Ex-jogadores fazem renda extra na pandemia com vídeos exclusivos para fãs
Se até jogadores profissionais estão com medo das consequências financeiras da paralisação de competições devido ao descontrole da pandemia de covid-19 no Brasil, imagine ex-jogadores que muitas vezes contam com o cachê de jogos festivos e eventos corporativos para garantir o mês. Na falta desse tipo de renda, uma solução online foi descoberta por alguns: venda de vídeos exclusivos aos fãs.
Alex Silva, Cicinho, Dinei e Oséas são alguns dos boleiros com cadastro num site que funciona assim: a pessoa escolhe sua celebridade preferida, detalha o tema, paga e depois de alguns dias recebe uma mensagem em vídeo exclusiva e personalizada do ídolo. Geralmente são votos de aniversário, mas já rolaram pedidos de namoro, provocações sobre produtividade entre colegas de trabalho, incentivo para aulas online, revelação de sexo de bebê e até cobrança de dívida no maior bom humor.
A primeira vez que se noticiou algo assim foi nos Estados Unidos: uma empresa chamada Cameo, criada em 2017, bombou durante a pandemia e vendeu mais de 1,3 milhão de mensagens. O ex-jogador de futebol americano Brett Favre contou ao jornal Guardian que gravou 80 vídeos no Dia das Mães. O ator Brian Baumgartner, famoso pelo personagem Kevin da série "The Office", fez US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,6 milhões na cotação atual) na plataforma em 2020, segundo a revista Vanity Fair. Ele cobra US$ 195 (R$ 1,1 mil) por vídeo e enviou mais de cinco mil.
No Brasil, plataformas como Manda Salve e OKanal apostam no que se convencionou chamar de "marketplace para engajamento de celebridades". Outro site é o TamoVip, que tem a mesma estratégia e compartilha investidores com o Cameo.
Este começou no meio do ano passado com atores, cantores, youtubers e humoristas e chegou ao futebol em março. A pedido do UOL Esporte, os responsáveis pela plataforma mostraram os números de uma das personalidades do futebol durante uma semana de fevereiro: 11 vídeos gravados no total de pouco mais de quatro minutos (23 segundos cada, em média) que geraram ao famoso R$ 1.050 (R$ 95 cada gravação).
Hoje a internet é o maior meio de visibilidade para qualquer negócio, gera mais renda e patrocínio para os jogadores. Quando eu jogava tudo era muito diferente. As empresas que acreditavam no futebol eram poucas, o retorno era pouco. Quando tinha eram só as empresas muito grandes que iam atrás dos clubes famosos e olhe lá. Agora a internet dá mais oportunidades, estou sempre de olho."
Oséas, ex-atacante de Palmeiras e Cruzeiro
Segundo Fábio Filho, que é um dos responsáveis pelo TamoVip, Oséas recebe muitos pedidos de vídeos para relembrar a conquista do Palmeiras na Copa Libertadores de 1999. Esse elemento da nostalgia é muito presente na plataforma, que dá relevância digital e renda extra a personalidades que estão longe dos holofotes.
O medo do "cancelamento"
"Cancelar" é um termo recente usado na internet quando se decide boicotar o perfil e os conteúdos de pessoas famosas por causa de comportamentos que parte do público considera inadequado. O medo do "cancelamento" ainda é uma realidade nesta história de comercializar vídeos online.
"A ideia de cobrar o fã por um vídeo soa estranha. O medo do cancelamento ronda a classe dos famosos já há algum tempo. Nós trabalhamos para criar o hábito de que tornar um presente inesquecível na vida de alguém é incrível e mais forte do que qualquer opinião. O mais gratificante é sabermos que na nossa empresa o fã comprou algo incrível por um valor inferior ao de uma pizza, isso quebra esses julgamentos", conta o empreendedor espanhol Pedro Vizeu, um dos responsáveis pela plataforma no Brasil.
Já acontece quando um fã aborda uma celebridade na rua com o tradicional pedido "grava um vídeo para mim, para o meu pai, para o meu tio, etc" que eles em vez de negarem digam algo assim: "Gravo, sim. Entra lá no meu Instagram e clica no link da minha bio [a descrição que fica no topo do perfil] que eu gravo hoje mesmo." Novos tempos.
A qualidade dos vídeos produzidos pelas celebridades na plataforma também é um tema importante. Angeline Close Scheinbaum, que é professora de marketing esportivo da Universidade Clemson, nos Estados Unidos, disse ao Guardian que é preciso notar um "esforço sincero" do famoso na produção do vídeo — não dá para ser de qualquer jeito.
"Nós orientamos sempre sobre as melhores práticas, mas o pessoal facilita muito a nossa vida. Como são todos conhecidos e com boa bagagem de mídia, a maioria se dá bem super bem com a câmera e a qualidade do vídeo acaba impactando na mensagem pedida pelo fã", diz o executivo Fábio Filho.
Dos cerca de cinco mil vídeos já vendidos no Brasil há alguns em que a celebridade está dirigindo, deitada no sofá e até dentro da piscina.
Hudson é o recordista
"Em tempos de pandemia, isolamento social e cancelamento de shows e atividades com aglomerações, estamos gerando renda extra para comediantes, músicos e demais artistas. Por que não ex-jogadores?", questiona Joe Hirakuri, ex-jogador de beisebol e terceiro sócio do TamoVip.
Mas a plataforma também conta com jogadores na ativa. Um deles, aliás, é o recordista em pedidos: Hudson, volante do Fluminense com passagem marcante pelo São Paulo. O atleta cobra R$ 20 por vídeo gravado, entrega o produto em apenas cinco dias e doa sua arrecadação para entidades beneficentes associadas ao site — é uma possibilidade para todas as personalidades e uma das instituições contempladas é a Fundação Fenômenos, ligada a Ronaldo.
Entre outros nomes do futebol estão Alex Silva, Neto Baiano, Alline Calandrini, Paulo Miranda, Giovanna Crivelari, Nilton, Rosana e Luis Ricardo cobrando R$ 100 por vídeo, e Rodrigo (ex-zagueiro de São Paulo e Vasco), que cobra R$ 150, enquanto um vídeo de Cicinho chega a R$ 200 e de Dinei até a R$ 300. Outros são mais "econômicos", como Léo Moura (R$ 75), Oséas (R$ 50) e Kelly Santana (R$ 50).
De acordo com Hirakuri, outros boleiros serão adicionados em breve, porque futebol é o atual foco do site. Estão planejadas parcerias com empresas que cuidam da imagem dos jogadores e até com clubes. Um dos objetivos é ter páginas exclusivas para cada equipe em que será possível comprar uma mensagem de qualquer jogador.
A ideia é ter algum produtor de conteúdo na área do esporte que consiga bater os recordes da dupla de cães Mada e Bica, que é um absoluto sucesso no TikTok e no primeiro mês comercializando vídeos personalizados embolsou R$ 2.400. Ou melhor, quem embolsou foi Leonardo Bagarolo, dono das cadelinhas das raças pinscher e bulldog e "dublador" das produções.
Elas é que são o time a ser batido.
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