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"Antimattos", Anderson Barros já pode superar antecessor e mira Brunoro

Rony é apresentado no Palmeiras ao lado de Anderson Barros (esq.) e Edu Dracena (dir.) - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
Rony é apresentado no Palmeiras ao lado de Anderson Barros (esq.) e Edu Dracena (dir.) Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação

Diego Iwata Lima

De São Paulo

23/05/2021 04h00

Se a ideia era romper com o modo de trabalhar de Alexandre Mattos, o presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte, não poderia ter escolhido alguém com perfil mais adequado que Anderson Barros. Econômico, avesso à badalação e aos holofotes, Barros é a antítese de Mattos, exceto em um ponto: o apreço pelas conquistas.

No Palmeiras desde o fim de 2019, o atual diretor de futebol do clube já tem no currículo um Campeonato Paulista, uma Copa do Brasil e uma Copa Libertadores, todos da temporada 2020.

Mattos, peça fundamental da reinserção do Palmeiras na prateleira do topo do futebol brasileiro, deixou o clube com três títulos conquistados: uma Copa do Brasil (2015) e dois Brasileiros (2016 e 2018).

Se o Palmeiras bater o São Paulo neste domingo (23) e ficar com o título paulista, Barros vai ultrapassar Mattos em quantidade de conquistas e se aproximar dos números de títulos de primeira grandeza de um outro gestor profissional ilustre na história do clube: José Carlos Brunoro.

Homem forte do futebol na co-gestão Palmeiras-Parmalat, Brunoro trabalhou no Alviverde em duas passagens. Na primeira, entre 1992 e 1996, conquistou três Paulistas (1993, 1994 e 1996), dois Brasileiros (1993 e 1994) e um Rio-São Paulo (1993). Na segunda passagem, entre 2013 e 2014, Brunoro conquistou também a Série B com o clube.

Considerando que o Rio-São Paulo já não existe, e que "classificar-se" para a segunda divisão é um demérito que o Palmeiras não quer nunca mais ter, faltaria apenas mais uma conquista, se o Paulista vier, para Barros empatar com Brunoro.

Anderson Barros não usa nem mesmo o Whatsapp

De porte físico avantajado, Alexandre Mattos não passa despercebido em nenhum ambiente - nem mesmo no virtual. Quem segue as redes sociais do Palmeiras ou dos jogadores do clube sempre se depara com uma curtida ou comentário do ex-diretor , que começou sua carreira no América-MG, passou por Cruzeiro e, depois do Palmeiras, trabalhou no Atlético-MG.

Comentários e emojis com porquinhos, aplausos ou pequenas labaredas de fogo, comemorando sucessos do Palmeiras, são constantemente postados pelo profissional mineiro, que parece ter mesmo se apaixonado pelo clube paulista. No fim de 2018, após a conquista do Brasileiro, praticamente todo elenco e comissão técnica do Palmeiras, incluindo o técnico Felipão, estiveram em Trancoso para o casamento de Alexandre, que preza pela amizade com os jogadores e costuma participar até de grupos de Whatsapp com os mais chegados.

Maurício Galiotte e Anderson Barros - Cesar Greco - Cesar Greco
Maurício Galiotte e Anderson Barros
Imagem: Cesar Greco

Barros, por outro lado, nem mesmo usa o aplicativo de troca de mensagens. E, ainda que não estivéssemos enfrentando um período de reclusão forçada, ele dificilmente seria visto badalando pela capital paulista.

Metódico e entusiasta de cálculos e relatórios, Barros entende seu lugar de diretor como se estivesse numa empresa de qualquer outra indústria, cumprindo metas e planos sem se deixar abalar pelo calor do campo de jogo ou das arquibancadas - ainda que, atualmente, elas sejam virtuais.

Isso nem sempre o favorece. O Palmeiras, afinal, é um clube de futebol.

Antes de chegar ao Alviverde, o executivo estava no Botafogo. Passou também por Flamengo, Coritiba, Figueirense, Vasco, Bahia e Vitória.

Barros teve de ser econômico, e perfil casou com o momento

Se tivesse chegado ao clube em um momento de maior bonança financeira, Barros talvez estivesse se portando de maneira, digamos, mais exuberante no mercado. Mas a verdade é que seu perfil introvertido e gerencial casou perfeitamente com o momento do clube, que antes mesmo da pandemia de covid-19, já tinha traçado metas de economia de recursos e contenção de gastos.

Pessoas que já se sentaram à mesa com Barros contam que ele é o tipo de negociador que barganha R$ 20 mil em transações de R$ 20 milhões. Que examina cada pormenor para encontrar modos de melhorar o balanço da transação em favor do Palmeiras. Fama da qual o diretor certamente se orgulha.

Barros fez apenas seis contratações desde que chegou ao Palmeiras: Matias Viña, Rony, Breno Lopes, Kuscevic, Danilo Barbosa e Alan Empereur —este último, por empréstimo. Apenas para efeito comparativo, Mattos contratou 70 atletas em cinco temporadas, quando a mentalidade do clube era mais compradora.

Mas foi também na gestão Mattos que as categorias de base do Palmeiras deram um salto qualitativo. Com a diferença de que Alexandre tinha como filosofia negociar os jovens jogadores para manter os medalhões do time profissional. Na gestão Barros, a mentalidade é colocá-los em campo.

O fato é que mesmo gastando pouco e aparecendo menos ainda, Anderson Barros já gravou seu nome na galeria de personagens marcantes da história do clube. E ainda conta com tempo e campeonatos para fazer crescer sua fama - ainda que ser famoso não seja um de seus objetivos.