Advogados explicam clube-empresa, projeto tido como salvação do Cruzeiro
O Projeto de Lei que trata da criação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e que tramita no Congresso Federal tem sido o assunto que movimenta os bastidores do Cruzeiro, clube imerso em dívidas impagáveis por gestões temerárias nos últimos dez anos e com rombo histórico de quase R$ 900 milhões. Tratado como a salvação da Raposa, o "clube-empresa" gera algumas dúvidas nos torcedores. Por isso, o UOL Esporte procurou respostas para algumas perguntas que frequentemente são publicadas nas redes sociais.
Especialistas responderam questionamentos que interessam não só aos cruzeirenses, mas também a outros torcedores que se mostram mais curiosos e ávidos por respostas sobre o este modelo de gestão.
Qual o ponto alto da migração do modelo associativo sem fins lucrativos para o clube empresa? Segundo o advogado especializado em direito esportivo, Eduardo Carlezzo, o Projeto de Lei é abrangente e engloba todos os aspectos para a transformação dos clubes em empresas. "A possibilidade de equacionamento das dívidas é um ponto alto, já que é algo bastante importante hoje no futebol nacional, e são estabelecidos vários instrumentos para isso", comentou.
A questão relacionada à troca de identidade, com mudança de nome, cores, escudos, dentre outros, também é motivo de grandes dúvidas. Porém, na visão de Carlezzo isso não deve ser um "bicho de sete cabeças para o torcedor".
"O Projeto de Lei estabelece que a Sociedade Anônima do Futebol vai suceder o clube com relação à marca, imagem, cores, etc. A partir do momento em que isso é transferido para a empresa, as eventuais mudanças dependerão sempre do consentimento da antiga associação. Portanto, há uma proteção de, caso no dia de amanhã, um investidor que seja dono da SAF resolva fazer estas mudanças", esclarece o especialista.
Gestão profissional
Vittorio Medioli, ex-CEO do Cruzeiro quando o Conselho Gestor geriu o clube — do fim de 2019 até o fim do primeiro semestre de 2020 — disse em entrevista recente que o modelo de clubes está falido no mundo inteiro. E, como práticas temerárias de gestão nos clubes demoram a ocasionar punições aos responsáveis, ou até mesmo terminam em "pizza" — sem resolução —, o clube-empresa mudaria esse patamar. Responsabilizando civil e criminalmente quem cometer delitos ou gestão irresponsável.
"Ambos — mais investimento e melhor gestão — são fundamentais para o desenvolvimento do futebol profissional. Como em qualquer empresa, o patrimônio investido pelos sócios responde pelas falhas da gestão. Esse é o maior incentivo para eficiência", garante Pedro Trengrouse, advogado especialista em gestão esportiva da Fundação Getúlio Vargas, e que comunga com os pensamentos de Carlezzo.
S.A. é a solução?
O empresário Aquiles Diniz, ex-sócio de Rubens Menin, mecenas do Atlético-MG, no Banco Inter, apresentará ao Cruzeiro um projeto de captação de recursos no mercado se a Raposa migrar do modelo associativo para o clube-empresa. Diniz pensa em aportar nos cofres celestes pelo menos R$ 500 milhões, como reportagem do UOL elucidou nos últimos dias.
"O clube pode pensar em abrir capital e atrair investimentos com segurança jurídica, enquanto clubes associativos têm muita dificuldade para planejamento de médio e longo prazo pela instabilidade de eleições periódicas em que compromissos da gestão anterior muitas vezes são descumpridos sem nenhuma grande consequência, além do aumento da fila de credores", esclareceu Trengrouse.
Dados de mercado
Segundo um estudo elaborado pela consultoria Ernst & Young, 96% das 202 equipes da primeira e segunda divisão da Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália são entidades privadas. Apesar desse modelo de gestão estar consolidado nas principais ligas europeias, o Brasil ainda engatinha nesse aspecto. Dos 40 clubes que compõem a Séries A e B do Brasileirão, somente dois possuem formato empresarial: Cuiabá e Red Bull Bragantino.
Outros clubes
O vice-presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, exalta as principais vantagens da gestão de um clube nos moldes empresariais. "É menos burocrática na tomada de decisões e mais cuidadosa e responsável com os próprios gastos. O clube-empresa tem um dono e ele vai responder diretamente pelos prejuízos caso o clube venha a ter".
O Cuiabá pertence aos Dresch desde 2009 e, com isso, a família administra o clube municiada pelos investimentos da Drebor, fabricante de material utilizado por recapeadores de pneus, que foi fundada há pouco mais de 30 anos.
Já o Botafogo de Ribeirão Preto, cidade localizada no interior de São Paulo, é outro modelo de clube-empresa. Há três anos o time migrou de modelo administrativo e desde então é gerido 60% pelo próprio clube e 40% pela Trex Holding, empresa de investimentos comandada por Adalberto Baptista.
Em Minas Gerais, o América-MG é outro clube que se interessa pelo clube-empresa, mas em uma administração mista, ainda com a existência da associação, mas com o futebol ficando 100% nas mãos da empresa.
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