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No país da Copa, imigrantes jogam críquete e ignoram Mundial no Qatar

Para os imigrantes de Bangladesh, jogar críquete interessa mais do que futebol e o Mundial - Tiago Leme/UOL
Para os imigrantes de Bangladesh, jogar críquete interessa mais do que futebol e o Mundial Imagem: Tiago Leme/UOL

Tiago Leme

Colaboração para o UOL, em Doha (Qatar)

10/02/2021 04h00

Enquanto Bayern de Munique, Tigres, Palmeiras e Al Ahly se preparam para disputar os jogos finais do Mundial de Clubes, nesta quinta-feira (11), no Qatar, muita gente no país não tem a menor ideia que o torneio está acontecendo. Imigrantes de três nações na Ásia Meridional, que formam quase metade da população do país, têm outra preferência.

Entre os 2,8 milhões de habitantes do Qatar, cerca de 1,3 milhão de pessoas que moram no país-sede da Copa do Mundo de 2022 vêm da Índia, Bangladesh e Nepal. E nesses lugares, o futebol está longe de ser o esporte mais popular. Lá, o críquete é a paixão nacional, modalidade que cada vez mais passa a fazer parte também do dia a dia desta região do Oriente Médio.

Nesta terça-feira (9), a reportagem do UOL conversou com um grupo de cerca de 30 bangladeshianos, que estavam reunidos jogando críquete em um gramado perto da Corniche, a orla de Doha. Questionados sobre o Mundial de Clubes da Fifa estar acontecendo neste momento na cidade, quase nenhum deles tinha conhecimento do evento. Durante o bate-papo, um deles até citou a presença do Bayern de Munique para disputar "um torneio", mas sem saber exatamente qual era e nem mais detalhes.

Copa do Mundo ou Mundial?

"A Copa do Mundo é só ano que vem", disse um deles, para logo depois receber a explicação que em 2022 será o campeonato de seleções nacionais, e agora o que acontece é uma Copa do Mundo de clubes.

"Ouvi falar que o Bayern estava aqui para disputar um torneio, mas não vi nada na cidade sobre isso. Estamos vivendo um período difícil por causa do coronavírus, não tem turistas aqui, então, talvez por isso não divulgaram muita coisa", completou.

Com tacos, luvas e bolas na mão, os fanáticos pelo críquete deixaram claro que a preferência esportiva é pela modalidade que surgiu na Inglaterra e é semelhante ao beisebol. Mas também explicaram que muita gente no país gosta de futebol. Entre eles, dois indivíduos se destacavam por estarem vestindo camisas de grandes clubes de futebol, uma do Barcelona e outra do Paris Saint-Germain.

"Gosto muito do Messi, do Neymar e de outros craques. Lá em Bangladesh, minha família torce para o Brasil. Tem muita gente também que torce para a Argentina. Mas o futebol não é popular no nosso país atualmente, antes era um pouco mais, mas nem se compara com o críquete, que é realmente o esporte que todos gostam, jogam e entendem", explicou Shadman Hossain, um imigrante de Bangladesh que trabalha em construções em Doha.

Por uma vida melhor

A maior parte dos bangladeshianos, indianos e nepaleses que vivem atualmente no Qatar trabalham como operários de obras ou outras funções que pagam baixos salários. Eles deixaram seus países em busca de uma vida melhor. Foram para um país bem mais rico e que precisou de mão de obra para a construção da infraestrutura para a Copa de 2022, incluindo estádios, rodovias, sistema de metrô e diversos outros edifícios. Entre 2013 e 2019, o número de imigrantes de Bangladesh residentes no Qatar subiu de 130 mil para os atuais 400 mil, ficando atrás apenas da Índia, com 700 mil imigrantes.

Além de o futebol não ser o esporte mais popular entre a maioria dos estrangeiros que moram no Qatar, população do próprio país também tem outras paixões. A corrida de camelos e a falcoaria são as modalidades mais tradicionais, principalmente entre os mais velhos. O futebol vem logo atrás, ganhando muitos adeptos entre as gerações mais jovens.