Kléber Gladiador, lona e bombas: como Dodô chegou ao Shakhtar e hoje brilha
Quando eu acertei com o Shakhtar, minha esposa foi pesquisar na internet e as primeiras coisas que apareceram foram bombas e guerra. Deu certo receio, mas, quando chegamos, vimos que era totalmente diferente. É muito seguro e o que aconteceu já ficou no passado."
Foi no fim de 2017 que o recém-rebaixado Coritiba anunciou a venda dos direitos econômicos do jovem lateral direito Dodô ao Shakhtar Donestk (UCR) por 2 milhões de euros (aproximadamente R$ 7,75 milhões à época). O jogador, então com 19 anos, que subiu ao profissional por intervenção do atacante Kléber Gladiador, partia, então, rumo à gelada Ucrânia e não escondia o receio pelos recentes conflitos no país.
Quando chegou ao Shakhtar, Dodô já se encontrou com a equipe baseada em Kiev, capital e cidade do maior rival — o Dínamo. O clube de Donetsk foi obrigado a deixar a cidade sede por causa dos conflitos que a esposa de Dodô viu na internet: a guerra chegou a atingir a Donbass Arena, antiga casa do Shakhtar, que teve a estrutura danificada por bombas.
"Tem cinco ou seis anos que não se joga mais lá. Creio que não vai voltar para Donetski por motivos políticos mesmo. Quando cheguei, o único problema é que jogávamos em Kharkiv e tínhamos que viajar até lá. Neste ano, o Shakhtar conseguiu uma maneira para jogarmos no mesmo estádio do Dínamo. Dá para descansar mais e a logística funciona melhor", disse Dodô ao UOL Esporte.
A temporada de 2018 seria apenas a terceira de Dodô como profissional. Alçado ao time principal do Coritiba em 2016 pelo técnico Gilson Kleina, o atleta chegou a descer novamente para a base logo após a estreia, mas voltou ao time de cima a pedido do experiente atacante Kléber Gladiador, hoje no Austin Bold (EUA), e do volante Edinho, ex-Internacional.
"O Ceará estava lesionado, o Reginaldo também e o time sub-23 estava de férias. Gilson Kleina viu meu treino e falou que eu que iria jogar. Subimos eu e o Raphael Veiga. Logo depois, eu desci novamente, mas, na mesma semana, o Kléber Gladiador e o Edinho pediram ao Kleina pra me subir porque eu era um jogador que poderia ajudar. Senti muita dificuldade no começo porque eu era muito franzino. Minha estreia foi contra o Santos, na Vila Belmiro, e marcando o Bruno Henrique (risos)", lembrou Dodô.
O início de Dodô na Ucrânia não foi fácil. Mesmo bem acolhido pela "colônia" de brasileiros da equipe — hoje são 13 no total —, o lateral teve dificuldade com o clima e acabou emprestado ao Vitória de Guimarães, de Portugal. Quando retornou, mais maduro, deslanchou na equipe, restando apenas uma coisa dos primeiros meses no frio ucraniano: o apelido "lona".
"O trote [dos brasileiros] era me jogar na neve (risos). Me apelidaram de 'lona'. Quando neva, cobrem o gramado com uma lona e quando vai ser usado retiram essa lona e deixam na lateral. Como eu jogo por ali, qualquer coisinha que eu adiantava e a bola saía, eu tinha que correr por cima da lona para buscar, Aí, eles falavam 'olha o corredor da lona aí", riu o brasileiro ao contar.
Nos últimos dois anos, Domilson Cordeiro dos Santos, o Dodô, somou 57 partidas e cinco gols, sendo eleito para a seleção do ucraniano em 2020. O desempenho deu a ele a condição de titular da seleção brasileira olímpica e chamou atenção dos gigantes europeus: o Bayern de Munique (ALE), campeão de tudo na última temporada, tentou tirá-lo do Shakhtar no ano passado.
"Teve proposta do Bayern, sim, mas não depende só de mim. Fiquei muito feliz, trabalho para que grandes clubes venham atrás. Se não foi agora, vai ser mais para frente. Minha cabeça tem que sempre estar focada no Shakhtar", ressaltou Dodô.
O Shakhtar inicia o duelo pelas oitavas de final da Liga Europa na tarde de hoje (11), às 17h (de Brasília), contra a Roma (ITA). Os ucranianos chegaram ao torneio após ficarem na terceira colocação do Grupo B da Champions League, que tinha ainda Real Madrid (ESP), Borussia M'gladbach (ALE) e Internaziolane (ITA) — o Shakhtar venceu as duas partidas contra os espanhóis, mas não foi o suficiente para avançar.
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