Na Libertadores, Flu revê Santa Fe após 57 anos: 'Encheram estádio por nós'
Após a maratona de viagens, o Fluminense enfrenta o Independiente Santa Fe, hoje (28), às 21h, no estádio Centenário de Armênia, pela Copa Libertadores, 57 anos depois do último confronto contra 'Os Cardeais'. Em 1964, o Tricolor viajou a América do Sul e disputou torneio com River Plate, Millionarios (COL) e o adversário desta noite, em Bogotá. Zagueiro daquele time, Procópio Cardozo lembra bem dos confrontos.
"Eles encheram o estádio para nos ver. O grande time colombiano naquele momento era o Millionarios, arquirrival deles, de Bogotá. Eram famosos por levar grandes jogadores para a Colômbia, como o [Alfredo] Di Stéfano. Nós os vencemos, inclusive. A torcida do Independiente Santa Fé encheu o El Campín para ver os brasileiros. Éramos uma atração, como o River Plate, já um time muito reconhecido na época", relembra.
Procópio chegou ao Fluminense em 1963, aos 23 anos. Ao pisar em Laranjeiras, se deparou com Castilho, Jair Marinho e Altair, já campeões do mundo pela seleção. Recebeu deles a faixa de capitão do time, que descreve como "a maior honra" de sua carreira. O zagueiro clássico que chegou do Cruzeiro foi campeão do Carioca em 1964 e ainda voltou, já técnico, para comandar a equipe em 1989.
Aos 82 anos, ele atendeu ao UOL Esporte por telefone e relembrou grandes momentos com a camisa tricolor, não sem antes admitir a torcida pelo clube.
"Sou tricolor de coração. A música que toca quando ligam para o meu número é o hino do clube. É a maior paixão que tive na vida. Eu gosto de muitos times que joguei, que graças a Deus foram muitos grandes como Cruzeiro, Atlético, Palmeiras e São Paulo, mas nada como o Fluminense. Estarei na torcida novamente na Libertadores", conta.
A viagem para a Colômbia em 1964, na verdade, não traz só boas lembranças para Procópio, que destaca o bom futebol da equipe e o grande jogo contra o River Plate — em que o Flu acabou derrotado por 2 a 1. Na volta ao Brasil, o então técnico Fleitas Solich, que tinha problemas com a diretoria e alguns jogadores, acabou demitido.
"Aconteceram algumas coisas fora de campo que não foram legais, e a insatisfação do Solich com os dirigentes era recíproca. Uma pena, pois era um grande técnico, o time era muito bom, apesar das duas derrotas que tivemos. Do jogo contra o Independiente Santa Fé, lembro que fomos melhores, mas sofremos um gol bobo, infelizmente. Vou torcer para que não se repita [risos]."
Em 9 de fevereiro de 1964, o Fluminense enfrentou o Independiente Santa Fé no El Campín e saiu com a derrota por 1 a 0. Aquele time, entretanto, foi a base do título estadual, que viria sobre o Bangu, no Maracanã, com duas vitórias. Em Bogotá, assim como em outras cidades com altitude, como La Paz e Lima, onde atuou pela seleção, Procópio garante não ter sentido a altitude.
"A velocidade da bola até muda um pouco, mas quem sabe jogar bola não tem problema com isso. É bem menos que na Bolívia, mas não atrapalhou não. Nem tocávamos nesse assunto na época. Foram três jogos muito disputados, não senti nada do que falam. É lógico que muda alguma coisa, tempo da bola, falta um pouco de ar, mas quem tem saúde não chega a se incomodar tanto assim", lembra.
Em Armênia, palco do jogo desta noite, entretanto, o Flu não terá a altitude como grande fator. O estádio Centenário fica apenas 1.480 metros acima do nível do mar, menos até que Poços de Caldas (1.600 m), onde o ex-zagueiro cansou de jogar.
"Lógico que não senti nada [risos]. Nem sabia que era essa altura toda. Às vezes isso é psicológico também. Com a saúde em dia, a cabeça boa e sendo bom de bola, não vai ter sofrimento.
Naqueles tempos, Procópio destaca que o Tricolor era um modelo de gestão, e o salário caía adiantado, uma semana antes do fim do mês: "era o sonho de todo jogador", recorda.
Por isso, apesar do retorno à Libertadores, o ex-zagueiro e treinador não acompanha o clube tão de perto. Fica triste ao ver seu Tricolor com times fracos. Além disso, morando em Belo Horizonte, nem sempre consegue assistir aos jogos.
"Mas agora vamos torcer pelo título dessa Libertadores. O Fluminense, naquele tempo em que viajamos a América do Sul, já era muito reconhecido. Sempre foi um time que fascinou não só pela disciplina, como diz o hino, mas também pelos grandes jogadores. Agora tem o Fred, que, infelizmente, não tive a sorte de trabalhar, mas é um grande centroavante. Vou torcer para ele fazer gol!", diz.
Informado que o camisa 9 passaria Orlando Pingo de Ouro na artilharia histórica do clube com mais duas bolas na rede, fez campanha, e relembrou o ídolo do passado.
"Quando eu era mineiro em BH, o Orlando jogava no Atlético. A gente ia ver ele jogar no Independência, ele era extraordinário. Quando fui jogar no Fluminense, conheci, conversei muito com ele, Píndaro, Bigode, Pinheiro. O Fluminense é diferente dos outros. É um clube de amizade, de camaradagem. Esses jogadores amavam o clube, iam todos os dias lá depois de parar de jogar, conversar com os atletas. O Orlando era cracaço. Pequenininho, mas era um meia-atacante que fazia de tudo em campo. Mesmo assim, tomara que o Fred ultrapasse. O bom da história é sempre poder escrevê-la e atualizá-la."
Incerteza, mudança de local e 'multa': Flu tem maratona na Colômbia
Enquanto voava até a Colômbia, o Fluminense viu muitas mudanças acontecerem. Com o El Campín, casa do Independiente Santa Fe, já cedido à Conmebol para a Copa América, um decreto da Prefeitura de Bogotá impediu que o jogo fosse disputado na cidade. Assim, a partida não seria mais realizada no Metropolitano de Techo, e indefinição do palco do confronto durou horas e iniciou a maratona para o Tricolor.
Representantes do Santa Fe, do La Equidad — que joga amanhã (29) contra o Aragua (VEN), pela Copa Sul-Americana — e da entidade máxima do futebol sul-americano se reuniram para definir onde as partidas seriam disputadas.
A primeira opção dos colombianos era Tunja, onde teriam a altitude de 2.800 metros a favor. A prefeitura da cidade, entretanto, negou o pedido, bem como Manizales (2.100 m). Restaram, então, Pereira (1.400 m), onde será disputado o duelo La Equidad x Aragua, e Armênia (1.480 m), onde o Independiente Santa Fe receberá o Tricolor.
Só quando pousou em Bogotá que o Flu soube da alteração. Por isso, precisou refazer sua logística e conseguir uma autorização especial para fretar um voo para a capital de Quindío, estado conhecido como eixo cafeeiro do país. Na cidade onde será disputado o jogo, há um pequeno aeroporto, de El Éden, onde pousará o avião fretado pelo clube.
A situação gerou uma "multa" da Conmebol ao Santa Fe, que precisará reembolsar os US$ 50 mil gastos para a logística do Fluminense de Bogotá à Armênia. A informação da Rádio Globo foi confirmada pelo UOL Esporte. A maratona chegará ao fim amanhã, pela manhã, quando o Tricolor viajará para a cidade onde a partida será disputada. Em 2020, a seleção olímpica, com a participação de Nino, atuou no estádio Centenário, conhecido por ter uma plantação de café ao lado do campo.
FICHA TÉCNICA:
INDEPENDIENTE SANTA FE x FLUMINENSE
Motivo: Copa Libertadores - segunda rodada do Grupo D
Data: 28/04/2021 (quarta-feira)
Horário: 21h (de Brasília)
Local: estádio Centenário, Armênia (COL)
Árbitro: Andrés Cunha (URU)
Assistentes: Andres Nievas (URU) e Pablo Llarena (URU)
Onde ver: Conmebol TV e tempo real do Placar UOL.
INDEPENDIENTE SANTA FE: Castellanos; Alexander Porras, Torijano, Jeisson Palacios, Mosquera; Giraldo, Pico, Caballero (Velásquez); Osorio, Árias e Jorge Ramos. Técnico: Harold Rivera
FLUMINENSE: Marcos Felipe; Calegari, Nino, Luccas Claro e Egídio; Martinelli, Yago e Nene (Cazares); Kayky, Fred e Luiz Henrique. Técnico: Roger Machado
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