Topo

Do Piscinão de Ramos à Gávea, João Gomes reencontra "tio" no Flamengo

Volante João Gomes vem se destacando pelo Flamengo desde a temporada passada - Alexandre Vidal / Flamengo
Volante João Gomes vem se destacando pelo Flamengo desde a temporada passada Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

Alexandre Araújo e Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

26/03/2021 04h00

Avô e grande incentivador da carreira do volante João Gomes, Seu Mirinho não teve tempo de ver o neto brilhar no profissional do Flamengo, mas quis o destino que ele tivesse quase que uma espécie de representante acompanhando de perto, literalmente, os passos do jogador. O preparador de goleiros Wagner Miranda, o Gigante, é amigo da família do camisa 35 e hoje trabalha lado a lado com a promessa. Inclusive, não é raro ser chamado de "tio".

A história começou anos atrás, quando Wagner atuava na base do Olaria e foi companheiro de Godoi, tio (esse de sangue) de João. Assim, conheceu também Seu Mirinho e nasceu ali um relacionamento que ultrapassou os muros do Azulão e cresceu com o tempo.

"Minha história com o João Gomes é curiosa. Conheci o avô dele quando eu ainda jogava na base do Olaria. Ele acompanhava o Godoi, sobrinho dele e tio do João, nos treinos. O Godoi era uma categoria acima, mas, com o decorrer da divisão de base, tivemos a oportunidade de jogar juntos e formamos uma amizade grande", disse Wagner ao UOL Esporte.

"Conservamos essa amizade por muito tempo. Antes do Seu Mirinho falecer [em 2019], nos falávamos ao telefone, nos encontrávamos de vez em quando. A amizade que formamos naquele período foi uma coisa absurda", completou.

Wagner Miranda, o Gigante, preparador de goleiros do Flamengo - Alexandre Vidal / Flamengo - Alexandre Vidal / Flamengo
Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

Sob o estímulo do avô, João Gomes passou em um teste no Rubro-Negro. Com o menino dando os primeiros passos, Seu Mirinho, então, pediu uma ajuda ao amigo, que já trabalhava no clube: observar o neto dele. Wagner, em algumas oportunidades, pôde atender à solicitação e, apesar da idade, o jovem já chamava a atenção.

"Às vezes, ele me ligava e falava: 'dá uma atenção ao meu neto lá. Ele está treinando no Flamengo'. Aquela coisa, o João era novinho e tudo mais, e, algumas vezes, fui lá ver o João treinar. Eu sempre olhei a base de modo geral e, quando via os treinos, sempre via uma qualidade absurda nele. Observava o trabalho que o pessoal fazia com os atletas e pensava: 'Esse menino vai desenvolver muito aqui' ", contou.

Ao neto, por outro lado, além dos conselhos de sempre, pedia que enviasse um simples recado ao preparador de goleiros: passar no Piscinão de Ramos para um encontro e "jogar conversa fora" com as lembranças dos tempos de Olaria.

"Conheci o Wagner há muitos anos, por meio do meu avô e do meu tio, que jogou com ele no Olaria. No Flamengo, quando era novinho, sempre que eu descia para treinar, ele estava dando treino para os goleiros, em outra categoria. Eu passava e dizia: 'meu avô mandou um abraço!' Pediu para você ir lá no Piscinão!' Nos víamos praticamente todos os dias", conta João.

Cria da base, João foi promovido ao elenco profissional em 2020, temporada que iniciou ainda no sub-20, categoria em que teve atuações elogiadas. Ele ganhou um holofote maior em setembro, ao ser uma das novidades do Rubro-Negro na lista de relacionados para jogos contra o Independiente del Valle e Barcelona de Guayaquil, no Equador, pela Libertadores do ano passado. Com o passar dos anos, Wagner criou uma relação mais forte também com a terceira geração, ganhando até mesmo uma alcunha familiar.

"Com o tempo fomos pegando mais intimidade, nos aproximando também. Hoje é bem mais do que antes. Chamo ele de 'tio' e tudo", brinca o volante.

O vocativo proferido pelo hoje "marmanjo" João chega até a causar curiosidade em quem convive com os dois.

"Ficou essa relação de amizade. O João cresceu, hoje está no profissional do Flamengo. Fui vendo, algumas vezes, esse desenvolvimento, hoje estamos trabalhando juntos e ele me chama de tio. As pessoas até perguntam o motivo de chamar assim, mas é por isso (risos). Pela amizade que tive com o avô e com o tio dele, que foi muito importante também nessa trajetória do João", ressalta Wagner.