Portuguesa volta a jogar torneio nacional após 4 anos; técnico pede cautela
Em 15 de dezembro de 1996, um gol sofrido aos 39 minutos do segundo tempo encerrou o sonho de a Portuguesa sagrar-se campeã nacional. Desde então, a Lusa foi perdendo poderio ao longo dos anos e se afastando cada vez mais da elite do Campeonato Brasileiro - principalmente após o "caso Héverton", quando foi rebaixada por escalação irregular do meia.
Sem disputar uma competição de âmbito nacional desde 2017, o time paulista estreia hoje (5) na Série D do Nacional diante do Cianorte, às 19h, no Canindé.
O retorno a competições nacionais ocorreu graças à conquista da Copa Paulista de 2020, sob o comando do técnico Fernando Marchiori. Por ter ampla identificação com a Lusa - o ex-meia, hoje com 41 anos, foi formado nas categorias de base da equipe e ficou conhecido pelo apelido Fernandinho - pediu paciência e apoio dos torcedores neste processo de reestruturação do time.
"A Portuguesa estava no fundo do poço, literalmente, e iniciou uma reconstrução. Estava sem divisão [no Brasileirão] há quatro anos, chegou no ano retrasado numa Copa Paulista e nem se classificou na primeira fase. Temos que ter a planificação, planejamento e gratidão pelo trabalho que vem sendo feito. Começar a entender e olhar para o nosso futebol brasileiro de uma forma geral. Você pega hoje grandes exemplos, como Ceará, Fortaleza e Bahia, e olha a reconstrução que eles fizeram. Mudaram um pouco a sua filosofia, o conceito de entender as competições que joga", analisou, em entrevista ao UOL Esporte.
"A Portuguesa é um time grande? É um time grande, porém, no momento, ela não está grande. Por toda dificuldade que passa, por todo o orçamento que ainda é muito pequeno. Então, é uma busca de retomarmos a credibilidade, temos que ser conscientes. Temos que ser justos com as pessoas que estão abdicando de todo o seu tempo, como o nosso presidente [Antônio Carlos Castanheira]. Peço para que tenham discernimento e apoio aos que verdadeiramente amam esse clube", acrescentou.
Durante a briga para conseguir o retorno à Série A1 do Campeonato Paulista, a Lusa caiu nas quartas de final para o Água Santa, que ficou com o vice-campeonato. Marchiori aponta o elenco enxuto, com folha salarial de cerca de R$ 200 mil mensais, como percalço para enfrentar a maratona de jogos.
"Não temos uma equipe base porque temos jogos a cada dois dias, é desumano. É impossível você ter os 11 [titulares] definidos. Temos feito um rodízio muito grande, dependo muito dos departamentos de preparação física, de fisioterapia, médico e fisiológico. Em conjunto, conseguimos escalar a equipe. Além disso, vem o estudo também em cima do adversário e variamos a equipe jogo a jogo", comentou.
A entrevista de Fernando Marchiori com o UOL Esporte
UOL Esporte: Você chegou aos 483 dias no comando da Portuguesa, tem mais tempo que os técnicos dos 12 principais clubes do país. Por que você aceitou o convite em trabalhar na Lusa em um momento complicado?
Fernando Marchiori: Isso, dá um ano e três meses. Eu tinha acabado de ser desligado do Água Santa no Paulistão de 2020 e, uma semana depois, veio esse convite maravilhoso. Em 10 minutos, nós nos acertamos, aí entra o coração, a paixão, e eu achava que era o momento de eu tentar devolver alguma ajuda, somar com algum tijolinho e poder também participar desta reconstrução. A situação não era fácil, era difícil, e foi por amor mesmo, por carinho e gratidão a tudo o que eu tive oportunidade de viver nesse clube na minha infância para minha adolescência. Aqui não tem atraso de salários, não tem um dia de não comprometimento. Está sendo uma experiência maravilhosa essa tentativa de devolver a Portuguesa [à elite do Paulistão e do Brasileirão].
UOL Esporte: Você encerrou a carreira de jogador cedo, aos 30 anos, no futebol espanhol. Como começou a trajetória como treinador?
Fernando Marchiori: Havia recebido ofertas aqui do Brasil, mas alguns clubes tinham problemas financeiros, e eu não recebia. Como já estava com essa preparação [de ser treinador], tive uma oferta da colônia judaica que era semiprofissional. Era para ser treinador e, ao mesmo tempo, ajudar no escritório. Achei que era uma oportunidade de ouro. É uma colônia maravilhosa onde era semiprofissional, não teria aquela cobrança de uma forma exacerbada. Pude colocar em prática os treinamentos e me preparar com mais estudos.
UOL Esporte: Você é um admirador do futebol argentino. Por quê?
Fernando Marchiori: Gosto muito do espírito que eles têm, a disciplina tática. Encontrei isso neles nessas minhas passagens pela Europa [jogou na França pelo Istres e na Espanha por Córdoba, Puertollano e San Fernando]. Eles têm aquilo de competir, nós temos a técnica, temos jogadores qualificados, mas eu penso que falta esse pouquinho de espírito deles em alguns momentos, a raça (risos). Primeiro lugar, a nossa pátria amada, os nossos atletas. Mas se tiver esta mescla, essa mistura, fortalece bem.
UOL Esporte: Você domina o idioma espanhol e o francês. Como foi ter atuado na Europa?
Fernando Marchiori: Em dezembro de 2002, apareceu a oportunidade de ir para a França, onde fiquei oito meses. Mudou muito o meu conceito do futebol, comecei a entender e aprender outras coisas. Tinha muitos africanos, era um jogo mais rápido, um jogo de mais força, de mais potência. Ali, começou a abrir minha mente, muito porque eu já imaginava no futuro ser treinador. Isso me fez amadurecer muito, fazer algumas análises. No futebol brasileiro, naquele momento, se tinha mais espaço, era um futebol mais cadenciado, a técnica ainda prevalecia um pouco mais. Posteriormente, tive também uma experiência na Espanha, onde fiquei por quatro anos e meio, entre idas e vindas. Lá, pude jogar mais e, ao mesmo tempo, ir me preparando para essa minha situação de treinador. Fiz estágios no Cádiz, no Deportivo La Coruña. Fiz todo o meu curso de futebol base por dez meses. Fui me preparando mais, estava um pouco mais calejado. Foi um aprendizado muito grande.
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