Cruzeiro: Presidente se retrata após desdém por protesto e ameaça de tiro
Os bastidores do Cruzeiro estão em chamas novamente e o presidente do clube ainda mais pressionado pelos torcedores, que pedem a saída do dirigente do cargo. Hoje (14), Sérgio Santos Rodrigues se pronunciou oficialmente sobre fatos acontecidos no último fim de semana. O mandatário da Raposa falou sobre o protesto que reuniu centenas de pessoas na porta da Toca II pedindo sua renúncia — no sábado — e dos áudios que vazaram nas redes sociais. Nestas mensagens o presidente desdenhava das manifestações e usou palavrões em conversa com a torcida.
"Quanto às manifestações dos últimos dias, acompanhei de perto. Escutei com muito respeito. Sabemos que nem todos são de coração ou isentos de interesses políticos internos do clube ou dos bastidores do universo do futebol, mas não cabe a mim julgar. Cabe ao presidente do Cruzeiro respeitar aos que protestam com o coração", disse.
"Quanto aos áudios editados e publicados, tenho duas explicações. A primeira é dizer que também acho impróprias palavras e expressões expostas. Eu ou qualquer outra pessoa podemos mudar a forma de dizer algo quando estamos num ambiente informal e quando acreditamos estar em uma conversa franca com pessoas que damos confiança e respeito. Eu dei. Recebi e conversei abertamente com diversos grupos de torcedores recentemente, por várias horas, em nossa sede", completou.
Áudios
Os áudios aos quais o presidente do Cruzeiro se refere foram dois, gravados por torcedores em um encontro recente do dirigente com membros de grupos influentes na torcida e com organizadas. Em um desses, Sérgio Santos Rodrigues menospreza os protestos da torcida com palavras de baixo calão e ignora os pedidos de renúncia.
"Pelo contrário. Sabe por quê? Porque o que está na reta aqui, o mais de todos é o meu. Eu falei hoje, eu não saio, mesmo, até dezembro de 2023. 'Nego' achar que vai renunciar, protesto e o caral?? Eu estou cag? pra isso. Sabe por quê? Eu tenho (inaudível) patrimônio meu aqui. Você acha o que?", disse usando termos chulos.
No segundo áudio vazado o presidente chega a citar a palavra tiro. Na última semana houve manifestação na porta da residência do presidente, com bombas e fogos de artifício. Apesar do movimento, Sérgio e sua família não estavam em casa. Depois da eliminação do Cruzeiro na Copa do Brasil, no começo da última semana, o mandatário da Raposa não voltou para Belo Horizonte.
"A Fernanda [esposa do presidente] é preocupada, acha que vai gente lá em casa. Podem vir, os tiros vão ser de cima pra baixo, não tem problema algum", ameaçou o presidente na conversa.
Justificativa
Como justificativa, Sérgio Santos Rodrigues disse que o áudio foi tirado do contexto. "Em segundo lugar, lamento ver que essas expressões ditas no calor de uma conversa informal tenham sido usadas fora do contexto. Como, por exemplo, ver a narrativa de me tornarem uma pessoa violenta, quando na verdade respondia a insinuação de violência contra minha esposa e filhos, mulher e crianças. Mas vou me limitar a lamentar o fato e, de novo, desculpar-me com todos que se indignaram ao escutá-las, mesmo não sabendo de todo o assunto falado e do intuito que foram divulgados curtos trechos de uma longa conversa", explicou.
Isolado
Sem apoio da torcida, que perdeu a paciência com o cartola, Sérgio Rodrigues está isolado e sem parcerias de outrora. Empresários fortes no mercado da bola ignoram o dirigente e não fazem mais negócios com o Cruzeiro. André Cury, um dos mais influentes no mundo, é um desses. Inclusive, vazou no fim de semana um áudio do agente ignorando pedido de ajuda feito pelo diretor técnico Deivid.
"Amigo, acho que vocês vivem em outro mundo!!! Fazem sacanagem com as pessoas e ainda querem pedir ajuda?", disparou Cury.
Além disso, Pedro Lourenço, empresário do ramo supermercadista em Minas Gerais, e mecenas que injetava dinheiro no Cruzeiro, rompeu ligações com Sérgio Santos Rodrigues, que terá o seu trabalho cada vez mais dificultado pela falta de apoio.
Leia na íntegra a carta escrita pelo presidente do Cruzeiro
Carta aberta do presidente Sérgio Santos Rodrigues aos torcedores do Cruzeiro
Bom dia, Nação Azul
Antes de tudo, minha posição é de desculpas diante de toda essa lamentável sequência de fatos ocorridos, dentro e fora de campo. Sou muito grato por ser presidente do Cruzeiro e jamais farei desse momento delicadíssimo de nossa história, que herdamos de 2019 e se arrasta até os dias atuais, palanque para esconder erros ou jogar mais gasolina num corpo em combustão. Mesmo porque são poucos os dispostos a apagar esse incêndio sem pedir algo em troca. O que torna o nosso compromisso ainda mais difícil.
Quanto às manifestações dos últimos dias, acompanhei de perto. Escutei com muito respeito. Sabemos que nem todos são de coração ou isentos de interesses políticos internos do clube ou dos bastidores do universo do futebol, mas não cabe a mim julgar. Cabe ao presidente do Cruzeiro respeitar aos que protestam com o coração.
Aproveito para divulgar que em breve vou dar uma entrevista para que possa esclarecer ao máximo dúvidas e desconfianças. Sejam da arquibancada, das organizadas, grupos ligados a conselheiros, do interior de Minas Gerais e de qualquer lugar do mundo onde estiver um cruzeirense.
Quanto aos áudios editados e publicados, tenho duas explicações. A primeira é dizer que também acho impróprias palavras e expressões expostas. Eu ou qualquer outra pessoa podemos mudar a forma de dizer algo quando estamos num ambiente informal e quando acreditamos estar em uma conversa franca com pessoas que damos confiança e respeito. Eu dei. Recebi e conversei abertamente com diversos grupos de torcedores recentemente, por várias horas, em nossa sede.
Em segundo lugar, lamento ver que essas expressões ditas no calor de uma conversa informal tenham sido usadas fora do contexto. Como, por exemplo, ver a narrativa de me tornarem uma pessoa violenta, quando na verdade respondia a insinuação de violência contra minha esposa e filhos, mulher e crianças. Mas vou me limitar a lamentar o fato e, de novo, desculpar-me com todos que se indignaram ao escutá-las, mesmo não sabendo de todo o assunto falado e do intuito que foram divulgados curtos trechos de uma longa conversa.
Pessoal, desde que entramos, estamos lutando pra trazer recursos e reerguer o Clube. E compreendo os que discordam das ações e opções que fizemos até o momento para recuperar o Cruzeiro.
Eu nunca disse que seria fácil e também já disse que erramos, mas sempre tentando o melhor, trabalhando dia, tarde e noite. Falamos diversas vezes da difícil rotina de contratempos e dívidas. Mas mesmo assim conseguimos superávit de R$ 33 milhões em nossa gestão até o momento.
Àqueles que me julgam arrogante, saibam que desde o primeiro dia eu tenho buscado o diálogo e ajuda de vários cruzeirenses e agentes do esporte, sejam torcedores, empresários, sócios, imprensa, conselheiros, dirigentes. Procurei e recebi muita gente. E saibam também que existem boicotes a quem luta contra o sistema instaurado em 2019. Mas eu jamais vou desistir.
O Cruzeiro não é meu, nem de grupo nenhum. O Cruzeiro é de todos os seus 9 milhões de apaixonados.
Seguirei lutando, trabalhando, tentando evitar erros e pedindo que nunca deixem de confiar no Cruzeiro, mesmo que não gostem de mim, que me julguem por isso ou aquilo, ou a qualquer outro dirigente. Pois boicotar ou implodir o nosso Clube é tudo que querem os inimigos (e falsos amigos) desse Gigante Azul.
Um abraço!
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