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Arana destrincha o Brasileirão e diz que faltou malandragem ao Galo em 2020

Henrique André

Do UOL, em Belo Horizonte

29/05/2021 04h00

Formado nas categorias de base do Corinthians, onde foi acionado por Mano Menezes aos 16 anos para integrar o time principal, titular com Tite e Fábio Carille e campeão brasileiro em 2015 e 2017, o lateral esquerdo Guilherme Arana atualmente enche os olhos da torcida do Atlético-MG. É o clube que ele defende desde o ano passado, quando retornou da Europa após passar por Sevilla-ESP e Atalanta-ITA. Amanhã cedo (30), ele estará entre os 11 de Cuca que estreiam na competição mais importante do país contra o Fortaleza, a partir das 11h, no Mineirão.

Titular absoluto em Minas, o paulista de 24 anos já fez 61 jogos e balançou a rede em nove oportunidades. Eleito o melhor da posição na edição passada, quando recebeu a tradicional Bola de Prata, ele viu o Alvinegro bater na trave e, por três pontos e alguns gols a mais, não ficar com o caneco, conquistado pela única vez em 1971. Os erros cometidos na temporada, inclusive, serviram de aprendizado para 2021.

"Perdemos alguns pontos que time que quer ser campeão não pode perder. Sabemos como é o campeonato. Às vezes o time que está na zona do rebaixamento ganha do primeiro colocado, e assim vai. Pecamos nisso. Deixamos de vencer partidas que talvez estariam controladas dentro de campo. Faltou um pouco mais de malandragem ali. Às vezes estávamos jogando melhor, tomávamos o gol, e ficávamos sem saber como reverter a partida. Isso pesou muito", explica Arana em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

"Sempre falo que se a gente não tomar gol, estará mais perto das vitórias. Desde o ano passado, a equipe do Galo cria bastante. Manter esta solidez na zaga é importante porque fortalece nosso time. Nas duas finais do Mineiro (dois empates em 0 a 0 com o América-MG), ganhamos porque não tomamos gol [o Atlético-MG tinha a vantagem de jogar por dois resultados iguais]. Temos que manter esta concentração alta para que melhore cada vez mais", acrescenta o jogador, que recentemente se tornou pai pela primeira vez; em 11 de abril nasceu o primogênito e xará Guilherme.

Arana e o filho Guilherme - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Arana com o filho Guilherme, que nasceu em abril e ainda não viu o Atlético-MG ser derrotado
Imagem: Reprodução/Instagram

Na rota certa?

Perguntado se a pressão por um título do Brasileiro pesa aos jogadores, ele rechaça. Apesar de poder completar 50 anos de jejum sem o caneco, o Atlético (diretoria, comissão técnica e atletas) acredita estar no caminho para, em breve, dar a tão sonhada volta olímpica.

"A gente se prepara e sabe o quanto a torcida almeja este título. A gente também quer bastante para entrar para a história do clube. Primeiro, temos que trabalhar, fazer o que o Cuca nos passa e pensar jogo a jogo. É assim que tem que ser. Não tem um peso. Temos que fazer o que a torcida pede, que é jogar com vontade. Ano passado eles pediram isso e a gente bateu na trave. Agora estamos mais calejados e sabemos que não podemos deixar pontos que estarão nas nossas mãos escaparem. Tenho certeza que faremos diferente", destaca o camisa 13.

Sampaoli x Cuca

No Brasileirão do ano passado, Arana e seus companheiros de time eram comandados pelo argentino Jorge Sampaoli, atualmente no Olympique de Marselha, da França. Apesar de figurar no G-4 na maior parte da competição e de ter sido vista com uma das maiores credenciadas ao título, a equipe cometeu erros que lhe custaram a glória maior, como derrotas para equipes da parte de baixo da tabela.

Com 68 pontos conquistados nas 38 rodadas, o Galo terminou em terceiro, ficando atrás de Flamengo e Internacional. Foram 20 vitória, 8 empates e 10 derrotas. O time fez 64 gols e tomou outros 45.

Com Cuca, contratado pelo clube em março, a equipe precisou de adaptar a um novo estilo de jogo. A preocupação maior do treinador e de sua comissão foi justamente em dar equilíbrio aos sistemas: continuar fazendo um número alto de gols, mas tomando menos, ainda é a maior missão. Perguntado sobre isso, Arana explicou a diferença de filosofias.

"São formas de trabalho diferentes. Com o Sampaoli eu jogava mais avançado e mais por dentro. O Guga jogava na linha de três. A gente [equipe] dava alguns contra-ataques que não deveríamos dar. Às vezes estávamos ganhando de 2 a 0 e mesmo assim sofríamos contra-ataques e tínhamos que correr para trás. Com o Cuca não. Com ele a gente já fica um pouco mais atrás e apoia. Não atuo mais por dentro como era com o Sampaoli. Ano passado absorvi uma função nova, na qual nunca tinha jogado, mas pela qual me senti muito bem. Procuro sugar tanto as características do Sampaoli, quando estava aqui, quanto as do Cuca, agora", destrincha o lateral.

Confira outros temas abordados com Arana nesta entrevista ao UOL:

Ano passado você recebeu a Bola de Prata do Brasileirão. Esse ano, tem grandes chances de disputar a Olimpíada pela seleção. É o melhor momento da sua carreira? Já está batendo um frio na barriga para estar em Tóquio?

Tive bons momentos em 2017 também, mas este ano é o mais especial por causa das convocações [em 2020 para a principal e 2021 para a olímpica]. Estar com a seleção olímpica e ter a chance de mostrar nesta última convocação antes dos Jogos dá um friozinho bacana sim.

Flamengo e Palmeiras seguem se reforçando e com elencos muito qualificados. O Grêmio trouxe Douglas Costa, o Inter Taison... os times do Nordeste também se reforçam e gastam o que nunca haviam desembolsado antes. Quem você acha que são os 5 times mais fortes do país atualmente?

As equipes estão se fortalecendo com grandes jogadores chegando. É bom porque se torna mais competitivo o Brasileiro. Os cinco favoritos, a meu ver, são o Galo, o Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Grêmio. Eu falei no domingo que a gente tem que se acostumar a vencer e a conquistar as coisas. O Galo tem que estar em primeiro em tudo.

O Brasileiro desta vez não será paralisado para a Copa América, por causa do calendário. Se fosse o contrário, seria benéfico para os clubes, pensando na sequência da competição? Jogadores gostam deste tipo de pausa?

Depende. São muitos fatores, porque também tem o desgaste. A gente aqui joga toda semana. Às vezes a parada faz bem porque a gente repõe as energias. O lado ruim é que, vai que estejamos voando e ter que parar. Já vimos isso acontecer. Mas nossa equipe é muito boa, assim como quem trabalha ali. Saberíamos controlar tudo isso.

Você nasceu em São Paulo, mas agora tem um laço eterno com Minas Gerais com o nascimento do seu primeiro filho. Já se sente em casa? Como tradurizia o Atlético Mineiro?

Me sinto em casa desde que cheguei aqui. Fui muito bem recebido. BH é uma cidade muito boa, de comida boa, que faz calor. O Atlético foi o clube que foi me buscar lá na Europa, que fez um investimento alto e que fez um investimento alto. Sou muito grato e espero retribuir ao clube.

Ainda faz parte dos seus planos voltar à Europa? Você se sente mais maduro e pronto para tal? Qual a diferença daquele Arana que foi para o Velho Continente para o de hoje?

Se aparecer alguma oportunidade, eu pensaria três vezes antes de ir. Da primeira vez, era tudo novo. Não pensei da forma ideal. Estou bem adaptado e feliz aqui, assim como a minha família. Se eu te falar que se aparecer algo eu vou, não. Vou pensar mil vezes. Foi o clube que investiu em mim e que tem a confiança no retorno que posso dar ao clube. Pegando seleção principal no ano passado e olímpica agora, o status já é outro, diferente. É preciso ter calma antes de decidir qualquer coisa.

Os jogadores já se acostumaram a jogar com estádios sem público? O fato torna todos os campos neutros ou jogar em casa ainda tem suas vantagens? Por outro lado, jogar fora, sem a pressão dos torcedores adversários deixa os times mais soltos e fortes?

É um pouco diferente. Ainda tive a sorte de pegar o Mineirão lotado no clássico, antes da paralisação. A gente já se acostumou a jogar sem público porque não tem outro jeito. Mas jogar fora se torna sim um campo neutro, por não ter torcida. Ali são 11 contra 11 dentro de campo. O mesmo aqui no Mineirão, com os adversários. Chegar no Mineirão, sem estar lotado, acabam não sentindo.

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