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Buffon conviveu com acusações de fascismo na primeira passagem pelo Parma

Buffon causou polêmica ao usar o número 88 na época em que jogava no Parma - Claudio Villa/Getty Images
Buffon causou polêmica ao usar o número 88 na época em que jogava no Parma Imagem: Claudio Villa/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

18/06/2021 04h00

Gianluigi Buffon está de volta ao Parma, primeiro clube de sua carreira e onde conquistou três títulos. Foi lá também que o goleiro conviveu com acusações de ser ligado ao fascismo italiano após dois momentos polêmicos.

O primeiro aconteceu em setembro de 1999, em um jogo contra a Lazio. O goleiro exibiu em sua camisa a frase "boia chi molla", que seria algo como "quem desiste é um assassino dos seus próprios companheiros" em português. Os dizeres se popularizaram no período em que a Itália foi comandada pelos fascistas, durante a Segunda Guerra Mundial, e até hoje é usada por grupos de extrema direita no país.

Pouco tempo depois, Buffon causaria uma nova polêmica. Ele decidiu usar o número 88 na temporada 2000/01. A comunidade judaica de Roma acusou o goleiro de ter feito a escolha por motivos nazi-fascistas. "88", referência à oitava letra do alfabeto, é o jeito que os nazistas usavam e ainda usam para esconder "Heil Hitler" (Salve, Hitler), saudação usada durante o regime do ditador nazista Adolf Hitler.

Depois da segunda polêmica, Buffon organizou uma entrevista coletiva para se explicar. Em relação à frase "boia chi molla" disse que não conhecia a origem da expressão. "Quando vesti aquela camisa, eu fui estúpido porque não sabia que era uma frase usada pelo regime fascista".

Buffon trocou o número 88 pelo 77 depois de ser acusado de fazer apologia ao nazismo - Claudio Villa/Getty Images - Claudio Villa/Getty Images
Buffon trocou o número 88 pelo 77 depois de ser acusado de fazer apologia ao nazismo
Imagem: Claudio Villa/Getty Images

A explicação do goleiro para o "88" era pelo número significar quatro bolas, e seria um símbolo de seu renascimento no futebol. Naquela época, Buffon se recuperava da lesão que o tirou da Eurocopa de 2000. Na mesma coletiva, o goleiro do Parma anunciou que deixaria a numeração e passaria a usar o "77".

Em uma carta escrita no site "The Players Tribune" a ele mais jovem, Buffon relembra a polêmica com a frase fascista. "Quando você for um jovem jogador do Parma, você vai fazer algo bem ignorante que irá te marcar. Antes de um jogo grande, você vai buscar fazer um grande gesto para mostrar a todos os seus companheiros de times, e também para a torcida, que você é um líder, é corajoso, tem uma grande personalidade", escreve.

"Então, você vai escrever uma mensagem na sua camisa, que você já havia visto uma outra vez, em uma mesa, quando estava na escola. Você vai achar que é apenas um grito motivacional. Você não sabe que este é o slogan dos fascistas da extrema-direita. Este é um dos erros que irão causar muita dor para a sua família. Mas estes erros são importantes, porque eles irão te lembrar que você é humano", prosseguiu.

Ainda que tenha justificado os atos e negado qualquer motivação fascista, Buffon sempre conviveu com as marcas de seus atos. Em entrevista à revista "Vanity Fair" italiana, a mulher do goleiro, Ilaria D'Amico contou que, antes de conhecê-lo, achava que Buffon não passava de um fascista imaturo.

"Gigi era, para mim, uma mistura indefinida entre um grande campeão e um imaturo, se não um fascista, porque, uma vez, no Parma, usou uma camiseta escrita 'Boia chi molla'. Com certas celebridades acontece sempre assim. A m* que você faz quando é jovem assume uma dimensão tal que fica sendo a sua imagem para as pessoas ao longo dos anos, sobretudo se você for reservado e não falar com a imprensa", disse.

Mais de 30 anos mais velho que o jovem que se envolveu em polêmicas, Buffon volta ao Parma para o provável último capítulo de sua vitoriosa carreira. O goleiro terá como missão ajudar o clube que o revelou para o futebol a voltar à elite italiana.