Faltam 50 dias: o que a seleção faz num intervalo tão grande sem jogos?
A seleção brasileira entrou em campo pela última vez em 17 de novembro, quando venceu o Uruguai por 2 a 0 e manteve 100% de aproveitamento em quatro rodadas das Eliminatórias para a Copa do Qatar. A próxima partida será contra a Colômbia em 25 de março, daqui a 50 dias. Perante um período tão grande é normal que uma dúvida apareça: como aproveitar o tempo?
Três pontos explicam em resumo a atuação dos profissionais da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) ao longo destes 128 dias entre um jogo e outro: observação de jogadores pessoalmente e por vídeos; logística para os próximos jogos das Eliminatórias; e até uma viagem ao Qatar para encaminhar detalhes já pensando em 2022. O UOL Esporte explica abaixo cada um.
Observação
A convocação para os jogos contra Colômbia (25/3, fora de casa) e Argentina (30/3, na Arena Pernambuco) será feita em 5 de março. Até lá é tempo de observar jogadores que estão despontando, reavaliar opiniões anteriores e acompanhar mais de perto as certezas das listas. Ainda mais porque este é o último grande hiato de jogos num ano que terá, além das Eliminatórias, Copa América e Olimpíada. Será preciso montar três seleções em um período curto, então o máximo de informações reunidas agora ajuda.
Tite tem três auxiliares (Cleber Xavier, César Sampaio e Matheus Bachi), além de dois analistas de desempenho (Bruno Baquete e Thomaz Koerich). Nos últimos meses, todos se dedicaram a assistir vídeos de jogos nas plataformas de scout e, até agora, 17 jogos foram vistos presencialmente —todos no Brasil. Flamengo e Palmeiras são os times que mais tiveram atenção da comissão técnica da seleção, seguidos pelo Santos.
"Normalmente estaríamos nesse momento viajando para a Europa para acompanhar jogos, visitar clubes, conversar com atletas e comissões, mas só podemos fazer isso no Brasil. A ida aos jogos serve para ver o clima, movimentações táticas, estratégias, observar movimentos dos treinadores e também de jogadores, dentro de um radar de cerca de 40 nomes que definimos observar depois do último jogo", explica Cleber Xavier.
Os profissionais da seleção fazem testes para covid-19 às terças-feiras e depois se reúnem três dias por semana para debater as observações — chamam a esse processo de "democratizar informações". Nestes encontros é que se discutem as qualidades dos jogadores, comportamentos sem bola que só a audiência in loco ajuda a desvendar e até adaptações de atletas a diferentes funções. Ou seja, um período longo de observações torna mais possível que novidades apareçam nas convocações.
A gente distribui uma lista, e cada um fica responsável por um determinado número de atletas. A função é ir afunilando, acompanhando os jogos, in loco ou por ferramentas. Fazemos relatórios e debatemos em reuniões. Em cima disso vamos no nosso modelo e do adversário que vamos jogar, porque não temos tempo para treinar. Trocamos imagens com atletas, montamos algo para que, quando se apresentem, já saibam as forças e fraquezas de quem vamos enfrentar, o que esperamos fazer e qual a parte deles."
César Sampaio, auxiliar técnico da seleção brasileira
Um dos jogos observados pela comissão foi Palmeiras 1 x 0 Santos, pela final da Libertadores. César Sampaio elogiou cinco jogadores horas antes da partida: Weverton e Gabriel Menino, do Palmeiras, e convocados quatro vezes em 2020, além dos santistas Lucas Veríssimo, Diego Pituca e Marinho, jamais chamados para a seleção. Lembrando que o zagueiro Veríssimo, a caminho do Benfica (POR), e Pituca, que vai jogar no futebol japonês elo Kashima Antlers, se despediram do clube praiano após a decisão.
Além disso, existe uma parte que Tite chama de "gestão humanizada", que supõe manter contato com os jogadores para criar um ambiente de intimidade. O jogador que está no radar da seleção e se machuca, por exemplo, recebe uma mensagem de força. O que ganhou um título, os parabéns. Por fim, há o trabalho interno para avaliar erros e acertos dos últimos jogos e, assim, montar treinamentos para corrigir e aperfeiçoar pensando nos próximos jogos.
"Discutimos alguma coisa de Copa América, Copa do Mundo, logística, detalhes. Mas o foco é sempre nos próximos jogos, em cima de Colômbia e Argentina, olhar os últimos jogos e fazer análise para conhecê-los detalhadamente. A Argentina tem o mesmo treinador e forma de jogar há um tempo, temos que detalhar. Mas a Colômbia vem com mudança de treinador, então temos que estudar o Reinaldo Rueda, ver jogos anteriores da Colômbia e também do Chile para perceber ideias. Disso se prepara material para mostrar aos atletas", conta Cleber Xavier, antes de completar:
E mesmo com tudo isso até um dia antes da convocação ficamos com 25 a 28 atletas para escolher 23 (risos)."
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Logística
O coordenador da seleção masculina principal Juninho Paulista deverá ir ao Recife nas próximas semanas vistoriar a Arena Pernambuco, para onde está programado o próximo jogo como mandante, contra a Argentina. Como não há possibilidade de receber torcedores pela pandemia, o foco da seleção na escolha dos estádios das Eliminatórias é o gramado, a estrutura local e a logística dos deslocamentos —cinco dias antes o time joga na Colômbia.
Os jogos seguintes serão em junho, contra Equador (em casa) e Paraguai (fora), dias 3 e 8. O local do primeiro ainda não está confirmado, mas deve ser na Arena Fonte Nova, em Salvador. É esperada uma vistoria em abril, pois o estado do gramado já foi um problema. Sobre presença de público a situação é imprevisível — em março não haverá. Em junho, não se sabe.
Este jogo de 8 de junho, aliás, tem chances de ser antecipado para o dia anterior. É que a Copa América disputada na Argentina e na Colômbia começa dia 13 para o Brasil, mas não paralisa os campeonatos de clubes, então há a possibilidade de jogadores não serem liberados, ao contrário do que acontece nas Eliminatórias. Assim, será preciso que Tite faça duas convocações diferentes - a segunda no dia 8.
Qatar-2022
Apesar de a vaga na Copa do Qatar não estar definida, é protocolar que as principais seleções escolham com antecedência qual será sua base no país-sede em relação a campos de treinamentos e hotéis. A ideia é ter prioridade nas escolhas. Por isso, a CBF já enviou representantes três vezes, sendo a última entre os dias 17 e 22 de janeiro. Matheus Bachi, auxiliar da seleção, foi para avaliar elementos técnicos, como vestiários e gramados.
Em 2019 foram visitados 13 "base camps" depois de triagens por fotos, vídeos e informações disponibilizadas pela Fifa na internet. O Brasil inscreveu duas opções, mas em 2020 foram abertas novas possibilidades, e a comitiva brasileira decidiu rever suas escolhas e colher mais informações. Uma reunião nos próximos dias definirá se o país manterá as opções prévias ou fará trocas.
* Colaborou Thiago Ferri
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