Mandante, Marília viaja 22 horas de ônibus por Copa do Brasil; vice reclama
O que era pra ser um jogo histórico para o Marília, clube do interior de São Paulo, se tornou quase um mochilão pelo Brasil. O MAC, como é conhecido o clube, disputa pela primeira vez a Copa do Brasil e era mandante contra o Criciúma na primeira fase, mas foi obrigado a sair de sua sede e viajar 22 horas de ônibus após duas trocas do local da partida. O jogo ocorre amanhã (18), às 15h30, pelo menos até segunda ordem...
O duelo estava marcado para hoje (17) no estádio Abreuzão, em Marília, mas teve que ser transferido após a ampliação das restrições da fase vermelha do Plano SP contra a covid-19 — que proibiu a realização de partidas de futebol. No dia 12, o duelo foi transferido para Varginha (MG) sem mudança de data.
A delegação do MAC chegou ao local da partida na noite da segunda-feira (15). Na manhã do dia seguinte, porém, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), proibiu que fossem realizadas partidas de outros estados em solo mineiro. A CBF, então, adiou a partida em um dia e transferiu o jogo para Cariacica (ES). O duelo entre Avaí e Palmas, marcado para Belo Horizonte, no entanto, não teve seu local alterado.
Assim, o MAC, que já tinha viajado por mais de 500km e quase oito horas até Varginha (MG), pegou outro ônibus no fim da tarde de ontem (16) rumo a Cariacica (ES), distante cerca de 800km. No total, foram 22 horas de viagem de ônibus para jogar uma partida na qual o clube era o mandante.
Criciúma vai de avião
O adversário do Marília, entretanto, viajou de avião tanto de sua sede até Varginha (MG) quanto da cidade mineira até Cariacica. Os catarinenses saíram nesta manhã, de ônibus, rumo a Campinas (SP) que fica a cerca de quatro horas de viagem de ônibus, onde pegam o voo para Vitória (ES).
Antes disso, o Criciúma havia ido de ônibus por cerca de três horas até Navegantes (SC) para voar até o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e viajar de ônibus por cerca de quatro horas até Varginha (MG).
A princípio, o voo poderia sair de Navegantes diretamente para Marília, com duração de cerca de duas horas. Assim, mesmo fazendo a maior parte do trajeto de avião, os catarinenses precisaram viajar oito horas a mais de ônibus por causa das mudanças no local da partida.
Marília não teve condições de pagar avião
Para deixar a cidade no interior de São Paulo rumo a Varginha (MG), o Marília não se opôs à ideia da viagem de ônibus. No entanto, após a mudança para Cariacica (ES), o MAC solicitou — assim como o Criciúma — que a viagem fosse de avião.
A CBF concordou, mas só pagaria para 23 pessoas, regra da entidade que também foi aplicada ao Criciúma. No entanto, ambas as delegações possuem 31 pessoas. Os catarinenses já haviam arcado com os custos extras para as oito pessoas a mais na viagem até Varginha (MG) e optaram por novamente arcar com as despesas aéreas rumo a Vitória (ES).
O Marília, no entanto, não teve condições financeiras para bancar os valores extras que chegariam na casa dos R$ 50 mil. O vice-presidente do clube, Alysson Souza, lamentou as mudanças e afirmou que o Marília está sendo prejudicado.
"Nossa delegação tem 31 pessoas e a CBF paga só para 23, mas como o ônibus é de 48 lugares não tem problema. Mas pagamos o hotel para oito pessoas, que é um gasto que não esperávamos (o clube era mandante). Solicitamos ir de avião de Varginha (MG) para Vitória (ES). Disseram que pagariam o avião, que iríamos de ônibus até Campinas (SP) e pegaríamos o voo lá, mas só pagariam para 23 pessoas. Como que eu vou deixar oito de fora? 'Ah, o Marília paga', disseram. O Marília não tem como pagar essas oito passagens em cima da hora, sem planejamento, sem recursos. Marília estava com as portas praticamente baixadas e está retornando agora para o cenário paulista e nacional e tem suas dificuldades financeiras. Precisaria fazer um aporte, conversar com os patrocinadores. Daria quase R$ 50 mil entre ida e volta para as oito pessoas. Eles falaram que iriam ver e retornariam. Conversei com meu executivo e comissão técnica e decidimos não esperar o retorno, porque se fosse negativo, retardaria ainda mais nossa viagem. Decidimos ir de ônibus e acabamos nos sacrificando por isso", afirmou em contato com o UOL Esporte.
O dirigente, no entanto, refuta o rótulo de "coitadinho". Ele afirma que não quer o MAC seja visto como a equipe do interior que não teve dinheiro para arcar com a passagem de avião, mas sim como o clube que jogaria em casa e foi obrigado a viajar quase 1400 km para atuar. Souza ainda alerta para a exposição dos jogadores em uma viagem tão longa e com mudanças de sede.
"Nós vamos pedir ressarcimento dos hotéis porque a partida era em Marília, não temos culpa nenhuma de terem tirado o jogo de Marília. Estou com meus atletas a mais de mil quilômetros longe, viajando para jogar em um estádio vazio, sendo que Marília também tem estádio vazio. Agora sim estou colocando meus atletas em risco, expondo eles. A culpa maior é dos governos dos estados que não falam a mesma língua. Quem está sendo prejudicado é o Marília e isso é terrível."
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