"Tem de matar o jogo", pede Bebeto, herói do Flamengo contra o Inter em 87
Uma "final" em meio aos pontos corridos. Flamengo e Internacional se enfrentam no domingo (21), no Maracanã, em partida que ganhou ares de decisão na briga pelo título do Campeonato Brasileiro. A circunstância do confronto, porém, não chega a ser novidade: em 1987, Rubro-Negro e Colorado duelaram na final do Módulo Verde da Copa União, e a taça foi para a Gávea, tendo Bebeto como herói.
O atacante balançou a rede no empate em 1 a 1, no Beira-Rio, e fez o gol da vitória por 1 a 0, no Maracanã. O Flamengo dava a volta olímpica novamente depois de quatro anos. A conquista, porém, até hoje, é envolta em polêmicas.
Na atual edição, o Internacional ocupa a liderança, com 69 pontos, enquanto o Fla está na segunda colocação, com 68. Após a partida, restará apenas mais uma rodada, quando os cariocas visitam o São Paulo e os gaúchos recebem o Corinthians.
"Foi um dia especial. Fiz o gol, mas acho que todos foram muito importantes. Foi a realização de um sonho. Eu tinha sido campeão pelo Flamengo em 83, mas aquele título foi maravilhoso. Era um time muito forte. Depois, cinco foram tetracampeões do mundo: eu, Leonardo, Aldair, Zinho e Jorginho. Tínhamos um time forte, com linhas bem definidas, e tínhamos o Zico, meu ídolo. Estávamos muito preparados para aquela final", disse, ao UOL Esporte.
"Estávamos preparados para aquele jogo. Em 87, eu era titular, já jogando pela seleção e, em campo, senti um grupo muito forte, muito unido. Fiz o gol, que foi importante, mas ninguém ganha nada sozinho", completou.
Uma das grandes lembranças de Bebeto daquele jogo foi a massiva presença da torcida. O Maracanã, naquela tarde, recebeu 91.034 torcedores, mesmo em um dia chuvoso. O atual cenário, em meio à pandemia de coronavírus, porém, não permite a presença de torcedores nos estádios, o que Bebeto lamenta.
"A decisão foi no Maracanã e, apesar de ser um dia de chuva, a torcida foi em massa. Aquele jogo aconteceu em um dia chuvoso, mas o Maracanã estava lotado. A torcida do Flamengo faz a diferença e, infelizmente, o Maracanã vazio se torna neutro. Essa pandemia nos traz uma tristeza muito grande em diversos aspectos. E acho que Flamengo, Internacional e todos os times de massa têm sentido bastante em jogar sem torcida".
A ausência da torcida, inclusive, é um fator que fez com que Bebeto considerasse a atual edição do Brasileiro como sendo ainda mais complicada aos times.
"Um campeonato muito difícil, sem torcida. O jogo é um momento especial de todos nós jogadores, assim como os atores, músicos. Jogar sem público é um negócio impressionante. Eu parei de jogar faz tanto tempo [2002], mas fico imaginando entrar em campo sem torcida. Esses caras têm sido uns guerreiros. Fazer aquilo que gosta já é uma alegria, mas sem a torcida, sem esse empurrão... Tem dias que você acorda e vê que não está legal e, nestes dias ruins, tem ali a torcida para empurrar", afirma.
O tetracampeão do mundo pela seleção brasileira, em 1994, acredita que o confronto entre Flamengo e Internacional será equilibrado e ressalta que Abel Braga e Rogério Ceni, outrora, estavam sob críticas. Ele afirmou ainda que o time da Gávea não poderá desperdiçar oportunidades como fez em algumas partidas recentes.
"O Inter vem mantendo uma regularidade grande e [o Flamengo] vai ter de tomar cuidado. Abel e Rogério... Futebol é isso, tem de ter paciência, deixar o cara trabalhar com calma. Os dois times estão bem. Vai ser um jogo difícil. Acho que o Rogério encontrou o time ideal, mas a equipe do Abel é bem forte, se defende bem e faz boa transição. Em um jogo como esse, não pode perder as oportunidades que tiver de matar, não pode perder os gols que tem perdido. Tem de matar o jogo, é decisão."
Bebeto não esconde a torcida pelo clube da Gávea e avisa:
"Eu sou Flamengo. Para mim, 1 a 0 está ótimo. O recado do Flamengo é que cresceu na hora certa. Então, quando deixam chegar, é, realmente, complicado."
Campeonato polêmico
O Campeonato Brasileiro de 1987 rende polêmica até hoje por diversos motivos, dentre eles a "briga" entre Flamengo e Sport sobre o legítimo campeão e, por reflexo, a batalha entre o Rubro-Negro carioca e o São Paulo pela Taça das Bolinhas, troféu entregue ao primeiro clube a vencer o Brasileiro seis vezes.
Em artigo publicado em março de 2016, PVC, então colunista do UOL Esporte, explicou o que aconteceu em 87 e lembrou as divergências entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Clube dos 13, organizador daquela edição do torneio. O texto pode ser lido na íntegra aqui.
"Em 1986, a CBF prometeu mudar o sistema e criar, para 1987, a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro. Os 24 melhores de 1986 formariam a Série A do ano seguinte.
Terminado o campeonato, com o Botafogo fora da elite de 24, a CBF mudou de ideia. Primeiro, afirmou que não tinha condição financeira para promover o torneio.
Em abril daquele ano, os grandes se reuniram e fizeram o movimento que criou o Clube Dos Treze. Os fundadores (Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Bahia) anunciaram que disputariam um campeonato próprio, organizado por eles mesmos.
A CBF, então, se mobilizou e anunciou que faria o campeonato com 40 clubes. Os grandes fizeram uma composição com a CBF, mas criaram a Copa União, com a participação, também, de Santa Cruz, Goiás e Coritiba, que se juntavam aos treze de maior torcida.
A CBF criou o regulamento, que previa o cruzamento de campeão e vice do Módulo Verde (Copa União) com campeão e vice do Módulo amarelo (suposta segunda divisão).
O Clube dos 13 dizia que não disputaria o cruzamento, a CBF dizia que haveria o cruzamento. Essa confusão reforçou-se porque o representante do Clube dos 13 na CBF, Eurico Miranda, aceitou o acordo com a CBF e assinou o regulamento com o cruzamentos dos módulos.
Quando informou a direção do Clube dos 13, este recusou veementemente. O campeonato começou com a CBF dizendo que haveria o cruzamento, o Clube dos 13 dizendo que não aceitava e que não disputaria".
A CBF acabou considerando o Sport como campeão de 87. Por causa de todo este imbróglio, o São Paulo, ao vencer o Brasileiro de 2008, o sexto na história, levou a Taça das Bolinhas. Porém, uma batalha judicial se formou, uma vez que o Flamengo ainda lutava para ser considerado o campeão de 87 e, consequentemente, o primeiro hexa do país.
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