Enfim, Neymar: presença rara desde a Copa volta com mais responsabilidade
A seleção brasileira masculina principal jogou 26 partidas desde a Copa do Mundo da Rússia e Neymar, seu nome mais importante, só participou da metade. Os problemas médicos que acompanham a carreira do atacante nos últimos anos afetaram os planos de Tite, que se virou sem o protagonista e agora espera a chance de dar mais responsabilidade ao camisa 10 em campo.
A ideia da comissão técnica —que não é de hoje— é aproveitar mais do repertório ofensivo de Neymar. Ele normalmente joga como ponta pela esquerda, com velocidade e um contra um, mas os planos são de que tenha mais liberdade e aumente sua área de influência no ataque da seleção partindo às vezes do lado e às vezes do centro. Assim, o time tende a trocar mais passes em velocidade e criar mais chances de gol.
Como Neymar ficou disponível em só 13 jogos do ciclo de preparação para a Copa do Mundo do Qatar, Tite precisou criar dinâmicas de jogo sem contar com seu protagonista. Nos dois últimos jogos, Everton Ribeiro jogou centralizado e Firmino, como ponta do lado esquerdo, com Gabriel Jesus na direita e Richarlison de centroavante. Com a volta do camisa 10, a tendência é que Firmino ou Richarlison percam posição.
Neymar flutuará nas costas dos meio-campistas do Equador no jogo desta sexta-feira, às 21h30, pela sétima rodada das Eliminatórias. Livre, ele pode aproveitar os espaços gerados pelo jogo ofensivo do lateral-esquerdo Renan Lodi, que é quase um atacante quando a seleção tem a posse de bola. Além disso há a possibilidade de tabelas com os outros atacantes, algo que Neymar tem muita facilidade para fazer. Ele seria o homem da "penúltima bola", como já disse Tite.
No PSG, a área de influência de Neymar é partindo do centro para o lado esquerdo como um organizador com média superior a 80 passes por jogo no Campeonato Francês. Além dos nove gols que ele marcou na temporada 2020/2021 em 18 jogos, Tite vê com interesse as cinco assistências e quer Neymar "arco e flecha", como tem dito nos últimos tempos. Arco porque cria chances de gol e flecha porque finaliza e marca.
Neymar é um jogador que procuramos dar a bola no setor mais importante do gramado, próximo dos volantes adversários, porque ali ele é criativo, tem a finta. Não faz drible para malabarismo, faz para ir para o gol, para desequilibrar."
Tite, em 13 de outubro de 2020
Nos 13 jogos em que esteve em campo desde a Copa do Mundo pela seleção, Neymar soma seis gols e nove assistências — média superior a uma participação em gol por jogo. Nas próximas semanas, vai ter uma chance rara de aumentar as estatísticas caso nenhum novo problema físico atrapalhe: o Brasil tem dois jogos pelas Eliminatórias e depois a Copa América inteirinha pela frente, o que representa possíveis nove jogos em 36 dias.
Ontem, Neymar deu um susto durante o treino na Granja Comary depois de uma dividida com Danilo, mas ficou tudo bem.
Inteiro de corpo e alma?
Neymar está bem fisicamente, mas ganhou uma preocupação fora de campo nos últimos dias: a Nike disse ao "Wall Street Journal" que o jogador teve o seu contrato encerrado com a fabricante de materiais esportivos, em 2020, após um suposto caso de abuso sexual contra uma funcionária da empresa.
Segundo a publicação, Neymar foi denunciado em 2018 em um fórum organizado por lideranças da Nike para seus funcionários. Foi aberta uma investigação independente em 2019, de resultados considerados "inconclusivos" pela empresa, e o contrato com o brasileiro foi rescindido pela postura dele ao se recusar a cooperar com as investigações. O jogador nega, chama de "ataques infundados" e critica a Nike dizendo que não teve oportunidade de defesa da acusação e que foi traído pela empresa.
Apesar de o assunto não ter diretamente a ver com a seleção, há um conflito: Neymar é a principal estrela do time e a Nike é a maior e mais antiga parceira, desde 1995. Além disso, há o temor interno de perda de foco por parte do jogador, que chegou a postar fotos com o símbolo da empresa escondido e teve conversas com Juninho Paulista, coordenador da seleção. O saldo geral é que dá para separar as coisas.
A seleção quer Neymar inteiro — não só fisicamente — para manter os 100% de aproveitamento nas Eliminatórias e seguir numa caminhada confiável para o grande objetivo em 2022.
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