Gol do Flamengo, não! Colorado que virou meme tem mais esperança neste ano

Perto dos 24 minutos do segundo tempo, Beira-Rio lotado. O Inter vencia o Santo André por 3 a 0 e estava conquistando o Brasileirão. Até que Ronaldo Angelin marcou no Maracanã. O Grêmio, tradicional rival do Colorado, levou a virada, e o Flamengo ficou com a taça da edição de 2009 do Nacional. Ali, não foi apenas o campeonato que mudou de mãos. A vida de Sinval Rodrigo Trovo, chamado pelos amigos de Didão, também foi impactada. O motivo: o nascimento de um meme.

Sinval tinha conhecido o repórter Thiago Jock semanas antes, no jogo do Inter contra o Sport, no Recife. Acostumado a viajar para acompanhar o Colorado — esteve em vários estádios do Brasil, Chile, Uruguai, Colômbia, Argentina, entre outros —, Didão foi abordado pelo jornalista da Globo, que propôs acompanhar suas reações na partida para uma reportagem do "Profissão Repórter", da TV Globo.

Depois do jogo, o repórter pegou o número de telefone do torcedor e, dias mais tarde, retomou contato para o acompanhar de novo, dessa vez pela última rodada do Brasileiro, em partida contra o Santo André, no Beira-Rio. O convite foi aceito, e Jock passou o dia com Didão e seus amigos, na tradicional preparação para os jogos, com churrasco e muito bate-papo sobre o mesmo tema: o Inter.

Veio o jogo e a criação de um meme, espontâneo, e que até hoje segue vivo no futebol brasileiro: "Gol do Flamengo, não!"

"Foi involuntário. Aconteceu o gol do Grêmio e a torcida do Inter toda comemorou. Nos pegaram comemorando o gol do Grêmio, que saiu na frente. Não tinha como não vibrar, o Inter estava sendo campeão, o estádio inteiro vibrou. Os holofotes estavam em mim [por causa da reportagem]", contou Didão ao UOL Esporte.

Enquanto o Inter vencia com facilidade, houve o empate rubro-negro, que também dava o título ao Colorado. Mas depois, a virada. Didão estava cantando no microfone da Globo, enquanto um amigo, Alan, escutava atento pelo rádio o que acontecia no Maracanã. Foi quando ele disse: "Gol do Flamengo". E Didão reagiu.

"Quando aconteceu o gol do Flamengo, foi uma casualidade, eu estava cantando, o meu amigo falou... E eu disse: gol do Flamengo, não, não", contou.

"A reportagem saiu no 'Profissão Repórter', e os gremistas e flamenguistas fizeram o meme. Era época do Orkut [rede social] e no outro dia eu tinha milhares de notificações. Virou meme, a RBS [afiliada da Globo no RS] me entrevistou", contou o torcedor, que anos antes já havia dado entrevista para Rádio Gaúcha, mas sem a mesma repercussão, claro.

"Até hoje, em lugares que eu vou, me reconhecem. No jogo entre Inter e Cruzeiro [Copa do Brasil de 2019] no Mineirão, me reconheceram entrando no estádio, pediram para tirar foto comigo. Tenho dezenas de solicitações de amizade de flamenguistas. Eu aceito, é uma brincadeira, não faz mal a ninguém, não me incomoda. Nem eu nem os torcedores que eu conheço. Ninguém fala bravo, foi uma casualidade", completou.

Esperança maior para quinta-feira

Didão mora em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre, é empresário do ramo de empilhadeiras, hoje tem 42 anos, é casado é pai de cinco filhos (dois do primeiro casamento, e três do atual). Longe dos estádios devido à pandemia de novo coronavírus, tem acompanhado os jogos de casa, e está esperançoso. Mais agora do que em 2009, principalmente porque, neste momento, o Inter não precisa da ajuda do Grêmio.

"Ontem [segunda-feira], alguns amigos estavam falando que o São Paulo não jogou nada contra o Botafogo. Eu gostei. Se tivesse vencido iria de 'sangue doce' para o jogo [contra o Flamengo]. Como perdeu, precisa vencer para entrar na fase de grupos da Libertadores. O Fluminense vai ganhar do Fortaleza, e eles [São Paulo] já tiveram uma experiência ruim em Pré-Libertadores, quando caíram para o Talleres [2019]", opinou.

"Estou muito mais esperançoso [do que em 2009]. É um jogo de igual para igual, não tem o rival envolvido, no caso o Grêmio. Eu acho que ganhamos do Corinthians. Seria o ápice, ganhar do Corinthians e nos vingar do Flamengo. Vingaríamos 2005 e 2009 no mesmo jogo", acrescentou, lembrando o Brasileiro em que o Colorado acabou vice do Timão com anulação de jogos no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

E para ajudar o Inter mesmo de longe, Didão mantém um ritual. Não veste a camisa do time para assistir à partida, e vê os jogos com a esposa, Maiara, e os filhos, João Pedro, de 8 anos, Ana Luísa (6) e Luís Antônio (3). Todos já colorados fanáticos.

"Eu tenho várias camisas do Inter, mas vejo sempre com uma camisa vermelha. Peguei este ritual de ir aos estádios, nem sempre é bom usar a camisa do time na chegada. Já aconteceu de ter que ir caminhando até o estádio, e é melhor ir com uma camisa vermelha apenas. Mas temos chance", disse.

"O Flamengo é obrigado a ganhar, dos três resultados, dois nos servem, o empate e a derrota deles. É um baita time, o São Paulo não está tão bem, mas estou confiante. É como eu sempre digo: o jogo é jogado e o lambari é pescado. Enquanto não jogar, ninguém sabe", sacramentou.