Disputa de poder e novo material esportivo marcam chegada da CBF ao futsal
A notícia de que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) assumirá alguns pontos da gestão do futsal no país rompeu uma prática de quase 42 anos e agitou os bastidores do esporte perto da Copa do Mundo masculina da modalidade, em setembro, na Lituânia. A Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) não perdeu 100% da autonomia, mas os próximos meses serão de mudanças.
Um encontro marcado para o dia 16 estabelecerá as bases definitivas da transição. O que se sabe até agora é que a CBF passa a representar o futsal internacionalmente, perante Fifa e Conmebol — isso significa o controle das seleções masculina, feminina e de base. A CBFS perde essa atribuição, mas segue com a gestão das federações estaduais e torneios nacionais.
Mas ainda há pontos nebulosos, como a questão do material esportivo. As seleções brasileiras de futsal têm acordo desde o mês passado com a fabricante espanhola Joma, que substituiu a histórica Penalty.
Porém, a CBF tem contrato com a Nike, que passará a fornecer os uniformes das equipes nacionais no salão. Isso cria uma necessidade de rediscussão de termos e valores dos dois acordos. A Joma informou ao UOL que ainda não foi notificada sobre qualquer alteração contratual.
Outras novas atribuições da CBF sobre o futsal serão as burocracias de registros e transferências de jogadores, além de captação de patrocínios, administração e parte logística, além do contato com a Liga Nacional de Futsal.
Dirigentes ouvidos pela reportagem apontam que a decisão vinha sendo costurada há um tempo e não veem sinais de rompimento entre CBF e CBFS. Pelo contrário, a mudança de gestão é vista como possível propulsor para o desenvolvimento da modalidade no Brasil porque prevê o fim dos problemas para bancar amistosos, viagens, hospedagens, estrutura e competições. A reação positiva da comunidade do futsal mostra que a mudança talvez seja a única opção, apesar da óbvia perda de poder político da entidade que comanda o futsal brasileiro desde 1979.
CBF e CBFS conversam há meses. Os presidentes das entidades, Rogério Caboclo e Marcos Madeira, se reuniram em dezembro de 2020 para "tratar assuntos relativos ao futsal brasileiro e as ações da CBFS junto à seleção brasileira da modalidade", segundo informado na época.
Caboclo também teve encontros com a ala-esquerda Amandinha (eleita sete vezes a melhor jogadora do mundo), da seleção feminina de futsal, e com o fixo Rodrigo, da seleção masculina, além de alguns dirigentes.
Eu acredito muito na CBF, principalmente pela estrutura que ela tem para o futsal poder dar um salto gigantesco. A gente precisa tirar o futsal dessa falta de organização, dessa falta de apoio, dessa falta de estrutura. A gente tem um esporte incrível, gigantesco, mas que, infelizmente, é para poucos por não ter organização estrutural e eu espero que realmente agora o nosso esporte cresça."
Amandinha, em entrevista ao UOL, em janeiro
A entidade que controla o futsal foi fundada em 1979, logo após o fim da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), e teve o mesmo presidente até 2014, quando Aécio de Borba Vasconcelos renunciou em meio a acusações de corrupção e nepotismo. A atual administração assumiu no ano seguinte diante de problemas financeiros que atrapalham a gestão e geram críticas de grandes nomes, como Falcão.
Há no estatuto da CBF um mecanismo que permite interferência na CBFS, mas a ideia das articulações dos últimos anos foi evitar o rompimento definitivo e apostar numa espécie de gestão compartilhada. Em países filiados à Fifa é quase uma regra que as confederações nacionais de futebol conduzam também o futsal, sem entidades exclusivas para a modalidade.
O Brasil é uma das maiores potências mundiais do futsal, com sete títulos de Copa do Mundo no masculino e seis no feminino.
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