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Apoio a Tite e maior repertório foram frutos de ambiente tenso na seleção

Jogadores da seleção brasileira comemoram gol contra o Equador, vitória por 2 a 0 ontem (4) - Lucas Figueiredo/CBF
Jogadores da seleção brasileira comemoram gol contra o Equador, vitória por 2 a 0 ontem (4) Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

05/06/2021 04h00

Os jogadores e a comissão técnica da seleção brasileira estão insatisfeitos com a decisão da CBF de sediar a Copa América no país, mas decidiram tornar isso público somente depois do segundo jogo da rodada dupla das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, na próxima terça-feira (8). Não é que haja glamour na crise, mas existe uma sensação de que o ambiente tenso dos últimos dias contribuiu para a união do elenco e pode até ter ajudado no 2 a 0 sobre o Equador.

A vontade de fazer um gesto em apoio ao técnico Tite, que foi a única pessoa da seleção a falar com a imprensa desde a mudança de sede da Copa América, foi um movimento que partiu justamente desse processo interno de comunhão entre os jogadores, reforçado nas últimas horas. Em campo, Richarlison comemorou o gol aos 19 minutos do segundo tempo partindo para o abraço ao treinador junto com os companheiros.

O elenco está fechado com a comissão técnica, segundo apurou o UOL Esporte. O desconforto sobre a realização da Copa América e a ideia de que todos ficam em posição frágil quando o torneio vira uma discussão política são sentimentos compartilhados internamente. Quando Tite deu a cara na quinta-feira (3), os jogadores entenderam que deviam marcar posição em solidariedade a ele.

Por isso, discutiram como fazer isso, e a impressão geral é de que esse processo fortaleceu a união do vestiário, com trocas de ideia abertas dos mais experientes aos mais jovens entre os 25 convocados. Também há relatos de que alguns jogadores estão mais incomunicáveis ao longo desta semana, distantes das redes sociais, com a ideia de evitar mais cobranças públicas e xingamentos. Como consequência disso, mais próximos entre si no contato pessoal.

Mas também há uma dimensão esportiva deste ambiente tenso da seleção brasileira, que foi o foco no trabalho de campo. Tite tem se esforçado para que a crise dos bastidores não respingue no elenco, e sua comissão técnica bombardeou os atletas de informações, vídeos e análises sobre o Equador e como corrigir os problemas do time e melhorar algumas situações de jogo.

Tite e Matheus - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Tite e o auxiliar Matheus Bachi entre outros profissionais da comissão técnica
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Uma já tradicional reunião entre todos os auxiliares e analistas de desempenho da seleção em um quarto de hotel da delegação desta vez discutiu inclusive uma mudança tática que Tite aplicou em campo, que é atacar no esquema tático 4-2-4. Tudo já havia sido treinado nos dias anteriores, mas ajustes teriam sido pensados durante toda a preparação, inclusive nesta reunião.

A seleção costuma atacar no 2-3-5, mas o Equador dificultou demais as ações com uma marcação adiantada. Então, Tite sacou o volante Fred aos 16 minutos do segundo tempo e acionou o atacante Gabriel Jesus, que ficou alinhado com Richarlison, Neymar e Gabigol em uma formação com quatro homens de frente municiada pelos meio-campistas Casemiro e Paquetá. Deu resultado.

"Essa é a importância de contar com dois sistemas que já temos dominados, por isso optamos pela mudança", explicou ontem Matheus Bachi, um dos auxiliares de Tite, que em uma resposta posterior resumiu o espírito com o qual a seleção tenta se blindar em tempos de crise: "Esse grupo tem uma alma especial e gosta muito de estar junto."

O Brasil tem cinco vitórias em cinco jogos das Eliminatórias e enfrenta o Paraguai na terça-feira (8), às 21h30, no estádio Defensores del Chaco. Depois do jogo, atletas e comissão técnica prometem falar tudo o que está engasgado sobre a Copa América programada para começar cinco dias depois.