braga. Tem contrato até o fim da temporada. O restante são especulações. Durante o período eleitoral fizemos alguns contatos, poderíamos assumir o clube com situações diferentes, abrimos o leque, mas o Inter tem treinador", continuou.
"O Taison tem manifestado interesse em voltar ao Inter, não seria razoável que não buscássemos este contato com ele. Primeiro, porque tem um potencial incrível, é um grande jogador do futebol mundial, identificado, que tem este interesse. Depois, é uma conversa de alinhamento de expectativas, para produzir algo bom para o atleta e dentro da realidade do clube. Depende de outras conversas, e ele tem contrato até junho, tem compromisso com o clube, o que não significaria uma chegada imediata. Isso nos dá condição de irmos tratando do tema dentro do tempo necessário. Não avançamos, mas a medida que tivermos avanço, confirmando ou não, vamos comunicar", disse.
É possível ser campeão brasileiro? O Inter trabalha para isso.
"Estamos trabalhando para sermos campeões. Ganha o Inter, ganha a torcida, ganham os atletas, a comissão técnica, é um reconhecimento ao trabalho. E quem está ali, entre eles o treinador, é responsável por isso. Queremos ganhar, vamos trabalhar para ganhar, só falamos em ganhar porque quando mentalizamos isso, ajuda a buscar a vitória. Respeitamos todos os adversários, sei que será muito difícil, a disputa está muito parelha. Sobre a comissão técnica, vamos falar depois. Uma avaliação que ocorria sempre no fim do ano, agora ocorrerá em fevereiro, porque é a nova realidade. Temos que trabalhar com o que é bom para o Inter. Vamos tomar as decisões necessárias somente depois, a partir das análises que fazemos. Tudo dependerá desta reta final e vamos trabalhar muito para que seja boa e positiva", finalizou.
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