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Nova paralisação gera medo em jogadores e clubes pequenos: "será um caos"

Bola com máscara: o futebol volta a sofrer as consequências do coronavírus - Fernando Moreno/AGIF
Bola com máscara: o futebol volta a sofrer as consequências do coronavírus Imagem: Fernando Moreno/AGIF

Thiago Braga

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/03/2021 12h00

Os clubes brasileiros nem se recuperaram da paralisação do futebol em 2020 e cresce a possibilidade de uma nova extensa parada em 2021, uma vez que o Brasil vem batendo recordes de mortes diárias causadas pelo novo coronavírus. Depois de ficarem mais de três meses sem partidas e até sem poder treinar no ano passado, os clubes pequenos e os jogadores menos badalados já mostram preocupação com a decisão do governador João Dória (PSDB) em proibir eventos esportivos no estado por pelo menos duas semanas (de 15 a 30 de março).

É grande o número de atletas apreensivos com a restrição anunciada, querendo que a bola continue a rolar. O motivo: eles temem ficar mais uma vez sem salários, acentuando ainda mais o aperto nas finanças. Muitos deles ainda estão recebendo em parcelas os vencimentos de 2020, que foram suspensos, na maioria das vezes à revelia.

"Temos um projeto organizado e enxuto. Time tem de fazer uma programação para ter o jogador por dois, três anos. Se parar de novo, como vamos fazer? Os patrocinadores vão embora, porque não temos o que oferecer. E vamos ter de pagar os salários dos jogadores, jogar mais para frente. E já tem tudo o que gastamos no ano passado. Está muito difícil fazer futebol nesta pandemia", afirma Paulo Tognasini, diretor-executivo do Nacional-SP, time da zona oeste da capital paulista que disputa a Série A3 do Campeonato Paulista.

E aqui não estamos falando de salários astronômicos. O Relatório Global de Emprego da Fifpro, entidade de classe que representa os jogadores e jogadoras de futebol ao redor do mundo, mostrou no ano passado que mais de 45% dos pesquisados ganharam menos de US$ 1 mil (R$ 5,58 mil) por mês. Além disso, o salário médio mensal médio em todo o mundo variou entre US$ 1 mil e US$ 2 mil. Apenas 2% dos jogadores receberam mais de US$ 720 mil por ano em pagamento. O relatório diz respeito ao mercado global, mas serve como espelho do ecossistema do futebol brasileiro. Grande parte destes jogadores está nas divisões inferiores ou em times pequenos.

"O impacto será de morte, um desastre se ficarem sem atividades. O quadro se tornará quase que irreversível para dignidade e sustento deles e das famílias deles. Além de tudo o que houve no ano passado, com desemprego em massa, desespero, fome, jogadores procurando a Justiça do Trabalho [para rescindir contrato], fechamento de clubes, fim de competições, fim de patrocínio, agora será um caos generalizado", alertou Felipe Leite, presidente da Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol).

A paralisação de 2020 causou traumas nos clubes menores e nos jogadores de centros ou times com menos visibilidade. Como a interrupção no ano passado aconteceu na reta final dos Estaduais, times menores sofreram muito e tiveram de se reinventar, uma vez que na maioria das vezes contratam atletas somente para a disputa dos torneios regionais. Do outro lado da mesa, os jogadores ficaram sem contrato, desamparados.

Alguns clubes optaram por reduzir os salários enquanto os jogadores estavam em casa. Quando voltaram a treinar, os salários aumentaram um pouco. E quando voltaram a jogar, houve novo reajuste.

Relatos que chegam nos sindicatos de atletas profissionais apontam que muitos atletas não conseguiram retomar suas carreiras após a paralisação do futebol em 2020. Se não estavam jogando, não estavam na vitrine, ficando esquecidos pelo mercado.

"Acredito que neste ano vai ser menos danoso. Se ficar apenas nos 15 dias, vai ser mais tranquilo. Até 30 dias dá para contornar a situação. Mas já no limite. Se passar disso, aí já vai ficando difícil", relatou à reportagem Dayvid Medeiros, presidente do Rio Claro, que está na A2 do Paulista.

Segundo Dayvid, o Rio Claro só passou sem maiores problemas pela parada do Paulistão no ano passado por conta de um novo patrocinador. Mas, mesmo assim, teve de cortar vencimentos dos jogadores e negociar para pagar depois, o que o mandatário do clube garante que já foi quitado.

"A posição é convergente, todo mundo quer que a competição continue. Para que ela seja coberta de todos os cuidados e proteções. A gente só apoia a continuidade da competição com todo cuidado a todo mundo que está envolvido. A ideia é continuar e deixar todo mundo inteiro", resumiu Rinaldo Martorelli, presidente do Sindicato dos Atletas do Estado de São Paulo.