Em sentença, juíza diz que vítima foi humilhada e usada por Robinho
De acordo com a juíza italiana Francesca Vitale, que presidiu o julgamento em segunda instância e confirmou a condenação do atacante Robinho e seu amigo Ricardo Falco, "a vítima foi humilhada e usada pelo jogador e seus amigos para satisfazer seus instintos sexuais".
A sentença de condenação em segunda instância a nove anos de prisão por violência sexual de grupo foi proferida em dezembro do ano passado, mas o texto veio a público na manhã de hoje (9), um dia antes de vencer o prazo legal para a publicação. A partir de agora, a defesa de Robinho deve apresentar recurso na Corte de Cassação, a terceira instância da Justiça italiana. Os advogados do jogador têm 45 dias para recorrer e já disseram que o farão mais uma vez.
Só a partir da última instância o jogador pode ser considerado culpado, segundo a Justiça italiana.
"O fato é extremamente grave pela modalidade, número de pessoas envolvidas e o particular desprezo manifestado no confronto da vítima, que foi brutalmente humilhada e usada para o próprio prazer pessoal", escreveu a magistrada, referindo-se a Robinho.
Procurada hoje, a advogada Marisa Alija, que defende Robinho, disse que não iria comentar a sentença.
No documento de 22 páginas, o tribunal analisou o caso e rebateu as defesas de Robinho e Falco. Ao mencionar a transcrição de conversas interceptadas pela polícia, a juíza enfatizou contradições nas diferentes versões apresentadas pelos brasileiros.
Em uma das conversas, o atacante disse que não se lembrava da mulher, uma pessoa de origem albanesa, que tem optado por permanecer anônima desde a época dos fatos em 2013. Em outra gravação, o atacante afirma que nem tocou nela. Em uma terceira ocasião, mudou a versão e admitiu que fez sexo com a mulher.
"Em conversa interceptada em 3 de janeiro de 2014, às 22h47, entre Jairo (músico e testemunha dos brasileiros) e Robinho, o jogador diz que 'os rapazes estão na merda, menos mal que existe Deus, porque eu não toquei naquela garota'", diz um trecho da sentença, que continua: "Já no dia 12 de janeiro 2014, numa conversa interceptada à 0h41, com um dos amigos acusados, o jogador diz não se lembrar da garota. Dia 24 do mesmo mês, em conversa interceptada às 17h05, Jairo pergunta se Robinho também havia transado com a mulher. Ele responde: 'Não, eu tentei'. E Jairo rebate dizendo que havia visto quando ele colocava o pênis dentro da boca dela, ao que Robinho responde que 'isso não significa transar'", escreveu a juíza Vitale.
"Neste contexto, a atitude de Robinho passa por uma espécie de amnésia inicial até chegar a lembrança do que aconteceu", escreve a juíza.
A defesa de Robinho havia pedido redução da pena pelo fato de ele ter se submetido ao interrogatório, admitido as relações sexuais com consentimento com a garota e fornecido os nomes dos amigos acusados. O tribunal negou o pedido, considerando os argumentos insuficientes, "visto que [os réus] tentaram enganar a investigação, apresentando uma versão falsa dos fatos à Justiça". A juíza considerou irrelevante que Robinho tenha fornecido os nomes dos amigos, pois a investigação já os havia identificado.
Segundo o procurador do caso, Cuno Tarfusser, "a sentença é correta e foi escrita de forma compreensível ao cidadão. Em vez de termos jurídicos, a corte usou a descrição das conversas interceptadas para dar clareza ao caso". Cuno lembrou que a sentença foi publicada hoje, um dia após o Dia Internacional da Mulher.
Entenda o caso
O crime teria ocorrido em Milão, na boate Sio Café, durante a madrugada de 22 de janeiro de 2013, ocasião em que a vítima comemorava seu aniversário. Além de Robinho, que na época defendia o Milan, e Falco, outros quatro brasileiros foram denunciados por terem participado do ato. Mas como já haviam deixado a Itália no decorrer das investigações, não puderam ser notificados da conclusão. O caso contra eles está suspenso até o momento.
Robinho foi contratado pelo Santos em outubro de 2020, mas teve o contrato suspenso após protestos de patrocinadores e torcedores. Antes de tomar uma decisão definitiva, o clube decidiu aguardar a segunda instância, que confirmou a condenação em dezembro. Apesar disso, o Santos alegou dificuldades financeiras para não romper com o jogador e preferiu esperar que o contrato terminasse. O vínculo se encerrou há cerca de dez dias. Hoje Robinho está sem clube.
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