Quando o comentarista Domênico Gatto chamou os clubes do Nordeste de "lixo", Arthur Cabral não se calou. Brasileiro com mais gols na última temporada do futebol europeu, o atacante de 23 anos, ídolo da torcida do Ceará, usou as redes sociais para defender os clubes da região.

Nascido em Campina Grande, na Paraíba, Arthur Cabral sempre teve de enfrentar comentários do tipo. Em entrevista ao UOL Esporte, o atacante do Basel, da Suíça, contou que pessoas o diziam para "voltar ao Nordeste para comer rapadura", por exemplo.

Relacionadas

Domenico Gatto é alvo de provocações após queda do Palmeiras: "Castigo?"

Arthur Cabral comenta passagem curta pelo Palmeiras: "Faltou oportunidade"

"A questão é que eu nunca deixei isso entrar na minha cabeça. Eu sou do Nordeste, paraibano, e nós somos um povo muito unido. Nós somos fortes, nós passamos pelas dificuldades. Eu quero o Nordeste sempre no topo e quero que os times se profissionalizem ainda mais", disse.

Na temporada 2020/2021, Arthur Cabral ganhou destaque por ser o brasileiro com mais gols na Europa, superando nomes como Neymar. O atacante balançou a rede 20 vezes em 35 partidas. Foram 18 gols no Campeonato Suíço, terminando como vice-artilheiro, e mais dois nas fases preliminares da Liga Europa.

"Eu já vinha de uma boa temporada aqui no Basel. Não acho que fiz as coisas de um jeito muito diferente, mas continuei trabalhando com muita intensidade para entrar em campo melhor. A cada temporada estou melhorando, fazendo mais gols e tendo mais oportunidades. Eu espero ter um ciclo ainda melhor agora".

As primeiras memórias de Arthur Cabral já mostram sua vontade de balançar a rede. Aos 4 anos, ele viu a seleção brasileira ser pentacampeã do mundo e foi levado para fazer um corte de cabelo igual ao de Ronaldo Fenômeno.

"Para falar a verdade, não tenho muitas memórias de 2002. Era muito novo. Mas essa história do Ronaldo sempre me chamou a atenção, embora não tenhamos fotos disso. Sempre fui um grande fã dele e tentava acompanhá-lo sempre que possível. Usava a 9 por causa dele, jogava videogame com o time em que ele estava. Sempre admirei bastante", contou.

O atacante do Basel sonha em repetir o ídolo e vestir a camisa da seleção. Ele tinha expectativas de estar na equipe que disputará as Olimpíadas, mas não fez parte dos selecionados por André Jardine. Nada que o impeça de continuar olhando para frente.

"Um dos meus sonhos é jogar uma Olimpíada. Se não fui convocado agora, ainda terei outras oportunidades e vou torcer muito por todos os jogadores. Que tragam o segundo ouro para a gente. E também quero jogar pela seleção principal. Já trabalho para isso. Quem sabe participo de uma Copa do Mundo? Seria muito bom".

Arthur começou jogando futsal em Campina Grande. Depois, chegou às categorias de base do Ceará e se profissionalizou pelo clube. O auge veio em 2018, quando fez 24 gols em 55 jogos e foi artilheiro da Copa do Nordeste.

"O jogador do Nordeste sofre com a estrutura quando é mais novo, mas também batalha muito para chegar onde quer. Hoje recebo o carinho da torcida do Ceará e de outros times da região, até mesmo do Fortaleza, que é rival direto. Eu sempre quis fazer história nos times em que passei, e o Ceará é um lugar que vou guardar para sempre comigo".

Na temporada seguinte, Arthur se juntou ao Palmeiras e não conseguiu repetir o sucesso. Foram oito meses, mas só seis jogos e um gol. Ao chegar a um time que havia sido campeão brasileiro em 2018, o atacante teve um pouco de dificuldade para achar seu lugar no elenco.

"Eu queria ter feito mais no Palmeiras, mas estava lesionado no começo de preparação, e aí ficou mais difícil de acompanhar. Faltou uma sequência justamente por isso, mas posso dizer que aprendi muito no clube. Eram muitos campeões me aconselhando, dando dicas, ensinando? São coisas que estou levando para a carreira até hoje".

Atacante do Bahia, Gilberto, artilheiro do Campeonato Brasileiro, também é nordestino. Roberto Firmino e Everton representam a região no Brasil de Tite, e Santos, Daniel Alves e Matheus Cunha fazem o mesmo na seleção olímpica.

"É por isso que lutamos. Para bater no peito e dizer: 'Eu sou do Nordeste sim, com muito orgulho'. Isso ajuda o nosso povo, a nossa região", disse.