MLS deve superar Brasileirão em faturamento e mira melhores ligas do mundo
Quando o São Paulo anunciou a venda de Brenner para o FC Cincinnati, a primeira reação da torcida foi de surpresa por perder o jovem atacante para um time dos Estados Unidos. Só que a investida dos clubes americanos, que já estava em curso em outros países da América do Sul, chegou com força no Brasil nos últimos tempos. E pode ser medida por dois fatores: aumentar a qualidade técnica da Major League Soccer (MLS), mas também servir como trampolim para a Europa, sonho dos jogadores sul-americanos, e render ganhos financeiros aos clubes que os revendem.
Hoje a MLS conta com 23 brasileiros na liga e 44 argentinos atuando na América do Norte. A ida de Brenner para os Estados Unidos consolida a estratégia de tornar a liga americana confiável para o desenvolvimento de jovens jogadores, deixando cada vez mais no passado os tempos de veteranos desembarcando nos EUA para encerrar a carreira.
"Quando o Beckham chegou, virou a MLS 2.0. Agora estamos virando a MLS 3.0. A pandemia atrapalhou um pouco os planos. Mas a MLS quer chegar ao nível das cinco melhores ligas do mundo e não tem porque não chegar. Uma liga que está no 26º ano, muito pouco tempo, tem muita coisa pela frente. Talvez em quatro ou cinco anos entre no grupo das cinco melhores ligas", projeta Luiz Muzzi, vice-presidente de futebol do Orlando City, time que tem maioria brasileira em suas posições, tanto dentro quanto fora de campo. No time da Flórida, hoje, são cinco brasileiros (Alexandre Pato, Antônio Carlos, Ruan, Júnior Urso e Matheus Aias), um argentino, um uruguaio, dois equatorianos e um colombiano.
Segundo estudo da consultoria de marketing esportivo Sports Value, o Campeonato Brasileiro da Série A e a MLS dividem o sexto lugar no ranking das ligas que mais faturam, com U$S 900 milhões. Mas as projeções para a próxima temporada mostram que a MLS deve ultrapassar o Brasileirão e faturar U$S 1,3 bilhão.
Apesar da pouca penetração ainda de jovens jogadores brasileiros, a tendência é que as transações envolvendo atletas do Brasil aumente nos próximos anos, em parte pela valorização do Dólar frente ao Real, só que também por conta da possibilidade de crescimento profissional.
Um dos clubes que tem se notabilizado por desenvolver jovens jogadores é o FC Dallas. O caso mais famoso é do volante Weston McKennie, que chegou na escolinha do clube aos 9 anos, mas foi embora de graça do clube rumo ao Schalke 04-ALE em 2016. Como a US Soccer não tinha ainda um acordo com a Fifa sobre a utilização do sistema RSTP (Regulamento de Status e Transferência de Jogadores), o Dallas não pôde receber nem o valor referente ao Mecanismo de Solidariedade, que destina 5% ao clube formador do atleta.
A Fifa e a federação americana entraram em acordo em 2020. Com isso, os clubes ficaram mais seguros para investir nas categorias de base.
"A procura de agentes sul-americanos sempre foi grande e constante. Agora tenho visto mais interesse de agentes brasileiros de trazer jogadores para cá. Jogadores que antes não consideravam a MLS", afirma André Zanotta, diretor de futebol do FC Dallas. Recentemente o clube vendeu os laterais Reggie Cannon para o Boavista-POR e Bryan Reynolds para a Roma-ITA. No Dallas estão os brasileiros Matheus Bressan, Phelipe Megiolaro e Thiago Santos.
Além da proteção da legislação da Fifa, os clubes passaram a contar com incentivos da própria MLS para investir em jovens jogadores.
A principal delas se refere ao teto de gastos imposto pela liga. Cada clube pode gastar até US$ 5 milhões em salários por temporada. Para não furar o teto de gastos da MLS, mas ainda assim permitir que os clubes da liga possam competir com as promessas argentinas e brasileiras, a MLS criou o "young designated player", que vale para jogadores com até 23 anos. Esta é uma evolução do "designated player", mecanismo criado quando Beckham assinou com o Los Angeles Galaxy, para que o inglês pudesse receber um salário muito maior que os outros jogadores.
Cada clube da liga pode ter dois "designated players", que podem receber mais do que o teto do time. Se o atleta for menor de 23 anos, pode receber US$ 200 mil por ano, uma grande economia quando comparado ao valor que um jogador desse status acima dos 24 anos recebe: US$ 600 mil anuais.
Assim, Brenner, que marcou 22 gols em 44 partidas disputadas na temporada passada, foi só o último jogador de uma relação que tem nomes como Ezequiel Barco, campeão da Sul-Americana em 2018 com o Independiente-ARG sobre o Flamengo, o uruguaio Brian Rodríguez, que chegou a ser sondado pelo Rubro-negro carioca e que atua no LAFC, ou Miguel Almirón, paraguaio que explodiu no Atlanta United e hoje está no Newcastle-ING.
Além de compradora de jovens talentos, a liga quer se transformar em desenvolvedora e exportadora de jovens talentos. Firmou parceria com academias de futebol Estados Unidos afora e criou o MLS Next, programa que vai criar competições do sub-13 ao sub-19, regionais, para estimular a competitividade e assim fomentar o surgimento de novos talentos - e também para lucrar esportivamente e financeiramente nos próximos anos.
"A liga tem sido bastante física, bem rápida. Não é tão técnica quanto no Brasil e na Argentina. Mas os clubes europeus preferem ver o jogador adaptado aqui. Eles veem essa relação de jogador sul-americano vir para a MLS, se adaptar, jogar bem. O clima, a cultura, é diferente da América do Sul. Então, se o jogador se adapta e vai bem na MLS, os clubes europeus têm mais segurança em fazer o investimento nesse jogador, mesmo pagando um pouco mais caro do que pagaria se comprasse direto de um clube sul-americano", finaliza André Zanotta, do FC Dallas.
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