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Por que a CBF procurou Xavi para a seleção e o que deu errado

Xavi, treinador do Al-Sadd, é cotado para assumir o cargo no Barcelona - Kai Pfaffenbach/Reuters
Xavi, treinador do Al-Sadd, é cotado para assumir o cargo no Barcelona Imagem: Kai Pfaffenbach/Reuters

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

19/05/2021 04h00

Um encontro nada programado, na final do Mundial de Clubes, em fevereiro deste ano no Qatar, foi a oportunidade perfeita para que a CBF pudesse levar adiante uma ideia arrojada: oferecer ao espanhol Xavi um emprego na seleção brasileira. Àquela altura, o presidente Rogério Caboclo já tinha conversado com o técnico Tite e o coordenador da seleção, Juninho Paulista, a respeito do lendário ex-volante do Barcelona e hoje técnico do Al Sadd.

O projeto fugia ao padrão aplicado na seleção brasileira: contar com os serviços de um estrangeiro como um auxiliar de Tite —informação dada inicialmente pelo jornal "As". Mas o UOL Esporte apurou que a relação profissional iria além: com reputação e acesso a grandes clubes e seleções da Europa, Xavi também atuaria como uma espécie de observador técnico.

Ele não estaria necessariamente ao lado de Tite nas datas Fifa. A principal preocupação, na estratégia prevista pela CBF, era que Xavi pudesse estudar a fundo o trabalho aplicado nos principais concorrentes do Brasil na Copa do Mundo do Qatar, em 2022, a ponto de desvendá-los. Ao mesmo tempo, o catalão teria a vantagem geográfica para visitar potenciais jogadores selecionáveis na rota rumo ao Mundial e coletar mais informações.

Uma rede de informantes

No ciclo passado, o ex-lateral-esquerdo Sylvinho —que, inclusive, jogou com Xavi no Barcelona— era o auxiliar de Tite que fazia um pouco esse papel na Europa, por morar lá. Mas agia em voos solo. Pelo que a CBF discutiu internamente, o trabalho dessa vez não seria exclusivo de Xavi. O espanhol teria a prerrogativa de contratar pessoas de confiança para ajudá-lo, formando uma rede de observação e acompanhamento.

A conversa entre Xavi e Rogério Caboclo no Education City Stadium, em Doha, onde o Bayern de Munique venceu o Tigres-MEX, por 1 a 0, durou cerca de dez minutos. Xavi se surpreendeu pelo interesse, ficou curioso sobre como seria uma eventual mudança para o Brasil. Foi a única vez que eles se falaram diretamente.

A partir dali, a negociação avançou entre o agente do treinador e outros dois nomes da CBF: o italiano Marco Dalpozzo, diretor de recursos humanos e da CBF Academy, e Lorenzo Perales, diretor comercial, contratado em fevereiro pela entidade. Perales também é espanhol e trabalhou no Real Madrid.

A CBF não prometeu diretamente a Xavi a projeção de ser o sucessor de Tite, após a Copa 2022. O treinador já disse que deixará o cargo após o Mundial. Mas a hipótese de avaliação futura sobre estender o laço profissional com Xavi, especialmente em caso de hexa, ficou aberta.

Por outro lado, a CBF disse em nota que "nenhum detalhe de maior profundidade, como valores, prazos de contrato e garantias sobre seu futuro profissional, foi negociado". A ideia era que Tite ainda tivesse uma conversa com o próprio Xavi para sentir se haveria entrosamento entre eles.

Quando a CBF fez o contato com Xavi, em fevereiro, o contrato dele com o Al Sadd estava próximo de expirar (junho). Mas as tratativas esfriaram nos meses seguintes, culminando com a renovação com o clube do Qatar até junho de 2023, fato anunciado em 13 de maio.

O plano de carreira de Xavi não é ficar a vida toda no país do Oriente Médio no qual encerrou a trajetória como jogador. Treinar o Barcelona é meta conhecida. A concretização disso depende de fatores técnicos e políticos. Sair do comando de um time para ser auxiliar da seleção o tiraria da rota de evolução como treinador. Com a falta de posicionamento sobre o futuro do comando técnico do Barça, embora Ronald Koeman esteja balançando, Xavi também não quis estender mais a negociação e resolveu a vida a curto prazo.

No lado brasileiro, a visão ainda é a de que é preciso mergulhar no que está sendo feito pelas seleções da Europa.