Após jogar ao lado de Alison no Santos, ex-jogador vira astro do futevôlei
Ele trocou as chuteiras e o gramado pelo pé descalço na areia. Segundo volante talentoso e com passagem pelas divisões de base do Santos, time no qual formou dupla com Alison no meio de campo, Júnior Saldanha abdicou do sonho do futebol para brilhar nas quadras de futevôlei.
No novo esporte, o qual passou a se dedicar em 2015, Saldanha atingiu o ápice. Aos 28 anos, já tem um histórico relevante, com final de torneio mundial e título do Mikasa Open. Ícone da modalidade depois de 32 pódios em 35 competições durante 2019, ele concedeu entrevista exclusiva ao UOL Esporte e falou sobre o desafio de abandonar o futebol para se tornar profissional no futevôlei.
"Futebol é um esporte que dá retorno muito bom comparado a qualquer outro esporte. A minha maior dificuldade foi começar a ter a renda por meio do futevôlei. Meus pais nunca me deixaram faltar nada, mas nunca me deram dinheiro para sair ostentando por aí. Tinha que pagar as minhas contas, correr atrás, estava começando em um esporte novo", disse o atleta em entrevista concedida à reportagem.
"Coloquei que era o que queria na minha vida, passei um aperto muito grande no início, mas confiando em um longo prazo. Tive que colocar na minha cabeça que era o que queria, porque até os grandes do esporte passavam dificuldades. Eu queria trabalhar a minha imagem, a minha mídia. Muita gente falava: 'futevôlei não dá dinheiro para ninguém'. Foi duro ouvir essas coisas, bater de frente com todo mundo e buscar o improvável. Mas o futevôlei dá retorno para quem sabe trabalhar", acrescentou.
No fim de 2019, Saldanha foi à Itália para jogar o Mundial da modalidade. Ao lado de Juninho, de Santa Catarina, chegou à decisão contra a dupla Bruninho/Ovelha e foi derrotado por dois sets a zero na final. Mesmo com o vice-campeonato, ele se lembra com carinho da competição e exalta o que conseguiu no ano seguinte — 2020.
"O título mais pesado que tenho é o Mikasa Open, ganhei no ano passado [2020]. Toda a competição que disputo, eu chego no pódio. Fui segundo do ranking em todos os torneios importantes de 2019, cheguei à final do Mundial na Itália. É uma coisa que arrepia. Jogar Mundial é o sonho de qualquer atleta. Ali, foi literalmente um Mundial, porque tinha oito duplas do Brasil. Ainda acabamos em segundo, foi muito bom. Arrepio demais, assisto até hoje e arrepio até hoje, ainda mais sabendo que faltou poucos pontos para ser campeão", comentou.
Hoje consolidado entre os principais nomes do futevôlei, Saldanha se recorda do episódio que o tirou das divisões de base do Santos, no tempo em que calçava chuteiras e via o gramado como palco do seu espetáculo. Ainda garoto, teve a chance de viajar com o elenco para a região Sul do Brasil. Contudo, sem um agasalho condizente com o seu tamanho à época, não acompanhou a delegação por desejo de seu pai. A partir daí, deixou a Vila Belmiro e buscou outros clubes do país.
"Logo na época que chegou o Gabigol e o Jean Chera, eu era titular do Santos, a dupla de volantes éramos Alison e eu. Era titular, capitão do time. A gente viu os olhos todos voltados para eles. Isso acontece, mas a gente ficava vaidoso na época, sobretudo pelo trabalho que a gente vinha fazendo. Teve uma viagem e, na distribuição dos agasalhos, acabou não tendo agasalho para mim. O meu pai comprou a briga. O treinador falou que tinha agasalho, mas era do tamanho G. Eu não fui viajar por causa disso. Quando o time voltou da viagem, eu fui deixado de lado, no terceiro time praticamente. Eu treinava, mas o treinador tinha pegado uma birra, não tinha como. Aí meu pai acabou me tirando do Santos pela primeira vez", contou.
"Quando eu saí, fui para a Portuguesa Santista, Jabaquara, Audax-RJ e eu acabei voltando a jogar futsal no Santos, voltei para o sub-17. A minha passagem pelo Santos não foi tão longa quanto eu gostaria que fosse", acrescentou o atleta, que fala também sobre a sua passagem pelo futsal: "Fui vice-campeão paulista de futsal sub-17, a gente acabou perdendo para o Corinthians na final. Joguei o sub-20 também, na época que o Santos montou aquele time com o Falcão. Eu nunca tive vontade de me profissionalizar com futsal".
Em 2015, porém, o futebol se tornou passado. Depois de atuar na Bolívia, onde defendeu o Aurora, Júnior Saldanha voltou ao Brasil decidido a abandonar o esporte que era sua paixão desde a infância. A decisão sobre o futuro foi sem hesitar: o futevôlei.
"O primeiro contato que tive com o futevôlei foi com o meu cunhado, lá em 2010, comecei brincando. Mas por eu ser muito competitivo, procurei aprender rápido, porque a galera que está há mais tempo não dá muita oportunidade para a galera nova, que está aprendendo a jogar junto. Eu queria jogar com os bons, embora não fosse bom. Eu falei: 'vou aprender a jogar para ganhar de vocês'. Embora não fosse a minha profissão ainda, eu queria aprender rápido o futevôlei para ganhar da galera que não me deixava jogar. Com um ano de futevôlei, eu cometi a loucura de me inscrever em um campeonato profissional, enfrentei Bello e Vinícius. Era a dupla a ser batida no planeta e fiz um baita jogo com os caras", comentou.
"Eu fui pegando gosto pelo futevôlei, mas meu sonho era realmente o futebol. Em 2015, quando larguei o futebol, fui jogar futevôleis, mas sem atitudes profissionais ainda. Eu disputava campeonatos profissionais, mas não me comportava como profissional ainda. Era um amador, um aventureiro que achava que ganharia um dia. Mudei a postura no fim de 2018, quando tive alguns problemas pessoais e tive que me agarrar ao futevôlei. Eu tinha que ter atitudes profissionais. Eu passei a levar o treino com seriedade, me alimentar melhor, entendi que beber e sair à noite atrapalhavam meu rendimento. Tive que entender essas coisas para que os resultados viessem mais fáceis. Eu passei a ver que faz diferença e 2019 foi o melhor ano até hoje. De 35 competições, subi em 32 pódios", completou.
Destaque de uma categoria, Saldanha negligencia sonhos pessoais em prol de uma profissionalização que transformaria o esporte em uma categoria mais rentável para os atletas. Patrocinado pela Harvus, empresa de bebida energética, e pelo Posto 011, que conta com quadras espalhadas por São Paulo, ele admite que seu maior desejo é a profissionalização da modalidade.
"Meu maior sonho é, claro, jogar a Olimpíada. O maior deles, mas ainda não está no meu alcance. O meu maior sonho é que o futevôlei seja um esporte valorizado a ponto de que os atletas consigam viver única e exclusivamente do futevôlei, que a Confederação Brasileira de Futevôlei comece a ser bem estruturada, que grandes empresas entendam o crescimento e invistam no esporte, como no vôlei, que tem o Circuito Banco do Brasil. A gente espera que o futevôlei chegue perto do vôlei de praia ao menos. Espero que os atletas do futevôlei consigam viver do esporte apenas, com uma renda fixa, que hoje ainda não temos. Eu, felizmente, tenho dois patrocínios que pagam meu salário, mas não consigo viver só com isso, eu também sou professor de futevôlei", explicou.
"O meu maior sonho, que está perto de se tornar realidade, é a profissionalização do esporte. Acontecendo isso, o nível de competitividade aumenta. Dar aula cansa, trabalhar em um escritório cansa, porque a gente não vai ter o mesmo rendimento no treino. Quando se profissionalizar a ponto dos atletas conseguirem se manter, vai ficar mais forte que já é o esporte", concluiu.
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