Casemiro sonhou ser capitão e lidera seleção durante crise inédita na CBF
Casemiro tinha 15 anos quando o São Paulo foi finalista da Copa Nike, que é tipo um Mundial de Clubes para jogadores dessa idade. Comissão técnica e diretoria promoveram uma noite de pizza para brindar a chance de disputar um título contra o Barcelona. Só que o time brasileiro perdeu e o menino voltou no avião revoltado com os mais velhos por entender que quiseram comemorar antes da hora e isso tirou o foco.
É um episódio de muito tempo atrás, mas que ajuda a explicar como a personalidade de Casemiro foi moldada para agir como um líder. Segundo vários relatos que o UOL Esporte ouviu, o jogador que passou os últimos anos sonhando em ser capitão do Real Madrid e da seleção brasileira (e se preparando para isso) assumiu de vez essa responsabilidade em meio à turbulência da participação na Copa América, entre diálogo e cobranças.
Junto com Neymar, Casemiro é o segundo jogador que mais vezes foi capitão da seleção neste ciclo para a Copa do Qatar — só Daniel Alves supera a dupla. Aos 29 anos e dono de uma trajetória sólida no futebol europeu, isso é até natural. Mas foram fora de campo seus passos mais importantes, porque ele foi um dos responsáveis por organizar e dar significado a focos de insatisfação de vários jogadores sobre a mudança de sede da Copa América para o Brasil e levar essa pauta ao técnico Tite, ao coordenador Juninho Paulista e ao então presidente da CBF, Rogério Caboclo.
O grupo que reivindicou essas reuniões foi formado por ele, Neymar, Alisson, Thiago Silva, Marquinhos e Danilo em nome de todo o elenco. Mas coube a Casemiro como capitão do time na sétima rodada das Eliminatórias, contra o Equador, o papel de ser o rosto e a voz desse movimento. A avaliação da comissão técnica é de que foi a melhor escolha possível para dizer que não se aceitaria passivamente a decisão e o tratamento dado aos jogadores.
Todos sabem nosso posicionamento, mas não vamos falar desse assunto. Está mais claro impossível. Queremos falar, mas não queremos desviar o foco, porque isso [Eliminatórias] para nós é Copa do Mundo. Se é certo ou não cada um vai determinar, mas queremos expressar nossa opinião e nós iremos falar."
Casemiro, à TV Globo, em 4 de junho
Foi assumido um compromisso com o técnico Tite de manifestar publicamente as razões da insatisfação depois da rodada dupla das Eliminatórias e Casemiro cumpriu. A impressão geral é de que foi certeiro: uma confirmação de que não estava tudo normal sem quebrar o acordo.
O volante também é uma das pontas da busca por diálogo com capitães e referências de outras seleções na ideia de construir um posicionamento conjunto entre todos, mostrar solidariedade em relação ao cenário da covid-19 no Brasil, cobrar segurança sanitária e evitar a associação política da disputa da competição — algo que já não é mais possível.
Enquanto dialoga com colegas de time, comissão técnica, dirigentes, outros jogadores, mídia e estafe, Casemiro é reconhecido como um líder de fala mansa, mas que ouve todo mundo e não se esconde, tanto é que ao afirmar que o grupo estava fechado com Tite dissipou a ameaça de demissão e isolou ainda mais o presidente da CBF internamente, até o afastamento dele por um assunto diferente, que é a acusação de assédio sexual.
Por mais que o movimento dos jogadores não resulte em boicote à Copa América, a visão geral é de que, dentro do espaço do futebol, ao não aceitarem passivamente servirem de palanque para Caboclo foi dado um passo importante por valorizar a voz dos atletas.
Pronto para ser líder
Casemiro é titular incontestável do Real Madrid há cinco temporadas. Acumulou títulos além do tempo de casa e se prepara para ser capitão do time quando Sergio Ramos sair — o que pode acontecer em breve. Ele já é uma referência no vestiário, um líder. Só falta a faixa.
Quem convive diz que esse espírito de liderança é uma coisa da infância. Criado em situação precária e abandonado pelo pai, assumiu responsabilidades de homem quando menino para ajudar a mãe chefe de família no sustento e criação dos irmãos. Quando venceu essa fase veio um deslumbramento pelas vitórias no futebol. Só nos últimos anos é que atingiu uma espécie de equilíbrio.
Hoje ele tem acompanhamento físico e técnico de forma particular. Bruno Petri, que foi treinador do volante na base do São Paulo, é o responsável pelo aconselhamento em relação às questões dentro de campo no que chama de "personal coach": "Trocamos ideias sobre treinos que ele tem no Real, trabalhos que faz depois dos treinos e sobre os jogos em si, o que precisa melhorar. E o que eu vejo é que a idade tem feito bem a ele, parece que a cada dia quer trabalhar mais".
Segundo Petri, Casemiro "centrou a cabeça e ficou responsável" desde que chegou ao Real Madrid e agora traça metas anuais de evolução, como a de melhorar sua presença ofensiva, por exemplo, além de aspectos fora das quatro linhas, como ser capitão da seleção e do time espanhol. Para quem acompanha de perto, não há surpresa alguma no que se vê. Hoje, o capitão completa 50 jogos pela seleção.
FICHA TÉCNICA
PARAGUAI x BRASIL
Competição: Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar (8ª rodada)
Local: estádio Defensores del Chaco, em Assunção (Paraguai)
Data/Hora: 8 de junho de 2021, terça-feira
Árbitro: Patricio Loustau (ARG)
Assistentes: Ezequiel Brailovsky (ARG) e Gabriel Chade (ARG)
Quarto árbitro: Dario Herrera (ARG)
VAR: Mauro Vigliano (ARG)
PARAGUAI: Antony Silva; Alberto Espínola, Gustavo Gómez, Junior Alonso, Alderete e Arzamendia; Ángel Cardozo, Villasanti e Richard Sánchez; Almirón e Ángel Romero. Técnico: Eduardo Berizzo.
BRASIL: Alisson; Danilo, Éder Militão, Marquinhos e Alex Sandro; Casemiro, Lucas Paquetá e Everton Ribeiro; Gabriel Jesus (Gabigol), Richarlison e Neymar. Técnico: Tite.
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