Longe da política do Inter, ex-presidente dá curso para formar executivos
Fernando Carvalho não ocupa qualquer cargo no Internacional desde 2016. O presidente campeão do mundo, entre outros tantos títulos, seja no cargo máximo do clube ou como vice de futebol, porém, não se distanciou do esporte. De olho em formar novos executivos de futebol, ele lançou um curso que promoverá uma imersão nos mais diversos conteúdos atribuídos a estes profissionais.
"Vendo algumas entrevistas, postura e críticas que dirigentes sofriam, resolvi sistematizar a atuação do executivo de futebol. Vi que seria bom explicar o que eu gostaria como dirigente estatutário, e o que fiz em determinado momento numa função que não era minha, mas que acabava fazendo. Procurei criar um manual do executivo de futebol que abrange as mais diversas áreas, como conhecer o ambiente do clube, a cultura da cidade, do município, do Estado, do torcedor, a estrutura, o grupo de atletas, as ideias do clube ao longo da história, as engrenagens, exemplos históricos, a disciplina imposta pelos presidentes, orçamento, custos... Vamos chegar até mesmo em questões como escolha de treinador, processos de contratação, formação de grupo, estabelecer perfis, entender do jogo que se quer propor, formas de jogar com um a mais, com um a menos, ganhando, empatando, perdendo", contou em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
"Vamos abordar também as mais diversas disciplinas necessárias para o executivo, como conhecimento em preparação física, de futebol, emocional dos jogadores, liderança, todos estes pontos serão observados. A formação de uma comissão multidisciplinar, reuniões, periodicidade, quando são feitas, reuniões de cobrança, antes de jogos importantes, campeonatos, jogos difíceis, para espantar euforia, para resolver problemas de depressão do grupo. Sempre com sugestões de ações", completou.
Carvalho carrega experiência de quase 40 anos de futebol. Conviveu com uma série de grupos vencedores no Inter, e também viveu o outro lado da moeda, participando da tentativa de evitar a queda para Série B em 2016. O curso terá seis meses de atividades (carga horária de 80 horas), com formato online e presencial — respeitando os protocolos de segurança no combate à Covid-19. Serão 12 módulos divididos em 18 encontros ao longo do ano. A inscrição custa de R$ 3.500 e ocorre pelo site do FootHub (empresa parceira na realização do curso. foothub.com.br), com vagas limitadas. As atividades começam em 30 de março.
"A estrutura das aulas funciona com uma manifestação minha, e vários convidados tratando de temas específicos. O primeiro é o Alexandre Mattos [executivo de futebol, ex-Palmeiras, Atlético-MG e Cruzeiro], depois tem o Jorge Macedo [executivo de futebol do Ceará], o William Thomas [gerente executivo de futebol], o Felipe Ximenes, Cícero Souza [gerente de futebol do Palmeiras], vários profissionais da área. Cada um dará as suas visões sobre um determinado assunto. Teremos também o João Paulo Fontoura [assessor de imprensa ex-Grêmio], que vai falar sobre a relação com a mídia, um empresário importante no futebol brasileiro, que é o André Cury, tratando da relação do executivo com empresários. Eu vou falar sempre acompanhado de um especialista", explicou.
Mercado aberto e em crescimento
Para Carvalho, o mercado de executivos de futebol está crescendo e se abrindo cada vez mais. Quem estiver melhor preparado, certamente conseguirá uma posição interessante.
"Nos últimos tempos, é uma área que tem avançado. A CBF e a Abex (Associação Brasileira de Executivos de Futebol) estão discutindo regulamentar a profissão, e um dos requisitos vai ser o curso da CBF, do qual eu também faço parte como professor e mentor. Cada vez mais a gestão será aprimorada nos clubes", contou. "Ainda prevalecem dirigentes estatutários, mas os clubes estão lançando mão desta nova categoria. Está se consolidando. No futuro, os mais preparados terão destaques, sendo eles ex-jogadores, ex-dirigentes ou não", completou.
A condição financeira é atrativa e um novo mercado se abre com o futebol feminino. Argumentos que pesam para apostar no futuro dos executivos de futebol.
"A mulher vem ocupando um espaço gradativamente em todos os segmentos e setores. Certamente também terá espaço nesta área de executivo de futebol. O futebol feminino, por exemplo, tem muito mais campo para expansão do que o masculino. Os valores de direitos de televisão estão sendo reduzidos pelas grandes empresas, e o futebol feminino, ao contrário, receberá mais investimento. As mulheres terão claramente espaço no futebol masculino, mas vejo o feminino como perspectiva ainda melhor", contou.
"O futebol desperta muita curiosidade, todo mundo tem ideias sobre futebol, gosta, assiste. Mas a ideia do funcionamento interno muita gente não tem. Quando se faz um curso como este, ou os da CBF, a pessoa se depara com coisas que não tinha ideia que aconteciam. Procedimentos, disciplinas, tudo que o cargo envolve. Isso vai despertar ainda mais interesse. Além disso, há chance de trabalhar na área. Um executivo de futebol de clubes menores recebe de R$ 20 mil a R$ 30 mil por mês. Os grandes ganham R$ 100 mil, R$ 150 mil... É salário de diretor de multinacional. Temos vários exemplos de sucesso", avaliou.
Distante da política do Inter e sem planos para voltar
Fernando Carvalho está distante da vida política do Inter. Desde 2016 sem ocupar função no clube, não concorreu a qualquer cargo na última eleição e participou apenas no apoio ao candidato de seu grupo. Segundo o próprio, não exerce qualquer tipo de influência nos bastidores. Um dos mais importantes dirigentes da história do Colorado ainda garante que não pretende voltar a ocupar posição no clube.
"Essa ideia que eu tenho influencia... Eu saí em 2010 e depois voltei em 2016... No mais, não tive participação. Não tenho participação alguma. É inacreditável isso. Tem coisas que não acredito ou não concordo, não endossaria. Mas, como não quero causar problema ao meu clube, não faço críticas mais exacerbadas, mantenho minha posição", afirmou.
"Meu candidato na eleição era o Guinther Spode. Fiz o que poderia fazer como membro do meu grupo político [Movimento Inter Grande]. Ele não foi para o segundo turno. Eu não tive participação, não votei no presidente que venceu nem no candidato que perdeu. Minha participação nunca mais será decisiva. Vou apoiar sempre meu grupo e, uma vez terminada eleição, apoio o presidente Alessandro Barcellos e todos que estão lá. Como ex-presidente, quero o bem do clube. Mesmo que discorde de alguma coisa, não me posicionaria de forma crítica. Se tivesse que fazer, faria diretamente ao presidente, que por sinal nem conheço, nunca fui apresentado a ele. Tenho acompanhado, mas não o conheço. A história que tenho influência, não é verdade", explicou.
"Não pretendo voltar. Acho que o clube tem jovens que estão se preparando para ter o comando da entidade. Uma nova gestão. Temos que respeitar o resultado das urnas. Durante os próximos três anos, o presidente é o Alessandro Barcellos, com seus companheiros", sentenciou.
Ramírez e o Brasileirão de 2020
Carvalho crê que Miguel Ángel Ramírez precise de tempo e proteção para conseguir colocar suas ideias em campo. E ainda comentou a derrota amarga do Colorado no Brasileirão passado, segundo ele, com influência direta da arbitragem.
"O Ramírez é um treinador jovem. O Guardiola é o precursor do tipo de futebol que o Ramírez preconiza. É um futebol que impõe muito tempo de trabalho e jogadores habilitados para executar. Um futebol de toque, retenção de bola, que mais ataca do que defende. Para nós, vai representar uma alteração de conceitos. Eu gosto do futebol competitivo, que ganha, e este futebol do Guardiola ganha. Mas não acontece imediatamente. Eu tenho dito que ele precisará de tempo e respaldo, precisa ser protegido pela direção da pressão que certamente irá receber", avaliou.
"A temporada 2020 foi atípica. Tudo que preconizamos no curso de gestão deixou de acontecer em todos os clubes. Não houve nenhum planejamento, muitas trocas de treinador, no Santos, no Palmeiras, no Flamengo, no Inter. O único trabalho mantido foi o do Grêmio, que acabou em sétimo. Chegamos na fase final do campeonato, com tudo isso, com o Inter na liderança. O Inter perdeu para o Sport, mas o Flamengo perdeu para o Ceará, o Bragantino... E onde aconteceu a decisão? Na arbitragem. Em Inter e Flamengo houve influência da arbitragem. Em Inter e Corinthians houve influência da arbitragem no pênalti revertido e no gol do Edenilson anulado depois do lance do Abel Hernández com o Cássio [o árbitro marcou falta]."
"Eu dizia que aquele lance lembra o lance do Fabiano Eller com Rogério Ceni [final da Libertadores de 2006, o zagueiro dividiu com goleiro e Fernandão fez o gol]. Ali, eu fiz muita força para não ser árbitro brasileiro, foi o Horácio Elizondo [argentino]. Se fosse brasileiro, era falta. No final, houve interferência da arbitragem", finalizou.
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