Em alta no Ceará, Vina já "namorou" o Corinthians e ainda sonha com seleção
A temporada 2020 terminou com Vina em alta. Destaque do Ceará com 23 gols e 19 assistências em 59 jogos, o jogador de 29 anos viveu o ápice de sua carreira até aqui e levou o prêmio de melhor meia do Brasileirão. Não à toa, chamou a atenção de outros clubes e virou alvo de algumas especulações no mercado da bola, entre elas uma suposta negociação com o Corinthians.
A torcida gostou da possibilidade e Vina se tornou um dos sonhos de consumo da Fiel. O acordo, porém, não se concretizou. Em entrevista ao UOL Esporte (veja acima em vídeo), ele falou sobre as especulações envolvendo times paulistas e revelou que ficou "muito perto" de acertar com o Corinthians em 2015, após deixar o Fluminense.
"Em 2015, quando estava saindo do Fluminense, meu pai até chegou a ir ao CT do Corinthians, conversou com o Edu Gaspar [então diretor de futebol, hoje no Arsenal-ING], trataram muito bem meu pai, e foi por pouco [que a negociação não deu certo]", diz Vina, que negou ter recebido alguma proposta concreta de times paulistas. O carinho da torcida, porém, valeu a pena.
"Isso ficou muito mais forte nas redes sociais, as torcidas dos quatro times me mandaram mensagens, e você vê o reconhecimento, por exemplo do Santos, por causa do Marinho, que comentou uma foto minha, isso desperta o interesse dos torcedores. Mas foram mais sondagens do que propostas concretas", acrescenta o ex-jogador de Athletico e Galo.
Vina ressalta, porém, que sempre tratou o Ceará como prioridade, deixando isso claro, inclusive, em entrevistas, o que, segundo ele, pode ter afastado o ímpeto de algum time nas negociações: "De qualquer forma, sempre dei prioridade ao Ceará. Talvez, por isso, na minha forma de falar, eu possa ter espantado e deixado os clubes mais ariscos de vir...".
Seleção brasileira: "meu maior sonho"
A regularidade do início ao fim da temporada, os números e, consequentemente, o prêmio do Brasileirão, comprovam: Vina vive a melhor fase de sua carreira. Por que não, então, pensar em seleção? Ele ainda pensa, e muito.
"É o meu maior sonho, representar a seleção brasileira. Mas é regularidade, você tem que se manter em alto nível, e é o que vou procurar fazer esse ano. No dia do prêmio, cumprimentei o Tite, ele me parabenizou pelo ano, e é gratificante você ver que realmente chegou ali", celebra.
Durante o prêmio do Brasileirão, Tite chegou a afirmar que a pandemia de covid-19 pode abrir espaço para uma convocação mais "caseira" —jogadores que atuam apenas no país— daqui para frente, o que amplia a esperança de Vina em um dia vestir a camisa verde e amarela.
"Com essa pandemia a gente fica atento; vi entrevista do Tite de talvez convocar mais jogadores do Brasil, sem dúvida esse é o pensamento. Mas o pensamento principal é ajudar o Ceará. Ajudando o Ceará da melhor maneira possível, conquistando títulos, sempre brigando lá em cima, sei que a convocação fica mais perto", acrescenta.
Para Vina, o fato de atuar no futebol nordestino não deve atrapalhar uma eventual convocação: "Vejo que não pesa em momento algum eu ter ficado no Ceará, por ser no Nordeste... Acho que isso diminuiu. Querendo ou não, as pessoas olham mais o Nordeste. E acho que os quatro clubes [da Série A, Ceará, Fortaleza, Bahia e Sport] não devem nada para ninguém. Claro que história não se apaga, mas digo o momento, seja de estrutura, financeiro".
Mudança de atitude e alerta de Guto
E se hoje Vina vive a melhor fase de sua carreira, tanto técnica como mentalmente, dois fatores em especial contribuem para isso: maturidade e jogo coletivo. Segundo o atleta, a principal mudança em sua vida profissional aconteceu depois de passar um período afastado no Athletico Paranaense por indisciplina.
"Hoje me conheço muito mais como atleta, como homem, como ser humano, e isso faz toda diferença. Lá atrás, eu tinha a cabeça de achar que futebol era entrar em campo e chutar a bola, fazer gol... Mas não é isso. Tem todo um contexto, é um combo por fora que faz toda a diferença. Eu, de uns anos pra cá, tive essa mudança. Acho que a mudança principal na minha vida foi quando fiquei afastado no Athletico, foi um start na minha vida, na carreira, e no Bahia comecei esse processo. Não tem como você mudar da água para o vinho", conta.
Além disso, um conselho dado por Guto Ferreira ajudou Vina a ser um cara mais de grupo do que antes, como ele mesmo explica: "É um cara que me ajudou bastante. Já tinha trabalhado comigo no Bahia, sabia de algumas falhas que eu tinha, talvez no sentido de querer jogar todos os jogos".
"Sou um jogador que gosta de jogar os 90 minutos, mas, por mais que você queira, hoje é impossível com o tanto de jogos que tem, e, às vezes, a forma como eu fazia desrespeitava o companheiro que estava entrando. É uma das coisas que ele me alertou: 'você tem que pensar na oportunidade do outro'", completa.
Talvez eu não visse o lado do outro, via só o meu, e, às vezes, a maneira como você age atrapalha o grupo."
Veja outros trechos da entrevista:
O que motivou renovação até 2024
O projeto do Ceará. Eu sou um cara que, lá atrás, já abraçou esse projeto, quando foi para abrir mão de um ano que tinha no Galo pra assinar aqui no Ceará. E gratidão. A gente tem que valorizar quem nos valoriza. É claro que, a partir do momento em que você se destaca, você começa a despertar o interesse de vários outros clubes, que foi o caso. Mas acho que, nesse momento, preservei muito o meu estado aqui. Sou totalmente feliz, minha família já está adaptada aqui. Tudo isso me fez escolher permanecer.
Inspiração no ídolo Ricardinho
A partir do momento que você vê que o clube te quer por bastante tempo, isso te dá uma segurança. Você vê o respeito que as pessoas têm com o seu trabalho. Isso pesou muito pra eu ter renovado e quero continuar essa história bonita que estou construindo aqui. Tinha referência do Ricardinho, a história bonita que ele tem aqui, de vários anos, e espero fazer o mesmo. Falei pra ele que vou tentar dar continuidade no trabalho que ele fez aqui e, quem sabe lá na frente, também virar um ídolo no clube.
Quer Castelão lotado
Foi também um dos motivos de eu ter ficado. Quero ver a Arena Castelão lotada com a torcida do Ceará. No começo eu peguei um clássico em que o Fortaleza era mandante, e a torcida do Ceará estava só atrás do gol. Mas, mesmo assim, pude sentir um pouco de um clássico, mas sem dúvida foi um dos motivos que quis continuar aqui. Espero que, em breve, com as vacinas e a pandemia zerada, eu veja o estádio cheio e esteja vibrando e comemorando com a torcida do Ceará.
De Vinícius pra Vina
Eu sou de Curitiba, e lá o apelido da maioria dos Vinícius é Vina. Desde pequeno, meu apelido sempre foi Vina. No ano retrasado, quando cheguei ao Galo, tinha o Alessandro Vinícius, que hoje está no São José-RS, e chamavam ele de Vinícius, e eu pensei: 'pô, você já está há mais tempo, podem me chamar de Vina'. No clube eu era visto como Vina. Até pedi meu nome como Vina, mas preferiram colocar Vinícius Góes. Mas a partir do momento que eu cheguei no Ceará, o Vina já estava pegando. Cheguei aqui, conversei com os diretores, e eles falaram 'sem problema'. E aí pegou! E foi a melhor temporada da minha carreira. Não sei se teve a ver com esse Vina, mas sou um cara supersticioso, vamos continuar com esse Vina aí [risos].
Pandemia: "maior medo é minha família"
O meu maior medo, hoje, é minha família. Vejo que a forma como —falo aqui do Ceará— tem o tratamento no dia a dia, com tudo para se prevenir, é bastante segura. Acho que o futebol ajuda o pessoal a ficar dentro de casa e ter aquele momento de lazer. A gente sabe que existe a política no meio de tudo isso, e por isso alguns Estados param, outros não... Mas vejo a parada do futebol de forma negativa, pois as pessoas estão examinadas, e todos os clubes estão tomando cuidado. É difícil você prevenir 100% porque não tem como, mas acho que, no futebol, ao menos no Ceará, a forma de você ter esse contágio é mínimo. Também penso muito na minha família, nos meus pais, que são do grupo de risco, e também existem as pessoas do clube mais idosas, e se tiver que parar, pelo bem da humanidade, tem que parar.
Ídolos: R10, Alex e Iniesta
Vou selecionar três. Dois eu tive o prazer de estar no mesmo grupo e jogar junto: Ronaldinho Gaúcho, no Fluminense, e Alex, no Coxa. E um pouco mais recuado, que para mim é um absurdo, é o Iniesta. O estilo de jogo dele sempre me encantou. O Ronaldinho não tive o prazer de jogar porque tive uma lesão quando ele chegou, mas o Alex sim. Treino de falta, eu ficava ali, para ver a batida, e de dez ele acertava nove, no mínimo. Era impressionante.
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