Campeões de 79 elogiam Fla, mas veem Inter mais forte coletivamente
Não há final em campeonato de pontos corridos, mas o jogo de domingo (21) tem exatamente este peso para o Internacional. Se vencer, o time gaúcho erguerá a taça do Brasileirão, algo não faz desde 1979. E foi exatamente com os campeões do último título do torneio de clubes mais importante do país pelo Colorado que a reportagem do UOL Esporte se abasteceu de opiniões sobre o duelo decisivo.
E não foi apenas um título do Brasileiro, como o Inter já tinha conquistado em 1975 e 1976. O feito de 1979 foi único e segue sem jamais ser repetido: a equipe gaúcha não perdeu uma vez sequer, conquistando o campeonato de forma invicta.
"É muito difícil comparar aquele grupo com o atual. O Inter tinha uma base, já era bicampeão brasileiro. Eu estava começando, cheguei no grupo com 17 anos e tinha jogadores experientes, como Benítez, Batista, Valdomiro, Jair, Falcão, todos com mais rodagem. Era uma equipe praticamente pronta", lembrou o ex-zagueiro Mauro Galvão.
De fato, o Inter hoje vive um jejum de conquistas nacionais, nada parecido com o que acontecia nos anos 1970. Hoje, a última taça no cenário brasileiro foi a Copa do Brasil de 1992, e desde então teve passagem pela Série B e vice-campeonatos.
"Para mim, é muito importante. Estamos sofrendo há 41 anos. Nosso último título foi aquele que conquistamos. Eu tenho um amor muito grande pelo Inter, é minha casa, joguei 13 anos ali. O torcedor cobra muito este título brasileiro. O Inter ganhou Libertadores, Mundial, mas não ganhou Brasileiro. Temos que fazer de tudo, estamos com saudade deste título", lembrou Valdomiro.
"Era outro período. Nosso time era cheio de craques que davam suporte aos que vinham chegando, o mercado era outro, os jogadores não iam tanto para Europa. Hoje, sabemos como é, quem se destaca logo vai embora", completou Batista.
"Está tudo muito igual, ninguém tem nome para ganhar na marra. Hoje, tem que jogar futebol, e o Inter está nesta situação pelo grupo. Eles merecem isso, a credibilidade da nação colorada. Se o Inter está onde está, o Abel [Braga] está de parabéns. Pegou uma bomba nas mãos [com a saída de Eduardo Coudet] e foi muito homem. Muitos não fariam o que ele fez. O time está focado, coeso, marcador, tem tudo para ser campeão", disse Jair.
Flamengo mais técnico, Inter mais coletivo
Na avaliação dos campeões que conversaram com o UOL Esporte, o Flamengo é um time melhor individualmente, mas o Inter tem a força coletiva como aliado. Um time mais coeso, aguerrido e que pode "na força" conquistar o título vencendo fora de casa.
"O Flamengo, individualmente, tem mais recursos que o Inter. Mas, como equipe, acho que não. Aí o Inter tem mais coletivo, tem mais tempo de trabalho", falou Galvão.
"O time do Inter está há bastante tempo junto. E ainda tem uma vantagem [está um ponto na frente]. Mas isso não pode ir pra dentro de campo. É ali que vamos ver quem terá condições. O futebol gaúcho tem isso de garra, de vontade, de marcação, o Inter sempre foi assim. No nosso tempo também. Nunca se esperava o adversário, sempre se marcou lá em cima, não pode deixar o Flamengo pensar", opinou Valdomiro.
"O Inter está se controlando muito bem no lado psicológico. Em 79 tínhamos isso. A gente entrava em campo para jogar e para defender uma invencibilidade. Se o Inter chegou como chegou, é porque tem chance de vencer. O Flamengo é um grande time, com jogadores diferenciados, mas o conjunto do Inter é muito forte. Nisso está na frente", disse Batista.
"Se fala muito em pressão, que na Europa se marca pressão, isso nós fazíamos com o Rubens Minelli [treinador] em 1976. E depois o Ênio Andrade continuou em 79. É o que o Inter tem que fazer. Se pegar a bola no campo do adversário, é meio caminho andado", opinou Jair.
Atenção ao fora de campo
Para ele, o time gaúcho precisa cuidar principalmente com o extracampo. Situações de arbitragem, de pressão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), tudo pode favorecer o Rubro-Negro, como já ocorreu no passado.
"O problema é que é contra o Flamengo. No fim de semana, houve um pênalti que não foi (para o Vasco). Se fosse gol, o Flamengo praticamente seria campeão. Tenho medo disso aí, de querer ganhar fora de campo, na marra. O Flamengo é muito forte na mídia, na CBF, em outros lugares", contou.
"Joguei desde o infantil no Inter, e não me lembro uma vez sequer de ter vencido o Flamengo no Maracanã. Era sempre um pênalti e um cartão vermelho. Mesmo com times fortes, nunca vencemos. Eu acredito que temos que tomar cuidado com isso, e muito cuidado", continuou. "Já tiraram o nosso zagueiro, Cuesta, naquele amarelo do pênalti, tudo em jogada ensaiada, tudo para ajudar o Flamengo", disparou.
Benefício da falta da torcida e "matar o jogo"
Para o grupo de 1979, o Inter será beneficiado pela falta da torcida e precisa sair para "matar o jogo".
Todos os times gostam de jogar em casa por causa da torcida. Não vai ter isso agora, está eliminado. É conhecer o gramado, se adaptar e jogar", disse Batista. "O mais difícil para o Inter é o time do Flamengo. Não vai ter torcida, o campo é bom, o estádio tem todas as condições. E com isso o Inter pode se beneficiar. Além de ser um time de característica de contra-ataque. E o Flamengo gosta de jogar no campo do adversário. Roubando a bola e saindo em velocidade, oportunidades vão aparecer, só não pode esperar o tempo todo", completou Galvão.
"Eu sempre acho que o melhor é nunca deixar para depois. Quando eu jogava, se desse para 'matar o bicho' antes, a gente matava. Não pode deixar para depois, não. A gente sabe que o Flamengo é um grande time, tem jogadores experientes, de seleção brasileira, chilena, um grande time. Não podemos desprezar eles, não. Mas domingo tem que matar. O cavalo não passa encilhado muitas vezes. Quando ele passar, tem que montar e segurar", finalizou Valdomiro.
"O Flamengo é forte mas não é imbatível. Se o time tem garra, a técnica vem naturalmente. Num clássico, você precisa ser frio, mas estar pronto para agir. É assim que tem que ser, o profissional precisa treinar durante a semana, a parte tática, e na hora do jogo, querer jogar. Entrar na área, que eu chamo de paraíso, e estar disposto a fazer o que sabe", sentenciou Jair.
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