Campello pede desculpa por queda do Vasco e cita 'processo de deterioração'
Ex-presidente do Vasco, Alexandre Campello se pronunciou pela primeira vez desde a concretização da queda do clube à Série B do Campeonato Brasileiro. Em carta divulgada hoje (27), ele garante não se eximir da responsabilidade que cabe à última gestão e pede desculpas pelo resultado negativo na competição. Ao mesmo tempo, diz que o "rebaixamento ao segundo escalão do futebol brasileiro vem de muitos anos" e que "recolocar o Vasco da Gama à altura de seu real tamanho requer trabalho árduo".
"O rebaixamento ao segundo escalão do futebol brasileiro vem de muitos anos. Não me eximo da responsabilidade que cabe a mim e a nossa gestão pela queda à Série B. Mas sabemos bem que o quarto descenso nas últimas dez participações do Vasco na primeira divisão do Campeonato Brasileiro é resultado de um processo antigo de deterioração administrativa e financeira do Clube, que ainda exigirá muito tempo para ser contornado", disse, em trecho do texto.
Além disso, Campello fez indagações a Carlos Roberto Osório, atual vice-presidente Geral e que, em coletiva realizada pela atual cúpula na última sexta-feira, afirmou que o Cruz-Maltino foi "saqueado nos últimos anos". No documento, o ex-mandatário aponta que se o dirigente "tem informações a respeito, deveria abri-las a todos os vascaínos" e diz que ele "adota uma postura leviana e irresponsável, que em nada se coaduna com o cargo que ocupa".
Campello contesta ainda a inclusão de seu nome em uma abertura de Procedimento Administrativa Disciplinar do Conselho Deliberativo — Roberto Monteiro, Silvio Godoi e Edmilson Valentim também são alvos. O pedido foi feito por um grupo de sócios e é baseado em atos cometidos durante o processo para a eleição presidencial, que ocorreu no ano passado.
Na carta, o ex-presidente questiona como poderia ser contra a inclusão dos anistiados na lista eleitoral se a gestão encabeçada por ele "liderou um processo de recadastramento e anistia com objetivo de ampliar a participação dos sócios e propiciar um processo decisório mais democrático".
Veja na íntegra:
"Vascaínos,
É notório que o Club de Regatas Vasco da Gama atravessa, há décadas, um momento extremamente delicado do ponto de vista financeiro, esportivo e político. O rebaixamento ao segundo escalão do futebol brasileiro vem de muitos anos. Não me eximo da responsabilidade que cabe a mim e a nossa gestão pela queda à Série B. Mas sabemos bem que o quarto descenso nas últimas dez participações do Vasco na primeira divisão do Campeonato Brasileiro é resultado de um processo antigo de deterioração administrativa e financeira do Clube, que ainda exigirá muito tempo para ser contornado.
Recolocar o Vasco da Gama à altura de seu real tamanho requer trabalho árduo, muitas vezes silencioso. À atual gestão, que recebeu de nós TODAS as informações para dar início ao seu mandato da maneira mais tranquila possível, em um processo de transição elogiado publicamente por seus integrantes, urge virar a chave do discurso raso, nitidamente de campanha, parecendo ter o intuito de ganhar tempo e afagos enquanto não consegue entregar resultados concretos.
Por esta razão, não posso deixar de expressar minha perplexidade e indignação com a declaração proferida, ontem (26/2), pelo primeiro vice-presidente geral, Sr. Carlos Roberto Osório, ao dizer que "o Clube foi saqueado nos últimos anos". O Sr. Osório deveria ser mais específico. Quais dos últimos anos? Saqueado por quem? Se ele tem informações a respeito, deveria abri-las a todos os vascaínos. Ao fazer uma afirmação desta gravidade e de forma vaga, como o fez, o Sr. Osório adota uma postura leviana e irresponsável, que em nada se coaduna com o cargo que ocupa. Primeiro por jogar para terceiros a missão de decifrar o que e sobre quem ele está falando; segundo, como consequência da primeira, por incentivar a quem ouve a imaginar de que todos aqueles que passaram pela gestão "nos últimos anos" "saquearam" o Clube.
O mais curioso é que, ao estimular esta interpretação, o Sr. Osório lança suspeições a esmo sobre integrantes da atual Diretoria Administrativa que participaram de gestões pretéritas do Clube, a começar pelo núcleo do Departamento Financeiro.
Eu tenho plena convicção de que não participei de qualquer saque. O mesmo se estende aos componentes da Diretoria Administrativa no triênio 2018-2020.
Em respeito não apenas a mim, mas a todos que passaram pela gestão do Clube "nos últimos anos", urge que o Sr. Osório se retrate e, ao mesmo tempo, seja mais específico em suas declarações. Até em benefício próprio, para que não alimente a leitura de que, na falta de algo concreto a anunciar aos vascaínos, o primeiro vice-presidente geral do Clube, com a capacidade retórica que lhe é peculiar, lança ao vento divagações ocas.
Não bastasse isso, também no dia de ontem, tomei conhecimento de que fui citado como alguém a ser "investigado" por atos administrativos supostamente cometidos durante o processo eleitoral. Essa "investigação" estaria vinculada à composição da lista de sócios aptos a votar ou serem votados no pleito de 2020, mais precisamente à inclusão ou não de anistiados.
Pois bem, em nome da verdade dos fatos, não tenho o menor problema em explicar novamente o que já disse reiteradas vezes. Por ocasião da Assembleia Geral Extraordinária referente à apreciação da proposta de eleições diretas, votei, no âmbito da Junta Eleitoral, pela inclusão dos anistiados. Fui voto vencido.
Posteriormente, quando a Junta Eleitoral voltou a se reunir por ocasião da Assembleia Geral Ordinária, não me posicionei sobre o tema por saber que, mais uma vez, seria voto vencido. Como disse publicamente à época, estava claro e flagrante, que os então presidentes do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro, do Conselho de Beneméritos, Silvio Godoi, e do Conselho Fiscal, Edmilson Valentim, estavam decididos a alijar os referidos associados da lista eleitoral.
Pergunto; como eu poderia ser contra a inclusão dos anistiados na lista eleitoral se foi a nossa gestão que, logo em seus primeiros meses, liderou um processo de recadastramento e anistia com objetivo de ampliar a participação dos sócios e propiciar um processo decisório mais democrático?
Destaco ainda que as eleições foram conduzidas pela nossa gestão de forma transparente e honesta, e que eu, tal como apontou um dos candidatos, não fiz uso da "máquina política" em benefício próprio.
Diante destes fatos, causa-me surpresa não apenas que seis conselheiros, sabe-se lá com que motivações, tenham incluído meu nome em uma requisição para a abertura de inquérito, mas, sobretudo, que o atual Conselho Deliberativo concorde em discutir esse pedido.
A impressão que se tem é de que falta coragem ao Conselho Deliberativo para punir os verdadeiros agentes políticos que, ao longo de três anos, por puro revanchismo, prejudicaram veementemente o Clube sob a necessidade única de causar desconfortos políticos, esportivos e financeiros à gestão anterior. Espero que eles tenham, de fato, o destemor tantas vezes alardeado durante a campanha eleitoral de marchar rumo aos reais adversários do Vasco.
Durante três anos, mesmo diante de tantas dificuldades, tornamos o Vasco da Gama um Clube muito melhor do que encontramos. Os resultados esportivos, infelizmente, não acompanharam outras mudanças significativas realizadas durante a nossa gestão e que serão sentidas já pela atual Diretoria Administrativa e pelas próximas que virão. Pedimos sinceras desculpas pelo rebaixamento no campo. Torcemos pelo presidente Jorge Salgado e seus pares. Todos nós, vascaínos, confiamos a eles a missão de seguir nesse caminho de reconstrução do Clube. O momento é delicado, mas pede serenidade. Generalizações devem ser evitadas sob pena de se cometerem injustiças e atuar exatamente como os que querem banir.
Muitos vascaínos se dedicaram ao longo dos últimos três anos para oferecer o seu melhor ao Clube. Generalizar é desrespeitoso e tira a própria credibilidade de quem está no controle momentâneo da narrativa.
Esperamos que a atual gestão não use de gestos irresponsáveis e acusações sem fundamento como cortina de fumaça para encobrir o impacto do rebaixamento, que dói em todos nós, e a ausência, até o momento, de medidas, sobretudo, financeiras prometidas ao longo da campanha eleitoral.
O Vasco precisa de ação e trabalho, não de parolagem irresponsável.
Alexandre Campello da Silveira"
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