Caboclo tenta se virar sozinho com crise na CBF e vê caos chegar à seleção
Uma sequência de passos tomados pelo presidente da CBF, Rogério Caboclo, desaguou em um cenário de absoluto caos político e, consequentemente, esportivo no produto mais rentável da entidade: a seleção brasileira.
O dirigente tomou as rédeas para contornar uma instabilidade interna e chegou a fazer movimentos de aproximação aos dirigentes das regiões Norte e Nordeste. Só que a decisão de trazer a Copa América para o Brasil foi o gatilho para uma erupção de problemas. É como se Caboclo tivesse caído em uma areia movediça. A cada movimento feito, mais afundado ele fica.
O polarizado debate político-partidário tomou conta do noticiário da seleção. Os jogadores se insurgiram internamente contra a forma de condução da candidatura brasileira ao torneio. A reboque, até a continuidade do técnico Tite e da atual comissão técnica fica incerta, como informou o colunista do UOL Esporte Andrei Kampff.
A tentativa do presidente da CBF foi se respaldar junto ao governo federal, pedindo apoio de Jair Bolsonaro em uma ligação que começou às 6h de segunda-feira. Ao mesmo tempo, apostou em um agrado ao presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, dizendo "sim" ao torneio que já tinha saído de Colômbia e Argentina. Mas se segurar nas duas pontas gerou repercussão onde não se esperava.
Caboclo se isolou. O secretário-geral da CBF, Walter Feldman, é o mais próximo que o presidente tem de um conselheiro. Feldman é político experiente. Caboclo, ao contrário, é um administrador que não gosta de meias palavras. É direto, mas acaba não cultivando um círculo volumoso para dividir responsabilidades na CBF.
Na quarta-feira, Caboclo e Feldman foram à Granja Comary antes da viagem da seleção brasileira para Porto Alegre, onde ela enfrenta o Equador na noite de hoje (4). Foi a oportunidade que a comissão técnica e os jogadores aproveitaram para transmitir diretamente ao dirigente a insatisfação com a condução da Copa América.
O presidente da CBF ouviu os líderes da seleção, como Casemiro e Neymar. O termômetro para a pressão social estava nas redes sociais de cada um deles. O UOL Esporte apurou que Caboclo argumentou: se os jogadores disputariam a competição de qualquer jeito, não seria melhor fazer isso em casa?
A crise só se inflamou. O descontentamento dos jogadores se tornou público no dia seguinte, na coletiva do técnico Tite. O treinador revelou o encontro no dia anterior e, mesmo sem dizer textualmente que o grupo estava insatisfeito, deixou nas entrelinhas que algo não estava bem. Ao mesmo tempo, assegurou o compromisso de todos de se concentrar no trabalho para as duas próximas partidas pelas Eliminatórias.
Como elemento anterior à confirmação da Copa América, há o vazamento de um áudio de uma conversa gravada em 2018, revelado pela ESPN. O atual presidente da CBF, à época diretor executivo de gestão, conversou com Edu Gaspar, coordenador da seleção, sobre o desejo de trocar peças na comissão técnica. Tite estava garantido, com aval de Marco Polo Del Nero — presidente anterior, já banido pela Fifa. Mas Caboclo falava em não seguir com os auxiliares Cleber Xavier e Matheus Bachi, além do preparador físico Fábio Mahseredjian. A emersão da gravação não caiu bem na comissão técnica atual.
A CBF tem oito vice-presidentes. Nenhum deles foi consultado antes de Caboclo dizer "sim" à Conmebol para receber a Copa América. Como o contato do presidente da CBF foi direto com Bolsonaro, não houve contato prévio com governadores dos estados. Isso aumentou o atropelo e a instabilidade sobre o torneio de seleções. Brasília, Goiânia, Cuiabá e Rio foram as capitais que abriram as portas para as partidas.
O distanciamento entre Caboclo e os vices é semelhante na movimentação para apaziguar a crise na seleção. A maioria não faz questão de se aproximar, até como forma de proteção para que as chamas da crise não atinjam mais alguém. Se Caboclo deu combustível ao caos, ele vai ter que controlá-lo. Será que consegue?
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