Ex-Grêmio joga em "pista de gelo" na Bulgária e usa oito peças de roupa
Ser goleiro já não é fácil naturalmente. Imagine agora, entrar em campo com o gramado totalmente coberto de gelo, numa temperatura de -8 graus, em um jogo de campeonato nacional, sem ver nem mesmo as linhas do campo. Foi por isso que passou Gustavo Busatto, ex-Grêmio. Com oito peças de roupa, encarando uma "pista de gelo", ele conseguiu não ser vazado e sua equipe venceu por 1 a 0.
O pior nem foi o frio, segundo o goleiro de 30 anos formado na base do Grêmio e que passou por Atlético-GO, Náutico, América-RN, Ituano, entre outros clubes no Brasil. Como tinha atuado no Podbeskidzie, da Polônia, o clima seria contornado. Mas a velocidade da bola, o piso molhado, a neve que não parava, isso tudo tornou o jogo contra o Slavia Sofia, pela 17ª rodada do Campeonato Búlgaro, dia 13, uma aventura.
"Foi muito diferente. Não pelo frio em si, porque já joguei na Polônia e lá também peguei temperaturas muito baixas, mas pela quantidade de neve. Foi absurdo. Eu achava que não ia ter jogo, porque as condições eram muito difíceis. Quando a bola rolou foi bem tenso, com o pessoal mais preocupado em não errar do que qualquer outra coisa. Tive que ficar me movimentando o tempo todo, para tentar me aquecer, e redobrar a atenção, porque o campo estava imprevisível. Mas graças a Deus conseguimos a vitória sem sofrer gol. Do jeito que estava, quem marcasse o primeiro gol sairia com o resultado positivo", disse Busatto ao UOL Esporte.
"Tudo muda. A grama já estava congelada e não parava de nevar, estava como se fosse uma pista de gelo. Ninguém conseguia firmar o pé direito. Imagina que o goleiro precisa do pé de apoio bem estável para saltar, para fazer os deslocamentos, para chutar, enfim, para tudo [risos]. Além da velocidade, o jogo ficou mais imprevisível. Você tinha que esperar até o último segundo para fazer um movimento e definir a ação. Eu coloquei duas térmicas por baixo da camisa, um de manga longa e uma de manga curta, uma bermuda térmica, uma calça térmica, mais a calça de jogo e duas meias. Parecia um boneco de neve [risos]", completou.
Busatto não titubeou ao definir a partida como mais difícil da carreira. Mas tudo deu certo e seu time conseguiu o melhor resultado.
"Tudo muito imprevisível. Além do que já citei antes, a neve tapava as linhas da grande área, da pequena área, a marca do pênalti, a meia-lua. Eu uso isso tudo isso como referência no posicionamento. Como não dava para enxergar direito, tinha que ficar olhando toda hora para o gol para ter a certeza de onde eu estava no campo", disse.
Adaptação na Bulgária e passado no Grêmio
Busatto está no CSKA Sofia desde 2019. Titular do time, participou de 26 jogos na atual temporada. Tem vínculo vigente até o meio de 2022 e se diz totalmente adaptado ao país europeu.
"Minha adaptação foi muito rápida. A minha e a da minha esposa. Agora temos a nossa filha também, que nasceu aqui. Eu gosto da cidade, é linda. Ter passado pela Polônia me ajudou muito nesse processo. Além de tudo, eu vim para vencer e, graças a Deus, estou conseguindo, com muito trabalho e muito esforço. Sobre o idioma local, aprendi palavras e expressões de bons costumes, de boa educação, como 'por favor', 'com licença', 'muito obrigado', e assim a gente vai se defendendo [risos]", disse.
No clube gaúcho, Busatto surgiu como grande promessa, foi eleito melhor jogador do Brasileiro sub-20 de 2009, quando defendeu uma série de pênaltis, mas em seguida não conseguiu o espaço que gostaria no principal. A forte concorrência foi um dos motivos para que o futuro tenha o levado para distante da Arena.
"Difícil dizer que faltaram oportunidades. Eu costumo brincar que quem escolhe ser goleiro, tem que saber onde está se metendo [risos]. Sempre tive uma concorrência fortíssima no Grêmio, com Victor, Marcelo... Eu guardo muito a lembrança do dia a dia, do aprendizado com todos que trabalhei. Você também aprende muito quando não joga, porque trabalha mais que todos. Lógico que todo atleta que chega ao profissional quer jogar, mas eu entendo os passos e sou feliz pela carreira que tenho, pelo momento que atravesso. Esse ano eu joguei a Liga Europa, fui eleito o melhor goleiro na seleção da segunda rodada da fase de grupos. Quebrei um recorde de tempo sem tomar gol na Liga da Bulgária. Se eu ficasse olhando para trás pensando que não joguei no Grêmio, não conseguiria desfrutar do que estou vivendo hoje. Sou muito feliz e ainda tenho mais coisas parar viver no futebol", comentou.
"A diferença cultural é muito pelas relações. No Brasil acho que o pessoal é mais próximo, mas eu não tenho nada do que reclamar daqui. Pelo contrário. Estamos muito felizes. O idioma diferente também pesa nessa questão de proximidade com os búlgaros. Eu estou estudando inglês, me comunico bem, mas falar o idioma local é diferente, a gente sabe. Sobre o futebol, um jogo muito tático, de força, de bola na área também, o que exige muito comprometimento e muita atenção. O goleiro tem que jogar bastante com os pés, algo que eu já procurava fazer no Brasil, então não precisei de muito tempo para me adaptar", acrescentou.
A característica de jogar com os pés e a capacidade de defender pênaltis ainda acompanham o jogador. "Eu comecei essa temporada pegando pênaltis aqui também. É uma característica, sim. Pela envergadura, a velocidade de reação. Me sinto desafiado nesse tipo de situação", contou.
Ainda que não seja definitivo sobre o futuro, Busatto mira se firmar no Velho Continente antes de planejar regresso ao futebol brasileiro. Porém, entende que não é o momento de se fechar para qualquer possibilidade.
"Uma coisa que eu aprendi cedo é que no futebol a gente nunca pode ser definitivo e inflexível. Eu gosto muito daqui, estou feliz e adaptado. Um dos meus sonhos era triunfar na Europa, ser importante para o meu time, e graças a Deus estou conseguindo realizar. Meu foco hoje é cumprir meu contrato até o fim. Me vejo com plenas condições de me manter aqui fora em alto nível por mais um bom tempo, mas a gente nunca pode descartar nada. Algumas pessoas ligadas a clubes do Brasil já procuraram meus empresários [Rodrigo Galatto e Bruno Junqueira], principalmente naqueles jogos da Liga Europa, mas só sondagens mesmo. Vou seguir trabalhando firme, dando o meu melhor e ver o que Deus tem reservado para mim e para minha família", afirmou.
A expectativa, então, é que novos jogos na "pista de neve" possam surgir com o uniforme revestindo um "boneco de neve".
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