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Como caso de Muller influenciou empresário a gerir patrimônio de atletas

Henning Sandtfoss ao lado do atacante Richarlison - Divulgação
Henning Sandtfoss ao lado do atacante Richarlison Imagem: Divulgação

Thiago Fernandes

Do UOL, em São Paulo

16/03/2021 12h00

Quando Henning Sandtfoss passou a trabalhar como consultor financeiro há mais de 20 anos, a ideia era atuar com conhecidos, amigos ou clientes de alto poder aquisitivo. Entretanto, a história de Muller, que teve que morar de favor na casa de um amigo depois de uma carreira de sucesso, mexeu com o empresário. Em 2012, ele abriu a Redoma Capital e passou a atuar no esporte, sobretudo no futebol. Hoje, atua sozinho no mercado e tem como objetivo a blindagem dos atletas em sua vida pessoal.

Em entrevista ao UOL Esporte no início de março, Henning Sandtfoss explicou o início de sua carreira no setor financeiro e como chegou ao esporte: "Trabalho há mais de 20 anos como advisor financeiro. Montei uma empresa para cuidar do dinheiro das pessoas. Eu cuidava do dinheiro dos meus amigos, de herdeiros e de empresários. Eu comecei a aprender sobre finanças, entendo que é uma falha da educação brasileira. Eu não tive educação financeira na faculdade, como ninguém tem. Acho que educação financeira deveria vir desde a época da escola".

"Sempre gostei muito de esporte, principalmente de futebol, e sempre acompanhei esse mercado. Se a gente pegar de 20 anos para cá, os jogadores tiveram um salto de salário. A gente está falando do topo da pirâmide, não é a realidade do futebol brasileiro como um todo. Na mesma proporção que os atletas deram esse salto de salário no Brasil, comecei a notar um monte de atletas que deram um salto. O caso que mais me tocou foi o do Muller. O cara ganhou absolutamente tudo, jogou fora do Brasil, seleção brasileira e, de repente, estava morando de favor na casa de um ex-atleta do São Paulo. Aquilo me fez pensar: 'por que não estruturar uma empresa para cuidar dessa turma?'. Foi o caso do Muller que me fez focar na área, mas li um monte de outros casos", acrescentou.

A porta de entrada no futebol foi o relacionamento com Edu Gaspar. Recém-aposentado, o agora coordenador de seleções da CBF apresentou o empresário a Paulo André, que foi o seu primeiro sócio no negócio. Posteriormente, William Machado entrou na sociedade. Junto, o grupo trabalhou por cerca de três anos até que a dupla precisou deixar a empresa.

"Sabia que, para entrar nesse meio, não seria fácil e precisaria de uma indicação. Acabei estruturando o negócio e tinha amigos em comum com atletas de futebol. Ele me apresentou o Edu Gaspar, recém-aposentado. Ele quis estruturar o interesse e me apresentou para o Paulo André, que jogava no Corinthians. Começamos a estruturar o negócio, o Edu Gaspar foi convidado para ser gerente de futebol do Corinthians e viu conflito de interesse. Comecei com o Paulo André e, seis meses mais tarde, ele trouxe o William Capita para trabalhar conosco. O William já estava aposentado e tinha uma formação técnica em contabilidade", declarou.

"Eles foram importantes para eu entender como era cuidar da vida financeira de um atleta, que ganha dinheiro efetivamente por dez anos. Tanto o William quanto o Paulo André foram importantes para abrir portas no meio do futebol, mas para me ensinar a gerir as finanças de um atleta. Os atletas, originalmente, vêm de uma estrutura familiar não tão boa, sem estrutura financeira. Então, eles vêm com um consumo reprimido muito grande. O cara vai ter um consumo reprimido e é natural que ele queira comprar o primeiro carro, a casa para os pais. Eu tinha que entender isso, mas fazer o atleta entender que ele precisa poupar dinheiro. Uma revista alemã mostra que 50% dos atletas do mundo encerram a carreira em dificuldade financeira. Esses números são muito alarmantes", completou.

Henning Sandtfoss ao lado de Wesley Beltrame, um dos clientes da Redoma Capital - Divulgação - Divulgação
Henning Sandtfoss ao lado de Wesley Beltrame, um dos clientes da Redoma Capital
Imagem: Divulgação

Com uma lista de cerca de 50 clientes, sendo a maioria do futebol, Henning Sandtfoss tem casos de sucesso em seus nove anos de mercado com atletas. O mais marcante aconteceu com Wesley Beltrame, ex-volante de Santos, Palmeiras e São e que atualmente defende o CRB. Apaixonado por carros, o meio-campista quis comprar um veículo da marca Porsche. A empresa fez o atleta adquirir um carro e obter 20% de lucro na revenda, algo quase inimaginável no mercado automobilístico.

"O Wesley Beltrame, ex-Santos, São Paulo e Palmeiras, ama carros. Em um determinado momento, ele quis comprar um Porsche que não era o mais indicado. Era um sonho dele, e parte do nosso trabalho é viabilizar sonhos de maneira inteligente. A gente tem um expert, que entende tudo de carro, a gente o consultou e disse: 'há três Porsches que vão se valorizar nos próximos anos'. A gente fez isso, o Wesley mudou de clube no ano seguinte e vendeu o carro com 20% de lucro. A gente realizou o sonho dele e fez um carro, que não é investimento, se tornar um grande investimento", explicou Paula Sandtfoss, sócia de Henning na Redoma Capital.

"Nesse caso, ele comprou o Porsche de 50 anos de comemoração, vieram só três para o Brasil. Por causa disso, esse carro valoriza ao longo do tempo. Nesse caso, o expert me indicou, passei para o Wesley e foi um baita de um negócio. Ele comprou um carro novo, moderno, realizou o sonho pessoal, e o carro ainda se valorizou", completou Henning Sandtfoss.

Mas toda a confiança dos atletas nos conselhos da Redoma Capital só surge com tempo. Henning Sandtfoss cita, inclusive, um caso em que o jogador quis deixar a empresa após um conselho contrário ao seu desejo. O empesário mantém o anonimato do atleta para que não haja constrangimento.

"Acabei perdendo um atleta por causa do consumo. Esse atleta foi vendido para um grande clube europeu, ele vinha de R$ 100 mil e passou a ter um salário de R$ 1 milhão por mês. Ele é de BH e queria comprar um apartamento e um carro para deixar na cidade. Aí eu comecei a fazer conta, ele queria investir por volta de R$ 8 milhões e mais R$ 7 milhões no carro. Ele queria gastar R$ 15 milhões por algo que ele usaria durante as férias. Eu falei com ele que era mais fácil aplicar esse dinheiro no banco e, toda vez que ele viesse, ele poderia usar um carro diferente, alugar uma cobertura diferente. Para resumir a história, ele não ficou satisfeito com o que falei", relatou.

"Mostrei que o dinheiro no banco poderia fazer com que ele alugasse quantos carros e coberturas quisessem. Eu acabei aprendendo com ele que existe esse consumo reprimido nos atletas. Eu vou orientar o jogador bem, ainda que eu ache que esse caso não faz sentido em nenhum cenário. Às vezes, você fala para o atleta investir em um carro usado, gastar pouco", concluiu.

A Redoma Capital trabalha também com o Red Bull Bragantino em uma parceria iniciada há dois anos. O clube conta com a empresa para ministrar palestras sobre educação financeira aos jovens do plantel e das divisões de base. O trabalho é destinado aos garotos a partir de 14 anos.