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"Achei que passaria rápido": último jogo com torcida em SP completa 1 ano

Camilo, do Mirassol, e Rodrigo, do Santo André, disputam bola durante jogo do Paulistão 2020 - Marcos Freitas/Divulgação
Camilo, do Mirassol, e Rodrigo, do Santo André, disputam bola durante jogo do Paulistão 2020 Imagem: Marcos Freitas/Divulgação

Gabriel Carneiro e Yago Rudá

Do UOL, em São Paulo

15/03/2021 04h00

Em 15 de março de 2020, o Estádio Municipal José Maria de Campos Maia, em Mirassol, recebeu o último jogo do futebol paulista com torcida. Neste dia, o time que leva o nome da cidade venceu o Santo André por 1 a 0 pela décima rodada do Paulistão. A OMS (Organização Mundial da Saúde) havia declarado pandemia de coronavírus quatro dias antes, o que não impediu a presença de 3.710 pagantes.

A Federação Paulista de Futebol (FPF) organizou outros seis jogos nesse mesmo dia, sendo dois deles com portões fechados — inclusive Ituano 1 x 1 Corinthians, em São Paulo. Do restante, em divisões inferiores, nenhum passou de 1.500 torcedores. No dia seguinte, o Estadual foi paralisado, o que durou mais de quatro meses. A final foi só em 8 de agosto, com título do Palmeiras.

Um ano depois do último jogo com torcida no Estado a situação hoje é muito pior. O número de mortes e diagnósticos positivos bate recordes diários, assim como a lotação dos leitos de UTI e enfermaria para tratamento da covid-19, num colapso nacional do sistema de saúde.

Foi anunciada quinta-feira (11) uma fase emergencial do Plano São Paulo, que estabelece medidas mais restritivas de circulação. Entre elas, a paralisação do Campeonato Paulista pelo menos até o dia 30 de março. Uma reunião hoje (15) entre Confederação Brasileira de Futebol (CBF), FPF e governo de São Paulo determinará os próximos passos, o que pode envolver até a realização de jogos em Minas Gerais.

Há um ano, quando Mirassol e Santo André se enfrentaram, a expectativa era diferente.

Eu particularmente imaginei que seria uma breve parada, que passaria rápido. Mas com o passar dos dias a proporção de pessoas infectadas no Brasil e no mundo só aumentava, o que deixava ainda mais distante ter uma data de retorno do futebol."
Rodrigo, zagueiro do Santo André

Treinador do Mirassol na ocasião, Ricardo Catalá tem a mesma impressão do jogador que foi seu adversário: "Acreditava que seria algo passageiro e muito menos doloroso para todas as nações do mundo. Na época sabíamos muito pouco sobre a covid e nem abordamos o assunto em função de não haver conhecimento sobre a doença e o que viria após aquela data. Inclusive, me lembro mais desse dia da expectativa que tínhamos de nos aproximar da classificação."

Mirassol - Divulgação/Mirassol - Divulgação/Mirassol
Mirassol x Santo André pelo Paulista 2020 com os capitães Reniê e Zé Antônio e o árbitro Douglas Marques das Flores
Imagem: Divulgação/Mirassol

A paralisação do Campeonato Paulista de 2021 tem sido um tema controverso, rejeitado especialmente entre os jogadores de times pequenos. Rodrigo está de novo no elenco do Santo André e classifica a situação como "complicada".

Mirassol - Divulgação/Mirassol - Divulgação/Mirassol
Neto Moura (o autor) e Chico comemoram gol do Mirassol
Imagem: Divulgação/Mirassol

"O que está ao nosso alcance procuramos fazer ao máximo, que é higienização, uso da máscara de maneira correta, distanciamento e testes. Muitos dependem da continuidade da competição para levar o sustento à sua família, assim como eu. E não só os jogadores, o futebol é uma área econômica igual a muitas no Brasil que estão paradas causando desemprego e situações difíceis e tristes. Torço para que a decisão seja tomada da melhor maneira possível e se for para paralisar que seja para salvar vidas e não por hipocrisia."

Já Ricardo Catalá hoje dirige o São Bernardo na Série A2 do Paulistão, uma realidade potencialmente mais delicada: "Difícil opinar. O que posso dizer é que seguiremos as orientações e determinações de quem está capacitado para decidir o caminho do futebol no país."