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Aos 42 anos, Prass encerra a carreira como exemplo de liderança e ídolo

Fernando Prass comemora defesa de pênalti contra Junior Barranquilla pela Libertadores 2018 - Miguel Schincariol/Getty Images
Fernando Prass comemora defesa de pênalti contra Junior Barranquilla pela Libertadores 2018 Imagem: Miguel Schincariol/Getty Images

Gabriela Chabatura

Em colaboração para o UOL, em São Paulo

25/02/2021 23h45

Na cidade de Viamão, no Rio Grande do Sul, um guri de pouca estatura tentava os seus primeiros passos no futebol como meio-campista. Inspirado pelo avô Lúcio Valdomiro, zagueiro do Grêmio Esportivo Renner, ser atleta era uma opção natural em uma família que era apaixonada por esporte. Conscientemente ou não, com apenas 9 anos, tomou a decisão que mudaria para sempre a sua vida: tornou-se goleiro. E assim surgia Fernando Prass, o homem que debaixo das traves emocionou vascaínos e palmeirenses e que, hoje (25), pela última vez, vestiu o seu instrumento de trabalho mais valioso: as luvas.

A partida entre Ceará e Botafogo, na Arena Castelão, marcou a aposentadoria de Fernando Prass, aos 42 anos, do futebol. No Vozão, seu último clube, realizou 52 partidas e foi campeão invicto da Copa do Nordeste, no ano passado. Apesar de não ter jogado hoje (25), foi homenageado antes de a bola rolar.

Apesar da jubilação, Prass deve continuar trabalhando no futebol. Embora não tenha definido qual ocupação terá a partir de agora, ele chegou a cursar dois anos da graduação em Educação Física nos tempos de Grêmio e se destacou como um dos principais articuladores do Bom Senso FC, movimento de atletas que discutia melhorias para o futebol brasileiro entre 2013 e 2016. Fora do mundo da bola, possui uma pousada na Guarda do Embaú, em Santa Catarina, denominada "Morada do Prass".

Por onde passou, Prass se comportou como exemplo de liderança dentro e fora dos gramados. Foi assim no Coritiba, Vasco e Palmeiras — sempre de maneira natural. Quem acompanhou de perto essa evolução do arqueiro foi o uruguaio Sérgio Ramirez, responsável por levá-lo ao Vila Nova-GO (2001) e Coritiba (2002 a 2005).

"O Fernando fez uma carreira fantástica, na altura do ser humano que ele é. Em um primeiro momento, ainda muito jovem no Coritiba, ele conquistou a liderança dentro de campo. E, aos poucos, com a performance técnica, foi galgando liderança diante do grupo, tomando frente a outros temas. Sempre colocando o peito na frente em diferentes assuntos, tornando assim um ícone e conquistando o respeito da torcida e diretoria. E sem nenhuma imposição", contou Ramírez, em entrevista por telefone ao UOL Esporte.

O auge da carreira no Palmeiras

A missão era substituir nada mais nada menos que Marcos — ídolo incontestável do Palmeiras e campeão com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2002. A pressão que já era enorme se somava ao fato de o clube quebrar a tradição de sua academia de goleiros e contratar, pela primeira vez, um jogador para posição em 18 anos — o último havia sido Gato Fernandez na era Parmalat, em 1994.

E o casamento não poderia ter sido melhor.

Prass chegou ao Palestra Itália em 13 de dezembro de 2012 para a disputa da Série B do Campeonato Brasileiro e, logo, se tornou em um dos pilares daquela equipe. Titular absoluto da meta palmeirense, se consagrou em 2015, quando brilhou na cobrança do último pênalti na final da Copa do Brasil, contra o Santos.

As boas atuações deram a ele a chance de disputar os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. No entanto, uma lesão no cotovelo o impediu de seguir com a seleção brasileiro e foi desconvocado — cedendo a vaga a Weverton, que futuramente viria a ser seu companheiro de clube e responsável pela perda da titularidade em 2018.

No Verdão, Fernando Prass se despediu como o oitavo goleiro com mais partidas pelo clube na história (atrás apenas de Leão, Marcos, Valdir de Morais, Velloso, Oberdan, Sérgio e Gilmar) e o segundo que mais atuou no século (superado somente por Marcos, com 392).

Os números da carreira de Fernando Prass

Ceará - 52 jogos
Palmeiras - 274 jogos
Vasco - 241 jogos
União Leiria-POR - 98 jogos
Coritiba - 193 jogos
Vila Nova - 74 jogos
Francana - 21 jogos

Títulos: Campeonato Gaúcho e Copa Sul (1999), Campeonato Goiano (2001), Campeonato Paranaense (2004), Campeonato Brasileiro Série B (2009 e 2013), Copa do Brasil (2011 e 2015), Campeonato Brasileiro (2016 e 2018) e Copa do Nordeste (2020).