Jogadores da seleção estão insatisfeitos com a Copa América e cobram CBF
Danilo Lavieri, Gabriel Carneiro, Igor Siqueira, Jeremias Wernek e Rodrigo Mattos
Do UOL, em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre
03/06/2021 22h50
Em entrevista coletiva concedida hoje (3), em Porto Alegre, o técnico Tite se recusou a confirmar que a seleção brasileira jogará a Copa América marcada para começar em dez dias dentro do próprio país. Isso aconteceu porque há um movimento de insatisfação dentro do elenco que põe em dúvida a participação da equipe.
Tite afirmou que haverá um posicionamento formal de membros da seleção logo que acabar a rodada dupla de Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, com jogos amanhã (4) e na próxima terça-feira (8). Segundo apurou o UOL Esporte, esse desagrado por parte dos jogadores tem várias raízes e já há consequências reais, que é o silêncio do elenco. Havia cinco entrevistas coletivas de jogadores programadas para os três últimos dias e nenhuma foi realizada após a confirmação de que o Brasil será sede da Copa América.
Os jogadores se reuniram num primeiro momento com Tite e o coordenador da seleção, Juninho Paulista. Depois, solicitaram uma agenda com o presidente da CBF, Rogério Caboclo, que viajou do Rio de Janeiro a Teresópolis só para isso. O encontro foi realizado ontem (2), na Granja Comary, e uma das principais pautas foi a falta de diálogo da entidade com o grupo, já que a decisão de sediar a Copa América tornou a seleção e a própria CBF alvos de fortes críticas nos últimos dias. Houve questionamentos se não era possível mudar outra vez a sede.
Também existe o contexto da saúde, especialmente após a chegada a Porto Alegre. Há relatos de que a circulação de pessoas no hotel onde a delegação está hospedada saltou aos olhos. Entra nesta conta, por fim, a comunicação de líderes da seleção com jogadores estrangeiros que também disputariam a Copa América, mas externaram insatisfação por causa do cenário delicado da pandemia no Brasil. Aguero, hoje no Barcelona, foi um dos jogadores que se posicionou, assim como o técnico da seleção argentina, Lionel Scaloni, que definiu a situação como "alarmante".
Há nos bastidores a sensação de algumas pessoas próximas a atletas que o movimento de insatisfação em relação à Copa América não é exclusividade da seleção brasileira e uma grande ação organizada pode ser desencadeada desse desagrado. Nos bastidores da CBF a indicação é que trata-se de um problema grande e difícil de contornar. Em entrevista coletiva, Tite não esclareceu a posição interna, tampouco diminuiu a importância do gesto que virá.
"Nós temos a nossa posição firme e clara já determinada, mas no momento oportuno ela será externada" e "a opinião está muito clara, muito limpa, muito clean, e foi externada em conversa pessoal com presidente e comissão técnica (...) no término dessa data Fifa as situações vão ficar claras. Tu tem o meu compromisso" foram algumas de suas frases.
Depois de um pedido da Conmebol, a CBF recorreu ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o Brasil foi anunciado nesta semana como o novo anfitrião da Copa América, em razão de problemas sanitários e políticos envolvendo as sedes originais do torneio, Argentina e Colômbia.
O contato entre Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, e Caboclo ocorreu na noite de domingo. Às 6h de segunda-feira, o presidente da CBF iniciou as tratativas com Bolsonaro. A discussão não envolveu a parte técnica da seleção — jogadores e comissão.
A mudança de sede da Copa América gerou uma série de críticas, seja dentro da comunidade do futebol sul-americano, como de personalidades públicas brasileiras. Nos últimos dias, a Conmebol anunciou que Brasília, Cuiabá, Goiânia e Rio de Janeiro serão as novas sedes do torneio, que começa em 13 de junho. O país registrou hoje (3) 2.082 novas mortes por covid-19 e se aproxima da marca de 470 mil óbitos.
O presidente Caboclo foi consultado e não quis se manifestar.
No lado institucional da CBF, há ciência de que Caboclo vai precisar mostrar habilidade e se virar em um cenário que até agora não tinha encarado. Os movimentos recentes e anteriores para angariar apoio não tinham envolvido ainda uma saia justa dentro da seleção, mas se restringiam ao campo político.