Goleiros de aluguel se arriscam em peladas para manter renda na pandemia
Diego Nascimento, 34, tenta se proteger como dá no gol das quadras de futebol society do Rio de Janeiro. Mesmo preocupado com a pandemia da covid-19, ele segue trabalhando como goleiro de aluguel nas peladas cariocas. Os R$ 600 que costuma tirar no fim do mês representam 25% de sua renda. "É uma compra completa de mercado que coloco para dentro de casa".
A profissão de goleiro de aluguel tem se popularizado pelo país. Funciona basicamente assim: aquele futebol entre amigos que sempre sofre para achar alguém para pegar no gol contrata um goleiro pagando entre R$ 40 e R$ 60, dependendo se ele vai ficar uma hora, uma hora e meia ou duas horas na quadra. Nos últimos anos, o aplicativo "Goleiros de Aluguel" chamou a atenção por fazer a ponte entre os goleiros e as peladas. Mas Diego faz as negociações por conta própria. "Normalmente é um amigo que me chama, aí o pessoal gosta e indica para outro. Nunca agarrei por aplicativo".
A função começou para Diego antes da pandemia, mas se intensificou quando a crise o fez perder o emprego de publicitário. Com as contas apertando em casa, ele aproveitou que as peladas estavam voltando em julho e agosto e decidiu intensificar o número de partidas. "Eu tenho medo de jogar bola na pandemia, não vou ser hipócrita, mas acaba sendo um tipo de trabalho para mim".
Desde que perdeu o emprego, Diego concilia as partidas de futebol com as corridas feitas como motorista de aplicativo. A soma traz uma renda para dentro de casa que varia de R$ 2 mil a R$ 3 mil por mês. Mas se não fosse pelo dinheiro, Diego afirma que não estaria jogando futebol. "Eu não me colocaria em risco para jogar bola. O dinheiro é o que motiva a ir".
Nilton Oliveira, 20, passou pelo mesmo dilema no início da pandemia. Ele estava desempregado desde 2018 e os R$ 500 reais que tirava como goleiro de aluguel era sua única renda desde então. Morando com três idosos dentro de casa, o paulistano do bairro do Tucuruvi, na Zona Norte de São Paulo, decidiu parar. "Não queria colocar em risco a vida deles".
A primeira parcela de R$ 600 do auxílio emergencial e as poucas partidas que fez antes de parar de vez seguraram as pontas até que ele conseguisse outro emprego. Em maio, foi contratado para trabalhar como segurança a meia hora de casa. "Eu faço meu serviço e volto para casa. Evito sair para não colocar a vida deles em risco".
Mesmo empregado, Nilton espera voltar a trabalhar como goleiro de aluguel quando as coisas normalizarem. Antes da pandemia, ele chegava a jogar em até quatro partidas por dia. "Eu chegava de manhã e só ia embora de tarde. Levava algo para comer no intervalo e passava o dia lá. Eu tratava isso como uma profissão mesmo".
Goleiros de aluguel fazem o próprio protocolo
Um gráfico publicado pela Associação Médica do Texas (TMA, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, em setembro do ano passado apontou o futebol como uma atividade de médio-alto risco de contaminação pela covid-19. Diego Nascimento tenta diminuir da maneira que dá as chances de ser infectado nas peladas.
"A gente tem uma falsa sensação de segurança como goleiro por não ter tanto contato com as pessoas. Nos primeiros jogos, eu jogava de máscara. Muita gente fazia isso. Agora eu não uso mais porque é muito difícil para jogar, mas o acordo que tenho com a minha mulher é o de acabou o futebol, casa. Não dá para ficar com resenha ou tomando cerveja."
Rafael de Miranda, 35, também atua como goleiro de aluguel no Rio de Janeiro, mas a ideia de jogar de máscara também não o agradou. "Não dá para respirar direito". A confiança em seguir atuando se baseia nos testes negativos que todo mundo que joga na pelada em que participa precisa apresentar.
Dentro de casa, em São Conrado, na Zona Sul, Miranda tenta se proteger da maneira que dá. Além do trabalho como goleiro de aluguel, que ele usa como renda para manter os treinos como goleiro, ele tem um salão de cabeleireiro na comunidade da Rocinha. "Todo mundo ficou com medo no início, fizemos até um estoque de álcool em gel. Quando chego do futebol, tento não tocar em nada dentro de casa até tomar banho", explica.
Com o agravamento da pandemia, os governos endureceram as medidas contra a covid-19 e as peladas pararam no Rio e em São Paulo. Diego e Rafael pretendem voltar a jogar quando as autoridades liberarem, mas Nilton seguirá esperando. "Só volto quando os idosos de casa forem vacinados e eu também".
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