Fla revive 1992 e conta com "ajuda" de rival Vasco para chegar ao título
Vencer o Internacional para tentar se afastar da zona do rebaixamento à Série B. Em contrapartida, beneficiar diretamente o rival Flamengo na luta pelo título do Campeonato Brasileiro. A saia justa vivida pelo Vasco pode causar desconforto, mas não é uma novidade. Em 1992, uma vitória dos vascaínos foi fundamental para o Rubro-Negro ir à final da competição, sagrando-se campeão posteriormente em decisão contra o Botafogo.
À época, o Brasileirão ainda não era de pontos corridos. Os times disputavam uma primeira fase e os oitos melhores colocados avançavam para o quadrangular dividido em dois grupos. O Grupo A era formado por Vasco, Flamengo, São Paulo e Santos. No Grupo B, Bota, Corinthians, Bragantino e Cruzeiro.
Na última rodada da fase quadrangular, o Grupo A tinha o seguinte cenário: São Paulo (6 pontos), Flamengo (5 pontos), Santos (5 pontos) e Vasco (4 pontos). A vitória ainda valia apenas dois pontos e o critério de desempate era a melhor campanha na primeira fase, algo que beneficiava o Vasco, que foi o primeiro.
Desta forma, todos chegaram vivos ao compromisso final. O Flamengo de Júnior e companhia precisava superar o Santos e torcer para o São Paulo não vencer o Vasco. Já o Cruz-Maltino, com Bebeto e Edmundo, tinha de vencer o Tricolor e torcer por um empate entre o Rubro-Negro e o Alvinegro. O Flamengo bateu o Santos por 3 a 1, o Vasco venceu o São Paulo por 3 a 0, combinação de resultados que colocou o time da Gávea à final.
"Se fizéssemos nosso trabalho em campo, era esperar o resultado do Vasco depois. Os quatro tinham condições de ser campeão, é uma situação parecida, mas não vejo muita semelhança. Eram grupos de quatro, o Flamengo tem de pensar em fazer o resultado em cima do Corinthians para depois torcer para o Vasco contra o Internacional", disse ao UOL Esporte o ex-atacante rubro-negro Nélio.
Torcida do Vasco pediu para entregar
A parte mais curiosa desta história ocorreu por volta dos 20 minutos do segundo tempo das duas partidas, quando o Vasco vencia por 2 a 0 e o Flamengo havia feito também 2 a 0 sobre o Santos. Neste momento, boa parte dos vascaínos em São Januário entoaram gritos de "entrega", cientes de que dificilmente o Peixe iria empatar o jogo com os rubro-negros.
"O torcedor se apega mais a isso [rivalidade] do que nós jogadores. Estávamos fazendo nosso papel. O São Paulo tinha um timaço com Raí, Palhinha, Cafu, Muller... Nós sabíamos que seria um jogo difícil, mas começamos a jogar bem, as jogadas encaixando e aí, no segundo tempo, o torcedor começou a gritar para entregar, mas, obviamente, não íamos fazer isso. Depois acabou o Flamengo se classificando, mas foi pelo mérito dele", lembrou o ex-volante Leandro Ávila, que estava em campo pelo Vasco naquela partida.
Pelo lado do Flamengo, o ex-goleiro Gilmar Rinaldi relembra o clima que antecedeu a partida contra o Santos, destacando a liderança de Júnior, hoje comentarista da TV Globo e que foi o grande personagem daquela conquista. "Lembro bem do clima, das recomendações e de todos sendo comandados pelo Junior: 'vamos fazer a nossa parte e esquecer o outro jogo'. Foi o que fizemos e aconteceu".
Segundo Gilmar, a estratégia foi a de não consultar o placar do jogo entre Vasco e São Paulo para não se desfocar da partida que disputavam. "Nós não queríamos saber do resultado, sabíamos que poderia tirar nossa concentração. Quando terminou e chegou a notícia, foi um alívio", destacou Rinaldi.
"Vasco tem de pensar nele"
Diferentemente daquela ocasião, o Vasco, agora, não disputa o título e, sim, tenta fugir do rebaixamento. Para Leandro Ávila, que posteriormente também defenderia o Flamengo, o Cruz-Maltino precisa focar somente na partida contra o Internacional.
"Acho que o Vasco tem que pensar nele, pensar em ganhar do Inter. Não tem nem que pensar no Flamengo", disse.
"Os jogadores do Vasco têm algo mais importante a se preocupar do que se vão ou não beneficiar o Flamengo. Eles precisam de pontos e devem pensar exclusivamente nisso, não em gastar energia com coisas que não vão modificar a situação deles. Tem de ganhar e ponto", acrescentou Rinaldi.
Rivais centenários dentro das quatro linhas, os dois clubes mais populares do Rio de Janeiro veem seus caminhos se cruzarem novamente. Dessa vez, o "Clássico dos Milhões" pode ser de alegria para uns e alívio para outros.
FICHAS TÉCNICAS:
FLAMENGO 3 x 1 SANTOS
Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Data: 8/7/1992
Hora: 21h30
Público: 29.149 pagantes
Árbitro: Renato Marsiglia (RS)
Cartões amarelos: Wilson Gotardo (FLA); Luiz Carlos (SAN)
Cartão vermelho: Pedro Paulo (SAN)
Gols: Nélio, aos 22 minutos do primeiro tempo; Bernardo (contra), aos 13 minutos do segundo tempo; Marcelo Passos, aos 36 minutos do segundo tempo; Gaúcho, aos 45 minutos do segundo tempo
FLAMENGO: Gilmar; Fabinho, Júnior Baiano, Wilson Gottardo e Piá; Júnior, Uidemar e Zinho; Júlio César, Nélio e Gaúcho. Técnico: Carlinhos
SANTOS: Sérgio; Índio, Pedro Paulo, Luiz Carlos e Flavinho; Bernardo (Marcelo Passos), Axel e Cilinho; Almir, Paulinho McLaren e Guga (Serginho Fraldinha). Técnico: Geninho
VASCO 3 x 0 SÃO PAULO
Local: São Januário, no Rio de Janeiro (RJ).
Data: 8/7/1992
Hora: 21h30
Público: 4.586 pagantes.
Árbitro: Márcio Rezende de Freitas.
Cartão Amarelo: Luizinho (VAS).
Cartão Vermelho: Pintado (SPFC)
Gols: Bebeto, aos 10 minutos do primeiro tempo; Bismarck, a 1 minuto do segundo tempo; Edmundo, aos 24 minutos do segundo tempo (VAS).
VASCO: Régis; Luís Carlos Winck, Jorge Luís, Alexandre Torres (Tinho) e Sidney; Flávio, Leandro Ávila, Luizinho e Edmundo; Bismarck e Bebeto. Técnico: Nelsinho Rosa
SÃO PAULO: Zetti; Cafu, Antônio Carlos, Ronaldão e Ivan; Pintado, Suélio (Vítor), Raí e Macedo; Palhinha e Müller (Marcos Adriano).
Técnico: Telê Santana
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