Destaque do Flu, Yago pensa 'fora da bolha' da bola: "Jogador não é robô"
Yago Felipe costuma se desdobrar em campo para ajudar o Fluminense. Versátil e com pulmão privilegiado, o volante invadiu a área do River Plate aos 47 minutos do segundo tempo para marcar um golaço e garantir a classificação do Tricolor às oitavas de final da Libertadores. Destaque dentro de campo, o jogador de 26 anos também é diferenciado nas opiniões fora dele.
Em pouco mais de 30 minutos de conversa com o UOL Esporte por videoconferência, Yago não se restringiu às quatro linhas.
"Jogador não é robô, nós somos seres humanos. Posso me posicionar. Não é porque sou jogador que tenho que falar só de futebol. As pessoas pensam que jogador é um robô feito só para jogar bola. Que se perder na quarta, não pode ir à praia ou ao restaurante na quinta. Só pode sair se vencer o próximo jogo. Como se a gente não tivesse direito a ter vida social, exceto quando estamos vencendo", destaca.
No campo e bola, o momento é propício para o cearense de Limoeiro do Norte, titular absoluto de Roger Machado e pilar da equipe que desbancou o favorito River para chegar à liderança do grupo D da competição internacional.
"Mosca branca" do treinador, o volante apareceu bastante como elemento surpresa no ataque no Monumental. Antes de balançar as redes em belo gol, parou no travessão no primeiro tempo. Para ele, a melhor atuação de sua carreira.
"Por tudo o que envolvia, foi sim o maior jogo da minha carreira. Foi extremamente dificil, a gente poderia ser eliminado com a derrota, não sabíamos do resultado do outro jogo, então precisávamos vencer pela classificação. Também entendo que foi um jogo não só muito bom meu, todos tiveram numa noite inspirada e conseguimos sair classificados", analisa.
Foi assim que, em novembro de 2020, o jogador pediu o microfone após uma entrevista coletiva e protestou pelo caso Mari Ferrer. Antenado às questões fora de campo, destaca o gosto pelos livros, as conversas sobre investimentos com os companheiros e até planos para o fim da carreira, algo que ainda não decidiu: "Alguns estão mais perto, né?", brinca, citando Nenê, alvo de brincadeiras do elenco pelos quase 40 anos.
"A gente procura não ficar só na 'bolha da bola'. Isso é do meu perfil. Nós, jogadores, temos um alcance muito bom. Somos figuras públicas, e se nós nos posicionarmos mais, ajudaremos mais nas causas. Alguns jogadores são mais reservados. Mas gosto de opinar, de falar. E sempre que puder ajudar em alguma causa me posicionando, farei", conta.
Também por isso, acredita que a grande mudança que fez o Fluminense ter grande atuação e bater o River no Monumental não se deve à tática, e sim ao comportamento. Mesmo que saiba a importância das palavras, Yago opina que o elenco decidiu mostrar em campo que poderia dar a volta por cima após a derrota na final do Carioca, mesmo com pouco tempo para pensar.
"Teve essa mudança de jogadores, tática, mas o fundamental foi a mudança de postura. A gente tem um grupo muito forte. Quem o Roger [Machado] coloca para jogar tem a confiança de todos, e eles deram conta do recado. O fator determinante foi a postura. A gente já estava comentando depois da final do Carioca que não havia tempo para lamentar. Era o jogo do ano, então precisávamos dar uma resposta e mudar o comportamento, nossas atitudes em campo. Conseguimos".
A virada de chave do Tricolor não surpreendeu o jogador, que vê a desconfiança externa como motivação para o elenco. No clube, Yago e seus companheiros sabem que o respeito se conquista em campo, e que o Flu, forte mentalmente, chega mais temido às oitavas de final após liderar o "grupo da morte" da Libertadores.
"Em toda a temporada passada, a gente estava lá em cima e todos falavam que uma hora cairíamos. Que a gente não ia se classificar. Quando classificamos, deixaram claro que achavam que era por demérito dos outros, que não era mérito nosso. E a gente se classificou. Aí, chegou a história de grupo da morte, falaram que a gente ia para a Libertadores passear, brigar no máximo pela segunda vaga do grupo. Classificamos em primeiro. Já provamos que muitos estavam errados. Isso nos fortaleceu muito mental e internamente. A gente passar em primeiro traz muita confiança. Agora não tem muito o que escolher. São os 16 melhores times do continente, vamos seguir trabalhando para chegar ao nosso objetivo, independente do que falem de nós".
A vitória não deu só a classificação ao Flu, mas também "paz" aos jogadores, que, na opinião de Yago, estão cada vez mais expostos por conta das redes sociais.
"Hoje em dia as coisas são muito rápidas com as redes sociais. A internet faz isso acontecer. Agora tem sempre uma foto, um vídeo, uma exposição da vida do jogador, então o atleta procura se preservar cada vez mais, se fecha em bolhas e acaba parecendo fora de uma vida normal, sem direito a uma vida social. A gente sabe que essa situação é resultado de muitas outras. A gente enumera muitas coisas, porque sabe que mexe com a paixão do torcedor, que por vezes perde um pouco a razão. Não vou falar que é um trabalho normal, obviamente. Estamos defendendo um escudo que tem toda uma história de titulos, uma camisa pesada e tem outras coisas por trás".
'Não' à vacina da Conmebol e preocupação com casos no River
O perfil resiliente de Yago encontra eco no elenco do Fluminense, chamado de "família" pelo jogador, e também nas posições do clube, principalmente durante o período de pandemia. Orgulhoso do posicionamento de todos, o volante também comentou a polêmica das vacinas disponibilizadas pela Conmebol para os clubes que disputam suas competições.
"O clube sempre adotou a postura de preservar a saúde, os atletas e as vidas. O futebol teve que voltar mesmo nesse tempo que ainda não passou. Minha torcida é para que a vacinação seja acelerada e alcance o máximo de pessoas o mais rápido possível. Não me sentiria bem, também, de tomar a vacina antes de quem mais precisa", afirma.
A exposição dos atletas ao vírus também foi destacada por Yago Felipe, cuja esposa, Ariana, entrou na fase final da gravidez de Aurora, primeira filha do casal. Preocupado, ele faz crítica sutil ao "circo" do futebol,
"Nós também estamos expostos, frequentamos aeroportos, viajamos, jogamos contra equipes que estavam com muitos casos, como foi o River Plate, agora. Nós ficamos preocupados. Minha esposa está grávida, e eu não quero contrair esse vírus trabalhando e levar ele para a minha casa, minha família, meus pais que já são mais velhos. É complicado".
Também por isso, Yago fez questão de perguntar ao colombiano Borré, destaque do River Plate, sobre a situação de saúde dele e de seus companheiros.
"Perguntei ao Borré, no jogo, como estava a situação. Graças a Deus ele me disse que estavam todos bem, que ele estava se sentindo bem. Não desejo para ninguém."
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