"Ainda existe racismo, precisa dar um basta", diz Léo Jabá na volta ao país
Apenas 18 anos e cheio de sonhos. Foi assim que em 30 de março de 2017, Léo Jabá fez seu primeiro gol como profissional pelo Corinthians. Curiosamente, o que mais marcou, além do feito, foi a entrevista concedida ao SporTV, ao final da partida, quando analisou suposta pressão que carregava por ser uma promessa das divisões de base, emendando da seguinte maneira:
"Pressão é um pai de família sair de casa às 7h da manhã e não saber se vai voltar com alimento para o filho. Jogar com 20, 30 mil pessoas não é pressão. É isso que a gente gosta de fazer", disse na ocasião.
Hoje aos 22 anos, o atual atacante do Vasco ainda está no início da carreira, mas já carrega no currículo três temporadas na Grécia, uma na Rússia e muitas histórias para contar, boas e ruins.
Recuperado de grave lesão que o deixou longo tempo inativo e com medo até mesmo de encerrar precocemente sua jornada, viu as portas do Vasco se abrirem e não pensou duas vezes. Aos poucos, tem retomado o ritmo de jogo e feito boas partidas. Ele, inclusive, foi titular na vitória sobre o Resende, no último sábado (24), e relembrou a marcante entrevista e, fazendo paralelo com o cunho social de seu depoimento, enalteceu a história do Cruz-Maltino de luta pelas classes menos favorecidas e contra o racismo.
"Eu dei essa entrevista contanto a realidade. Foi de coração. Todos nós temos uma pressão e obrigação, mas quem tem menos condições financeiras sofre muito mais. Eu sei da história do Vasco, que foram negros e operários que lutaram para fazer o estádio e o clube. Eu fico orgulhoso disso. Orgulhoso por conhecer essa grande história do clube e agora fazer parte dela", declarou ao UOL Esporte.
Sabemos que ainda existe racismo, mas isso tem que acabar. Ninguém é melhor do que ninguém. Somos iguais, somos seres humanos. Nós, jogadores de futebol, temos que combater o preconceito. Precisamos servir de exemplo para a sociedade e dar um basta nisso."
Embora já carregue uma experiência europeia, Jabá ainda tem seu lado garoto que foi, de certa forma, reativado com a convivência agora com os Meninos da Colina, a geração de jovens talentos vascaínos é grande maioria do elenco atual.
"Apesar de ainda ser jovem, ter contato com os garotos me lembra a época das minhas primeiras oportunidades com o elenco principal do Corinthians, aos 16 anos. Um dia eu fui um menino sonhador, que estava começando também. A experiência com os meninos que vêm da base é muito boa. Eles conversam e brincam, isso deixa o clima bem legal. Espero ajudá-los assim como já recebi a ajuda de bons jogadores", destacou.
Por enquanto, são apenas quatro jogos, mas além de demonstrar ser pé quente — por ter vencido o Flamengo e ajudado o Vasco a quebrar um tabu de 17 jogos sem ganhar do rival — sentiu o gostinho de jogar no histórico Maracanã, algo que ainda não havia saboreado.
"Foi uma marca que ficará para sempre na minha vida. Primeira vez no Maracanã, logo em um clássico, sabendo da repercussão do jejum. Ficará marcado por tudo. Fiquei muito feliz por poder jogar, ainda mais com a vitória. Foi um grande dia, sem nenhuma dúvida. Foi muito gostoso ver a torcida comemorando essa vitória. Elenco, comissão e torcida tiveram o mesmo sentimento de alegria", comentou.
Jabá foi titular pela primeira vez no confronto com o Resende e foi bem. Ele foi o autor da assistência para o gol de Germán Cano, a sua segunda com a camisa do Vasco, já que anteriormente havia dado passe para o gol de Gabriel Pec no empate com o Boavista.
Mais maduro, ele elogiou o início de trabalho que tem sido realizado pelo técnico Marcelo Cabo, avaliando que o treinador possui características europeias:
"O trabalho está sendo muito bom. O Marcelo Cabo é um treinador que conversa muito com os jogadores, que tem uma ideia de trabalho muito boa, bem parecida com o estilo europeu. São trabalhos intensos, que mexem muito com o jogador para que ele se entregue cada vez mais. Isso faz com que todo elenco esteja em sintonia. Eu estou gostando muito."
Veja outros tópicos da entrevista com Léo Jabá
UOL Esporte: Como tem sido este seu início de readaptação ao futebol brasileiro?
Léo Jabá: Minha readaptação ao futebol brasileiro está fluindo bem. Eu fui bem recebido e os trabalhos estão sendo fortes. Não tenho nenhuma dificuldade, estou me adaptando muito bem. O bom clima entre elenco e comissão técnica colabora demais para isso.
UOL Esporte: No Vasco você reencontrou antigos companheiros como Marquinhos Gabriel e Léo Matos. O quanto eles foram importantes para você tanto no Corinthians quanto no PAOK?
Léo Jabá: Encontrei companheiros que já joguei antes. O Léo, na Grécia, o Andrey, na Seleção [categorias inferiores]. É bom ter conhecidos no elenco. Eles dão conselhos e também ajudam a ficar mais à vontade na rotina de treinos e jogos. Tudo isso torna o ambiente ainda mais agradável.
UOL Esporte: Você acha que lhe faltaram mais oportunidades no profissional do Corinthians?
Léo Jabá: Eu comecei bem no Corinthians e dei o meu melhor. Infelizmente não tive mais oportunidades. Então fui em busca do meu sonho, fui para fora do país e graças a Deus deu tudo certo. Hoje voltei ao Brasil porque o Vasco abriu as portas para mim e eu estou muito feliz. Sempre terei gratidão e carinho pelo Corinthians por ter me revelado.
UOL Esporte: O que tem achado do trabalho do Abel Ferreira no Palmeiras? Como era sua relação com ele?
Léo Jabá: O trabalho do Abel no Palmeiras começou vitorioso. O elenco tem muitos atletas com qualidade. Infelizmente, no PAOK eu não tive muito tempo de trabalho com ele. Fiz a pré-temporada com ele e, quando foram começar os campeonatos, tive a lesão no joelho. O que posso falar é que ele é um treinador jovem, inteligente e tem uma comissão técnica espetacular, que passa muitos ensinamentos para a evolução dos atletas.
UOL Esporte: Recentemente você deu relatos emocionantes sobre o drama que passou com o joelho. Como tem se sentido agora que está voltando a ter uma sequência de jogos? Já consegue atuar os 90 minutos?
Léo Jabá: É uma sensação muito boa. Estou voltando à rotina de antes da lesão, com sequência de jogos e concentração com time. Foi um tempo muito difícil para mim, para minha família e para as pessoas que gostam de mim. Graças a Deus, sigo superando isso. Cada dia é uma vitória. Fico muito feliz pelas coisas que estão acontecendo. Agradeço primeiramente a Deus, e sou grato aos meus pais, minha esposa e meu empresário. Eles foram muito importantes para mim nessa fase. E agora também agradeço ao Vasco pela confiança. Por acreditar que eu posso render e ajudar o time.
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