Bravo e violento? No Santos, Alison lidera vestiário com risos e empatia
Quem vê Alison em campo, marcando forte, dando entradas perigosas e jogando no sacrifício, mal consegue imaginar quem é ele fora das quatro linhas. Alguns arriscam dizer que ele parece ser bravo e quieto, mas a realidade é bem diferente. O volante do Santos é o cara brincalhão, que puxa assunto com qualquer pessoa. Até com o Seu Vasco, o faz-tudo do CT Rei Pelé, com quem ele resenha sempre que pode.
O 'Major', como é chamado pelo goleiro Vladimir, um de seus melhores amigos da vida, gosta de estar próximo das pessoas que fazem parte do seu dia a dia. Nem as cozinheiras escapam da resenha de Alison. Algumas até viram ele crescer, literalmente, dentro do clube.
"Ele tem um carinho e respeito muito grande. Temos muito tempo de casa e os funcionários, a gente chama eles de pessoal do apoio, que nos dão suporte, tias da cozinha, da limpeza, o Vasco... A gente conhece todos desde a base. Temos carinho e essa aproximação porque são excelentes profissionais e pessoas da maior qualidade. São pessoas anônimas, mas que fazem de tudo para que a gente possa estar bem. Treinar bem, pessoas que fazem com que possamos aproveitar toda a estrutura do clube. Damos muito valor, olhamos mais o lado humano do que o profissional", disse Vladimir ao UOL Esporte.
Mas não é que os jogadores do Palmeiras possam esperar ver esta faceta do jogador de 27 anos quando a decisão da Libertadores começar hoje (30), às 17h, no Maracanã. Aí é a hora de a versão mais pública do jogador entrar em cena.
4% é muito?
Hoje o camisa 5 vive seu melhor momento no Santos. Não somente dentro de campo —já que o volante também diminuiu os cartões amarelos—, mas nos bastidores se tornou fundamental para o elenco.
Alison é o cara do diálogo forte, do apoio. Que levanta, aplaude e incentiva. É o braço direito do técnico Cuca e quem fez com que todos mentalizassem um só número e um lema: "4% é muito". Ele diz que foi uma estatística que teria sido estipulada por especialistas para definir a possibilidade de o Santos eliminar o Boca Juniors pela semifinal. Em discursos aos companheiros de vestiário, passou a repetir, então, com ironia: "4% é muito para a gente".
"Nesse momento acho que ele está desfrutando de tudo isso. A confiança a gente não compra, não ganha da noite para o dia. O Cuca sabe bem quem é o Alison, trabalhou com ele na primeira passagem do clube. Sabe do caráter, perfil e da representatividade que ele tem para o elenco. Ele tem muito tempo de casa, é um cara que sente a dor do próximo, curte o bom momento do próximo também. Sempre está junto. Vai ser uma alegria enorme se a gente for tetracampeão da Libertadores e vê-lo levantando a taça", explica Vladimir.
Depois das lesões, um susto
É por isso que a notícia de que havia contraído a covid-19 deixou muita gente preocupada na Vila Belmiro. Por pouco o jogador não ficou fora da final. Ele foi diagnosticado no último dia 15, mas cumpriu quarentena, superou o vírus e conseguiu retornar em tempo, depois de uma intervenção do departamento jurídico. Seria uma decepção, e tanto.
Em sua trajetória pelo Santos, o meio-campista já ficou afastado do time por mais tempo, assim como viveu longos períodos de desconfiança no Peixe. Assim que realizou a sua estreia em 2011, por exemplo, Alison sentiu problemas no joelho direito. Aos 18 anos, ele tinha rompido o ligamento. Foram mais de seis meses ausente dos gramados e a primeira de muitas cirurgias pela qual passaria.
O retorno não foi dos melhores, e o jogador teve poucas oportunidades para mostrar serviço. Por não atender às expectativas, o presidente da época, Modesto Roma, optou por estender o contrato, porém, emprestá-lo ao Red Bull Brasil —não confundir com o Red Bull Bragantino— para adquirir condição física e ritmo de jogo.
O joelho direito ainda é uma coisa que o preocupa muito. Já são quatro operações e, no segundo semestre de 2020, antes da covid, ele sofreu nova lesão no ligamento, que o afastou por dois meses. Dessa vez, porém, ao menos não foi necessária a intervenção cirúrgica, mas apenas um tratamento conservador.
"Outras [situações marcantes] que não foram tão legais foram as lesões dele, eu tentava escrever algumas mensagens para confortar e motivar ele e eu não conseguia. Fiquei horas, digitava e apagava, procurando as palavras, porque eu sentia a mesma dor. Mas queria passar que estava com ele que estávamos juntos nos momentos bons e ruins. Essas situações marcaram, vimos nossa amizade evoluindo cada vez mais", conta o goleiro santista.
Inspiração
Assim como Alison, Vladimir também passou por altos e baixos no CT Rei Pelé. Após a saída de Vanderlei e a contratação de Everson, —atualmente no Atlético-MG— o goleiro viveu a expectativa de se tornar titular, mas acabou quebrando o mindinho do pé e se afastando do gol. Consequentemente, os garotos João Paulo e John ganharam sequência.
A vontade de desistir até passou pelos pensamentos do reserva, mas ele mudou de ideia ao lembrar das superações de seu melhor amigo.
"Sou fã dele. Já pensei em desistir algumas vezes, mas olho para ele e vejo o quanto ele é forte. O quanto superou e deu a volta por cima. Olho para ele e vejo só superação. Vejo um cara que escolhi para ser meu irmão passar por tantas dificuldades e não desistiu. Pego ele como exemplo", afirma.
Longe da imprensa
É notável a distância que Alison tem com a grande mídia. São raras as entrevistas que ele faz, mesmo em alta no Santos. Inclusive, com o Santos em uma final de Libertadores, a única aparição do capitão foi no Jornal Nacional, no dia seguinte ao jogo em que o Peixe se sagrou finalista na competição continental. "A gente tem noção do tamanho e da responsabilidade que é. Vamos lutar com unhas e dentes para conseguir esse título", disse.
Apesar de não se sentir à vontade com os jornalistas, o principal motivo não é esse, mas por cautela e postura. O camisa 5 prefere conversar com os jogadores "em off" e agir dentro de campo com o grupo.
"A gente conhece ele muito bem. Às vezes as pessoas têm o seu jeito de pensar, de agir, ele é muito cauteloso. A gente conhece mais ele, ele é um cara que gosta de falar menos e fazer mais. Fica mais preocupado em tomar atitudes do que estar apenas falando. Dependendo dos momentos, ir na imprensa, falar e falar, e dentro de campo não corresponder", disse o goleiro.
"Ele prefere falar um pouco menos e corresponder mais. Se doa ao máximo. Também tem um pouco de timidez. Com a gente, no dia a dia, ele se sente à vontade. Mas junta as duas coisas, cautela e timidez. Esse lado de falar um pouco menos e fazer mais. É o perfil dele."
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