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Palmeiras encara São Paulo de Crespo sob a sombra do Defensa y Justicia

Hernán Crespo, técnico do São Paulo, foi comandante do Defensa y Justicia, algoz do Palmeiras na final da Recopa Sul-Americana - Rubens Chiri / saopaulofc.net
Hernán Crespo, técnico do São Paulo, foi comandante do Defensa y Justicia, algoz do Palmeiras na final da Recopa Sul-Americana Imagem: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Thiago Braga e Thiago Fernandes

Do UOL, em São Paulo

16/04/2021 04h00

Menos de dois dias depois de perder a final da Recopa Sul-Americana, o Palmeiras enfrenta o São Paulo, hoje (16), às 22h, no Allianz Parque, pela quinta rodada do Paulistão. E embora 1.600km separem a capital paulista de Buenos Aires e que estejamos falando de competições completmante diferentes, o Verdão vai jogar novamente sob uma sombra que remete ao Defensa y Justicia, a equipe que levou o torneio continental ao derrotar o Alviverde nos pênaltis na quarta (14).

Foi justamente o argentino Hernán Crespo, hoje técnico do São Paulo, que comandou a campanha vitoriosa do Defensa y Justicia na Copa Sul-Americana 2020, o passaporte para os argentinos enfrentarem o Palmeiras, campeão da Libertadores, na Recopa.

"O [Sebastián] Beccacece [treinador do Defensa] herda do Crespo esse jogo ofensivo, mas tem dez anos que o Defensa tem essa ideia e busca técnicos protagonistas com laterais ofensivos e bola no chão. Ele passou a tentar que o Defensa tivesse mais solidez defensiva. Enquanto a equipe do Crespo criava 12 situações de gol por jogo", explica ao UOL o jornalista argentino Sebastián Purgart, que acompanha diariamente o El Halcón para o site Defensa Debate.

O clube argentino tem, desde 2009, modelo de administração que busca sempre contratar técnicos com estilo ofensivo. Já passaram por lá, antes de Crespo, nomes como do próprio Sebastián Beccacece, que eliminou o São Paulo de Rogério Ceni a Sul-Americana em 2017, no Morumbi, Diego Cocca e Ariel Holan, atual treinador do Santos. Depois da saída de Crespo, a diretoria optou pelo retorno de Beccacece.

"Quando Beccacece chega, volta a jogar com três zagueiros, ou uma linha de cinco defensores. Em jogo contra o Boca Juniors, em La Bombonera, e chuta duas vezes ao gol. As críticas foram pesadas no sentido de que o time havia perdido a ofensividade dos tempos de Crespo. Ele mudou o time para os dois jogos contra o Palmeiras, retomou um pouco do trabalho do Crespo e deu certo", completa o jornalista argentino.

Defensa y Justicia venceu o Palmeiras, de Rony, na final da Recopa Sul-Americana - Getty Images - Getty Images
Defensa y Justicia venceu o Palmeiras, de Rony, na final da Recopa Sul-Americana
Imagem: Getty Images

A mesma pegada

Análise feita por Rodrigo Coutinho, colunista do UOL, usando números da Opta Sports, mostram que as semelhanças entre o estilo de jogo do Defensa y Justicia e do São Paulo são muitas.

A média de passes trocados por jogo na comparação entre os dez jogos após o retorno de Beccacece ao Defensa e a chegada de Crespo ao São Paulo supera as 500 trocas de bola a cada partida. O Defensa fez, em média, 532 passes, enquanto o São Paulo, 584. Os argentinos tiveram efetividade de 82% e os brasileiros 86%.

O São Paulo conseguiu fazer mais gols e tem média 2,7, e o Defensa anota 1,8 gol por partida. Nos gols sofridos, nova vantagem tricolor, com 0,8 gol por jogo contra 1,7% do Defensa.

Em contrapartida, o Palmeiras, apesar dos títulos da Libertadores e da Copa do Brasil, apresenta irregularidade desde a vitória por 3 a 0 sobre o River Plate-ARG, fora de casa, pelo primeiro jogo da semifinal da Libertadores.

De lá para cá, foram 20 jogos, com oito vitórias, sete empates e cinco derrotas, com 26 gols a favor e 18 sofridos. O problema é que entre esses jogos estão as doloridas derrotas para o Tigres-MEX, na semifinal do Mundial de Clubes, e mais recentemente a virada do Defensa y Justicia, que deu aos argentinos a possibilidade de levar a decisão da Recopa para os pênaltis — sagrou-se campeão na sequência. Ao mesmo tempo, o time passou pelo Grêmio e levantou mais uma Copa do Brasil.

"O principal hoje é igualar a intensidade. Passa muito por aí. Questão de organização o Palmeiras sabe fazer. Sabe jogar fechadinho para jogar em contra-ataque, adiantar a marcação para tentar anular a saída de bola. Taticamente o Palmeiras vai saber se preparar. A minha preocupação é a parte física. Neste momento, está bem desigual entre um time e outro", afirma o colunista Rodrigo Coutinho.

Enquanto o Palmeiras jogou com o time titular na última quarta-feira (14), em Brasília, o São Paulo poupou grande parte de seus titulares.

Traduzindo

Crespo aproveita algumas ideias do período de Defensa y Justicia em sua passagem pelo São Paulo. A mais evidente delas é a formação adotada no Morumbi. Com três zagueiros, dá liberdade aos alas e coloca uma dupla no ataque, enquanto o meio de campo conta com outro trio de atletas.

O esquema tático é idêntico ao que o técnico utilizava em sua antiga equipe. O conceito de posse de bola e protagonismo também são replicados no time paulista. A ideia é que seus comandados controlem as partidas mantendo a bola e criem oportunidades com jogadas pelos lados do campo e infiltrações dos meio-campistas e alas.

"Tem a organização para atacar, trabalhando a posse, mas sabendo acelerar no terço final para finalizar. Mas é preciso considerar o contexto do clássico: o Palmeiras muito provavelmente irá com reservas e com o elenco abalado emocionalmente — o time estreia na Libertadores na quarta-feira (22), contra o Universitario-PER, em Lima. O São Paulo titular tem jogadores mais qualificados que o Defensa, porém em um início de trabalho do Crespo", explica André Rocha, colunista do UOL.

O trabalho de Crespo tem surtido efeito até aqui, com o São Paulo chegando a 76,19% de aproveitamento nos sete primeiros jogos sob o seu comando —pelo Paulistão, tem a melhor campanha. A equipe obteve cinco vitórias, um empate e uma derrota neste período, com 19 gols a favor e 13 sofridos.

O futebol apresentado pelo São Paulo tem características semelhantes ao do Defensa y Justicia. A decisão da última quarta-feira (14), inclusive, foi motivo de atraso de Hernán Crespo para a entrevista coletiva após o jogo contra o Guarani, pelo Paulistão. O técnico ficou no vestiário assistindo à prorrogação e à disputa de pênaltis e demorou para chegar à sala de imprensa do Morumbi e atender os jornalistas.

"Eu vi o final. Independentemente do Palmeiras, que é importante no futuro imediato, eu vi a parte final e fiquei satisfeito pelo Defensa y Justicia ganhar outro título com os jogadores que, há três meses, eram meus jogadores. Estou feliz por conhecer a situação, parabéns ao Defensa y Justicia", declarou o treinador ao fim do compromisso.

No jogo de hoje, Crespo vai manter a forma de jogar do São Paulo, com três zagueiros, dois alas abertos, um trio no meio de campo e uma dupla no setor ofensivo. A forma de atuar será trabalhada ainda no período desta manhã em treino mais curto no CT da Barra Funda.

FICHA TÉCNICA:

PALMEIRAS x SÃO PAULO
Motivo: 5ª rodada do Paulista 2021
Local: Allianz Parque, em São Paulo (SP)
Data: 16 de abril de 2021 (sexta-feira)
Horário: às 22h (de Brasília)
Árbitro: Raphael Claus (SP)
Assistentes: Fabrini Bevilaqua Costa (SP) e Alex Ang Ribeiro (SP)
VAR: Vinícius Furlan (SP)

PALMEIRAS: Jaílson; Mayke, Kuscevic, Alan Empereur e Esteves; Gabriel Menino, Zé Rafael e Gustavo Scarpa; Giovani, Willian e Luiz Adriano. Técnico: Abel Ferreira

SÃO PAULO: Tiago Volpi; Arboleda, Bruno Alves e Léo; Igor Vinícius, Luan, Rodrigo Nestor, Daniel Alves e Reinaldo; Luciano e Eder (Pablo). Técnico: Hernán Crespo