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Jogadores divulgam manifesto contra Copa América, mas negam boicote

Do UOL, em São Paulo

09/06/2021 00h30

Jogadores da seleção brasileira masculina principal divulgaram logo após a rodada dupla das Eliminatórias para a Copa do Mundo do Qatar um manifesto em suas redes sociais em que se dizem contra a realização da Copa América, marcada para começar em quatro dias, no Brasil. Eles usaram os Stories do Instagram para publicação de um texto em que reiteram oposição à competição, mas sem boicote.

"Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à seleção brasileira", pontuaram os convocados, em comunicado após a vitória sobre o Paraguai, por 2 a 0, em Assunção.

A nota dos jogadores do Brasil corrobora o tom de insatisfação com a polarização política da qual a seleção passou a fazer parte desde que o técnico Tite revelou a reunião com o então presidente da CBF, Rogério Caboclo. "É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política", disseram eles.

O grupo não cita diretamente o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), nem a diretoria da CBF, que tem atribuições na organização da competição. A entidade citada é apenas a Conmebol, a confederação sul-americana.

Mais cedo, após a vitória sobre o Paraguai, o zagueiro e capitão Marquinhos reforçou a ideia de o grupo não teria cogitado abandonar a seleção para boicotar a Copa América.

Sabemos todo o contexto da Copa América. Então, creio que foi muito discutido nesses últimos dias internamente e externamente. Vemos tudo que as pessoas falam sem saber a verdade. Deixamos claro que em nenhum momento os jogadores se negaram a vestir essa camisa. É nosso sonho de criança e hoje estamos aqui. É o maior orgulho. A gente fez o que tinha que fazer, dois jogos que eram foco, e vamos ver o que será decidido, existe uma hierarquia. Somos cientes do nosso papel."

Hoje (9), o técnico Tite vai anunciar a lista dos jogadores que disputarão a Copa América. A estreia da seleção é no domingo, contra a Venezuela, em Brasília.

Tensão antes da Copa América

Os jogadores da seleção brasileira já haviam sinalizado para a CBF a decisão de que iriam atuar na Copa América. Mas prometeram este manifesto com crítica à realização do torneio no Brasil. O afastamento do presidente da confederação, Rogério Caboclo — denunciado por assédio sexual —, reduziu a tensão entre o time e a cúpula da entidade. Pesou também na decisão deles que dirigentes garantiram ao técnico Tite sua permanência.

A diretoria remanescente na CBF tratou de lidar diretamente com o treinador para reforçar o compromisso pela continuidade no trabalho e, ao mesmo tempo, tirar dele a desconfiança gerada pela condução da CBF com Rogério Caboclo.

O coordenador de seleções, Juninho Paulista, também foi acionado para contornar a história. De outra parte, houve um trabalho para aliviar a relação com os atletas e garantir que jogassem a Copa América. Nunca ficou claro se a oposição dos jogadores ao torneio de fato levaria ao boicote. De todo modo, o comando atual da CBF não se opôs ao protesto que está sendo articulado dentro do vestiário.

Na semana passada, o clima era bem tenso entre as partes. Isso se reduziu com a saída de Rogério Caboclo da presidência, após decisão da comissão de ética.

Pessoas ligadas aos jogadores indicaram ao UOL que o boicote à Copa América sempre foi uma opção extrema caso Caboclo não mudasse de postura. E também há a preocupação de não carregar a postura dos convocados na direção de um debate político-partidário.

Leia a íntegra da nota:

"Quando nasce um brasileiro nasce um torcedor. E para os mais de 200 milhões de torcedores escrevemos essa carta para expor nossa opinião quanto à realização da Copa América.

Somos um grupo coeso, porém com ideias distintas. Por diversas razões, sejam elas humanitárias ou de cunho profissional, estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil.

Todos os fatos recentes nos levam a acreditar em um processo inadequado em sua realização.

É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política. Somos conscientes da importância da nossa posição, acompanhamos o que é veiculado pela mídia e estamos presentes nas redes sociais. Nos manifestamos, também, para evitar que mais notícias falsas envolvendo nossos nomes circulem à revelia dos fatos verdadeiros.

Por fim, lembramos que somos trabalhadores, profissionais do futebol. Temos uma missão a cumprir com a história camisa verde amarela pentacampeã do mundo. Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à seleção brasileira."