Crise financeira faz diretoria pedir mais dinheiro para torcida do Cruzeiro

Efeitos da pandemia causaram perdas financeiras gigantes para os clubes brasileiros, e no Cruzeiro o resultado desses impactos foi agravado pelo histórico da Raposa, rebaixada à Série B em 2019 e com rombos em seus cofres ao longo da última década. Desta forma, os dirigentes precisam usar a criatividade para encontrar meios de arrecadar fundos. Uma das alternativas da diretoria azul é pedir dinheiro ao seu torcedor. Este método vem por meio da campanha "CruPix", inspirada na nova metodologia de transferências bancárias utilizadas no país.

"Passando por um período de dificuldades financeiras, resultado especialmente de práticas questionáveis tomadas por parte de uma gestão que é alvo de investigação na Justiça, e com as complicações acentuadas pelo grave impacto causado pela pandemia de Covid-19 no mundo todo, o Cruzeiro não tem medido esforços para regularizar algumas pendências com seus colaboradores do time administrativo e atletas. E é justamente para essas pessoas, que têm trabalhado com muita dedicação ao clube neste momento desafiador, que o CruPix será aplicado pela Raposa", garantiu o clube, por meio de nota oficial.

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A intenção da diretoria é usar os recursos arrecadados por meio do "CruPix" para abater valores em atraso nas folhas salariais de funcionários e atletas. Há pendências do fim de 2020 — salários de outubro, novembro, dezembro e 13º —, além de férias e outros benefícios trabalhistas, conforme o UOL Esporte tem publicado desde o ano passado.

"A partir das doações feitas através da chave pix@cruzeiro.com.br, o Cruzeiro poderá quitar os vencimentos que ainda estão em aberto e destinar os recursos excedentes para o pagamento das próximas folhas salariais", diz outra parte da nota cruzeirense.

Não é a primeira vez que o Cruzeiro pede dinheiro aos torcedores. Em 2020, foi lançada a campanha "Operação Fifa", que tinha o objetivo de conseguir recursos para abater dívidas acumuladas por processos na entidade máxima do futebol. O Cruzeiro arrecadou pela ajuda de torcedores R$ 722.218,00, utilizados para quitar custas processuais e imposto de renda de negociatas internacionais. O valor foi apresentado no balanço patrimonial do ano de 2020 da Raposa.

"Para que o torcedor fique por dentro de todas as movimentações que serão feitas com os valores, o Cruzeiro colocará no ar na próxima semana uma página de transparência do CruPix. Além disso, sempre que alguma folha salarial for quitada com o dinheiro recebido, o clube também informará aos seus torcedores", mostra outra parte do comunicado no site oficial cruzeirense.

Além do CruPix e da Operação Fifa, o Cruzeiro pediu dinheiro também por meio da campanha "Centavos Celestes", que consistia em aproveitar parte dos gastos dos torcedores em compras por cartões de crédito.

E o próprio presidente do clube reconhece a baixa adesão ao programa.

"Rendem [programas como os Centavos Celestes], mas, infelizmente, aquém do esperado. Mas é aquela história do futebol, todo dia aparece alguém com a mágica. O Cruzeiro tem tantos torcedores, a gente cria esse produto, se 1% ajudar da X, Y, mas a matemática nunca é essa. Eu dei esse exemplo quando quiseram criar uma plataforma de doação pura e simples. A gente era contra, sempre quis fazer um produto. A torcida pediu, pediu, pediu, nós abrimos, arrecadamos R$ 600 mil [Na verdade pouco mais de R$ 700 mil]. É dinheiro? Óbvio, não estou reclamando. Mas, muito aquém do que todo mundo achava. A hora que arrecadar vai pagar tudo, porque são nove milhões de torcedores, cada um da R$ 1, são nove milhões de torcedores, dá R$ 9 milhões. Mas isso não funciona desse jeito. Então, tudo o que criou ainda existe, mas a arrecadação é um pouco aquém", disse em entrevista ao canal Clube Ligados na semana retrasada.

Questionamentos

Em mais uma tentativa de garantir com o torcedor um respiro financeiro, o Cruzeiro vê, neste momento, empecilhos. Algumas questões que os torcedores consideram como falta de transparência podem atrapalhar os planos do clube. A situação envolvendo os conselheiros que foram remunerados na gestão Wagner Pires de Sá — contrariando o estatuto da instituição — e que até hoje não teve um desfecho, é um desses problemas.