'Talvez, se tivesse ganho o Mundial, estaria mais infeliz', diz Emerson
A imagem de Cafu levantando a taça do pentacampeonato da Seleção Brasileira poderia ser um pouco diferente não fosse a lesão de Emerson. Homem de confiança de Felipão, o até então capitão foi cortado nas vésperas da estreia em razão de uma lesão no ombro, sofrida durante um rachão, quando atuava de goleiro.
Quase 20 anos depois, o ex-volante que hoje trabalha no mercado imobiliário dos Estados Unidos, revelou que o momento, mesmo que delicado, foi positivo para sua vida.
"Existem coisas na vida que acontecem e tem que ser daquela forma para a gente enxergar outras situações. O mundo viu um capitão ser cortado e aquilo foi um choque para todos. Foi para mim também, ainda mais naquele momento. Eu levei muito tempo para chegar ali. Já havia disputado uma Copa do Mundo, mas infelizmente perdemos para a França. Me preparei por mais quatro anos para chegar à seleção, nem pensei em ser capitão, com outros jogadores que tinham uma liderança muito boa, o próprio Cafu, que levantou a taça, um cara espetacular, que me ensinou muito. Mas aí acabo capitão naquela seleção, sempre com o sonho de levantar a taça. Aquilo é o máximo para um jogador de futebol. Mas, acabou que não tive essa possibilidade, porém, ao mesmo tempo aquele momento fez com que eu mudasse a minha vida. Foi quando enxerguei coisas que, se eu tivesse ganho aquele mundial, talvez estaria mais infeliz hoje", ponderou, em entrevista ao canal '1Bilhão Educação Financeira', no Youtube.
Emerson, que passou por um divórcio logo depois do Mundial, contou que a volta repentina e antecipada para casa contribuiu para que enxergasse a situação por outro ângulo, e conseguisse resolver as pendências na vida pessoal.
"Nas vezes em que me foi perguntado, eu falei pouco desse assunto, mas tive uma separação muito difícil. Depois, acabei enxergando que aquela não era a vida que queria, e foi relacionado a esse corte. Na minha volta para casa eu acabei enxergando algumas coisas que talvez por estar focado no futebol, não estava enxergando. Aquilo fez a mudança. Mas como é uma coisa muito pessoal, as pessoas ficam com a imagem do azarado que perdeu a Copa do Mundo, na verdade eu agradeço por poder enxergar outras coisas. Mesmo sabendo que aquilo ali era um sonho. Era a única forma que eu poderia enxergar minha vida de uma maneira diferente", lembrou.
O ex-jogador afirmou que a carreira de jogador é "traiçoeira", e elegeu a aposentadoria como um dos momentos mais difíceis para um atleta. "Eu tive, há alguns anos atras, um clube de formação, e eu dizia para os jovens que neste exato momento, existem muitas pessoas querendo chegar na seleção brasileira. Em uma copa do Mundo, são 23 convocados em um país que respira futebol, que todos tem o mesmo sonho. E são 23 a cada quatro anos. As chances de estar lá são pequenas. E eu tive a felicidade de participar de quase três Copas. A gente tem que dar valor a todo aquele esforço. E saber lidar também com a carreira, que é muito traiçoeira, em todos os sentidos", aconselhou.
"Eu joguei 20 anos como profissional e, quando você se vê, o corpo começa a pesar, as lesões chegam e você já não está mais acompanhando. Você começa a processar que vai ter que parar de jogar em seis meses, um ano, só que você tem no mínimo 50 anos de vida. Eu parei com 33 anos, parei novo, porque as lesões não me permitiram. Então, pensei no que ia fazer e qual caminho iria seguir. Eu continuei na área esportiva fazendo algumas coisas. Porém, só depois comecei um grande desafio na minha vida que foi abrir um clube de formação na minha cidade natal, onde fiquei durante três anos. Nesse período, foi muito bom porque aprendi muito. A gente acaba achando que sabe muitas coisas, acaba idealizando algo e tendo algumas surpresas".
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